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4 momentos em que estudantes ajudaram a mudar o rumo da História do Brasil

Além da contribuição acadêmica e científica, neste Dia do Estudante vale recordar o envolvimento desse grupo em movimentos sociais e políticos

Por Juliana Morales
Atualizado em 24 ago 2022, 10h43 - Publicado em 11 ago 2022, 13h32
Jovem sendo perseguido na ditadura
Fotografia do dia 21 de junho de 1968 durante uma manifestação estudantil contra a ditadura, que ficou conhecida como "Sexta-feira sangrenta". O homem que aparece caindo na foto era um estudante de Medicina, que morreu logo depois do registro. (Evandro Teixeira / Flickr/Reprodução)
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O Dia do Estudante é comemorado no Brasil em 11 de agosto. Sua celebração acontece desde 1927, ano que marcou o centenário da criação dos cursos de Direito no país (por isso, também é Dia do Advogado). A data passou, então, a homenagear alunos de todas as áreas. Além da contribuição acadêmica e científica, neste dia, vale recordar o envolvimento dos estudantes em movimentos sociais e políticos ao longo da História do Brasil. 

O surgimento do movimento estudantil

A articulação política dos estudantes é anterior até mesmo à criação das primeiras universidades no país. Os jovens da elite brasileira que foram estudar em universidades europeias durante o período imperial já articulavam-se em pequenos movimentos estudantis locais. Nas décadas seguintes, ainda durante o século 19, o movimento começou a se formar em território nacional, com a criação de poucas instituições no país, ainda limitadas a uma parcela pequena da população. 

Foi apenas no começo do século 20 que a articulação dos estudantes passou, de fato, a ganhar forma, com o crescimento da industrialização, das cidades e com a expansão do Ensino Superior.

Em 1901, foi criada a Federação dos Estudantes Brasileiros que, apesar de seu pouco tempo de atuação, ficou marcada como a entidade pioneira na atuação estudantil. Mais de três décadas depois, o movimento ganha força com a criação da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1937. Em âmbito nacional, começava o Estado Novo, fase ditatorial da Era Vargas. No mundo, os primeiros anos da UNE ficaram marcados pela eclosão da Segunda Guerra Mundial.

“Os estudantes brasileiros, recém-organizados, tiveram ação política fundamental no Brasil durante esse processo, opondo-se desde início ao nazi-fascismo de Hitler e pressionando o governo do presidente Getúlio Vargas a tomar posição durante a guerra”, conta o artigo sobre a história da UNE

+ O que é o Movimento Estudantil e mais exemplos

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Segundo o professor de História do Curso Anglo, Raphael Tim, entre a segunda metade do século 20 e as primeiras décadas do século 21, um dos grupos que mais se destacou em diferentes mobilizações políticas no Brasil foram, justamente, os estudantes. Ele explica que, a partir dos anos 60, com a ascensão do movimento estudantil, os jovens passam a ser protagonistas em momentos importantes, determinando pautas específicas dos estudantes, da juventude como um todo, e também em prol de causas mais amplas que envolvem a sociedade brasileira em geral. 

Tim destaca quatro momentos da história em que a atuação estudantil foi determinante e impactou todos os setores da sociedade. Segundo o professor, são eles: a oposição à ditadura militar,  a participação no processo de impeachment do Collor, as jornadas de junho de 2013 e o movimento de ocupações em 2016. 

“Mesmo que eles não estivessem atuando sozinhos, e sim em diálogo com outros grupos, os estudantes conseguiram determinar, pelo menos em alguns escopos, qual caminho o movimento ia seguir – o que é de grande relevância para a História do Brasil”, explica.

Ditadura Militar

Manifestantes seguram camisa de Edson Luís de Lima Souto.
Manifestantes seguram camisa de Edson Luís de Lima Souto. (Arquivo Nacional/Reprodução)

Em 1964, o Brasil encarou um golpe de Estado que derrubou o presidente João Goulart e instaurou uma ditadura no país. O regime autoritário militar ficou marcado pela censura, exílio, repressão policial, tortura, mortes e “desaparecimentos” em todo o território nacional.

Os partidos foram dissolvidos e adotou-se o sistema bipartidário, a fim de controlar a oposição parlamentar. Ao mesmo tempo, uma série de medidas de exceção foi aprovada com objetivo de controlar qualquer antagonismo político. O principal deles, certamente, foi o Ato Institucional n. 5, aprovado em 1968 e considerado um “golpe dentro do golpe”. Entre outras providências, o AI-5 eliminava o habeas corpus para crimes políticos.

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Com o fechamento da ditadura, em 1968, parte da oposição seguiu pelo caminho da luta armada, promovendo ações de guerrilha urbana e rural. Seus militantes – muitos deles estudantes – foram as principais vítimas dos atos de tortura cometidos durante o regime. Muitos acabaram assassinados, outros desapareceram e dezenas seguiram para o exílio. Também houve mortes entre militares e civis inocentes.

