O dilema de sair de casa
Todo mundo fica com um baita frio na barriga na hora de deixar a casa dos pais, seja para se mudar para uma república no interior, na capital ou para morar sozinho. Saiba como são esses novos lares e veja qual seria a opção ideal para você
Por Ana Prado
(Foto: Bruno Gabrieli)
Você pode não ter entrado em uma universidade perto de onde mora ou então a melhor opção estava em outra cidade. São vários os motivos que fazem estudantes deixar a casa dos pais quando passam no vestibular.
Essa realidade, que pode ser dura e crua mas, se bem administrada, se torna um enorme passo rumo à maturidade, é um tanto complexa e assusta bastante quem está prester a mudar bruscamente o dia a dia. Pensando nisso, o GE conversou com quem está passando por essa situação e listou algumas dicas para ajudar você na hora de se decidir.
Morando em república
João Augusto Anfe veio de São João da Boa Vista, interior paulista, para fazer o curso de Design Gráfico da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). Para ele, não havia outra opção que não fosse se mudar: além de decidir que esse era o melhor curso, ele viu que teria mais oportunidades no mercado de trabalho estando na cidade de São Paulo.
João Augusto encontrou uma república na capital por meio de uma amiga, onde ficou por dois anos e meio morando com outros três estudantes. A república foi desfeita e hoje ele mora com outra amiga, também estudante, em um apartamento na Consolação.
Ele teve de aprender na prática várias coisas – desde a comida certa que faz menos sujeira até a melhor forma de controlar os gastos. “O custo de vida em São Paulo é muito mais alto do que no interior. Além disso, como não tem ninguém te olhando, é preciso ter mais cuidado ainda, senão você gasta mais do que deveria”, diz ele, que, além da bolsa que recebe pelo estágio, conta com uma ajuda dos pais.
Ao todo, João Augusto diz gastar cerca de R$ 1000 por mês. A conta inclui gastos com aluguel, contas, alimentação, faxineira e passeios.
República no interior
Quem faz o caminho oposto, saindo de uma cidade grande para ir ao interior, pode gastar menos. Carlos Eduardo Baldini é um dentre tantos exemplos. Ele deixou Osasco (Grande São Paulo) para estudar na Unesp de Jaboticabal, e mora hoje numa república com mais 10 pessoas.
O estudante diz que o custo de vida na cidade é bem menor que o da capital. “Jaboticabal é bem diferente. São Paulo é sem dúvida muito mais completa em termos de infraestrutura e opções de lazer. Aqui há poucas opções para sair de noite, mas isso é compensado pelo fato de Ribeirão Preto estar a apenas uma hora de distância”. Ele gasta cerca de R$ 420 por mês para se manter, menos da metade do que João Augusto desembolsa na capital paulista.
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Moradias mais baratas
Conjunto Residencial da USP (CRUSP)
Para aqueles que não têm condições de gastar muito, algumas universidades têm programas específicos que concedem bolsas-auxílio ou moradias após uma avaliação socioeconômica. Por exemplo, a Universidade de São Paulo (USP) possui o programa de apoio à permanência e formação estudantil, que provê ajudas como o apoio-moradia (vaga no Conjunto Residencial da USP – o Crusp), o auxílio-moradia (R$ 300 mensais, por até12 meses) e o apoio-transporte (R$ 150 mensais), que variam de acordo com o campus. Em São Paulo, o Crusp dispõe de cinco blocos com 772 vagas ao todo para alunos de graduação. Há um alojamento coletivo para quem aguarda o resultado da seleção da moradia (os calouros são prioridade), bem como um auxílio financeiro emergencial na falta de vagas.
Soluções alternativas
Mas se dividir a casa com pessoas totalmente desconhecidas assusta, há opções que podem oferecer mais segurança: morar em uma igreja com outras pessoas que tenham a mesma crença que você, por exemplo.
É esse o caso de Jônathas Waldhelm, que veio de Goiânia (GO), onde morava com os pais, para cursar Engenharia na Escola Politécnica (Poli) da USP. Ele e outros seis estudantes não pagam nada para ocupar parte do sobrado de três quartos da Igreja Presbiteriana do Butantã. “É como se fosse uma ação social da igreja”, explica. Os custos se resumem, então, à alimentação, transporte e algumas saídas, totalizando cerca de R0 por mês.
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O desafio da convivência
Jônathas conta que, apesar de ser uma república com bastante gente, a convivência na casa é tranquila porque todos têm a mesma mentalidade e procuram respeitar o bem-estar do outro. “Quando aparece algum problema, procuramos sempre resolver conversando”.
Mas nem sempre isso é coisa fácil. A primeira república de João Augusto, o que saiu do interior para morar em São Paulo, se desfez por causa de brigas. “Não participei de nenhuma, mas presenciei várias discussões. Você tem que engolir muito sapo”, diz “E, quanto mais gente dividindo a casa, mais regras são necessárias”.
Quem prefere não se estressar com outras pessoas que mal conhece pode morar sozinho – e pagar mais caro, porque não terá com quem dividir as contas. Antes de decidir, é bom pesquisar o custo de vida na cidade para onde se está indo. “No interior, com R$10 dava para passear e fazer muita coisa. Aqui, tem que pensar muitas vezes antes de sair porque é tudo muito mais caro”, alerta João, ainda se acostumando ao custo de vida paulistano.
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(Fotos: 1 e 2- Arquivo pessoal; 3- divulgação)