Neste mesmo ano, em março, o secundarista Edson Luís foi morto durante a invasão militar do restaurante estudantil Calabouço, no Rio de Janeiro. Na ocasião, os estudantes manifestavam contra o aumento do preço das refeições. A morte do estudante de 18 anos, que não participava de movimentos organizados e vivia de favor no local para cursar o segundo grau na capital do Rio de Janeiro, gerou grande comoção nacional, chamando a atenção para a repressão da ditadura.

Uma matéria do El País sobre o tema explica que as pautas do movimento estudantil à época eram mais verbas para a educação e a luta pelos “excedentes” – quem havia passado no vestibular, mas não encontrava vaga na Universidade. A elas, somaram-se a denuncia contra a violência militar sob o lema: “E se fosse um filho seu?”.

Para se aprofundar: Livro “O Movimento Estudantil na Resistência à Ditadura Militar. 1969-1979”, de Angélica Muller.

Impeachment do Collor

Jovens pintando os rostos durante protesto
(Wikipedia Commons/Reprodução)

Os últimos meses de 1989 foram marcados por um importante momento político: depois de quase três décadas de regime militar, o Brasil elegia um presidente por meio de voto direto. Lançado candidato pelo Partido da Reconstrução Nacional (PRN), criado apenas para abrigar sua candidatura, Fernando Collor de Mello construiu a imagem de político avesso à corrupção. Uma de suas bandeiras era moralizar o serviço público. Por isso, ficou conhecido como “caçador de marajás”, em referência aos servidores que recebiam supersalários.

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Mas, apenas três anos depois de eleito, boa parte do país comemorava a queda do presidente anticorrupção. O impeachment de Collor teve seu desfecho em 29 de dezembro de 1992, com a renúncia do presidente pouco antes de sua condenação pelo Senado. Esse final teve como antecedentes uma série de episódios conturbados, que começaram pelas circunstâncias da eleição de Collor, passaram por sua desastrosa política econômica e culminaram com as denúncias de corrupção que sustentaram o impeachment.

Milhares de pessoas ocupavam as ruas em protestos, uma clara demonstração da insatisfação com Collor. Os movimentos sociais e os partidos políticos também se juntaram ao “Movimento pela Ética na Política” e fizeram grandes comícios em várias cidades, sob o slogan “Fora Collor!”.

Após a instauração da CPI, Collor convocou os brasileiros para que o apoiassem para ir às ruas vestidos de verde e amarelo. A fala foi tomada como provocação. Multidões, formadas majoritariamente por jovens estudantes, foram às ruas pelo país vestindo preto, com o rosto pintado de verde e amarelo, clamando pelo seu impeachment. Com a queda do presidente, seu vice Itamar Franco completou o mandato.

Para se aprofundar: Livro “A Era Collor – da Eleição ao Impeachment”, de Rodrigo de Carvalho

Jornadas de Junho de 2013

Protesto em Brasília
(Wikimedia Commons/Reprodução)

Parte dos cientistas políticos considera que junho de 2013 é um mês que ainda não terminou para o Brasil e as manifestações desse período têm reflexos até hoje. Inicialmente, os protestos eram contra o aumento das tarifas do transporte público, mas revelaram uma insatisfação geral da população brasileira com a classe política, corrupção e problemas sistemáticos na saúde e na educação.

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As pautas eram difusas e, ao longo do tempo, foram abraçadas por diferentes grupos do espectro político – culminando, por fim, em apelos pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff.

Tanto movimentos universitários como secundaristas participaram ativamente das Jornadas de Junho de 2013, mas o caráter das manifestações ainda divide analistas. O cientista político e ex-coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, afirmou em entrevista à Agência Brasil em 2016, que a atuação do movimento estudantil em 2013 foi marcada por uma “pauta apartidária e contrária às instituições”.

+ Veja um resumo cronológico de junho de 2013

Para se aprofundar: Livro “Amanhã vai ser maior”, de Rosana Pinheiro-Machado

Ocupação das escolas em 2016

estudantes durante protesto
(Tânia Rêgo/Agência Brasil/Reprodução)

O movimento de ocupação das escolas tomou o Brasil em outubro de 2016. Mais de mil escolas foram ocupadas por estudantes que não se conformavam com os rumos da educação durante o governo do então presidente Michel Temer.

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“Foi uma resistência que partiu de secundaristas em oposição à reforma do ensino médio e a um projeto de emenda constitucional que tentava congelar investimentos públicos e políticas sociais. Esse movimento ficou caracterizado por fazer ocupações de escolas com jovens tentando propor não só um novo diálogo sobre políticas públicas que os afetavam, mas também tratar de uma nova forma de ocupar o espaço público”, explica Tim.

Na mesma entrevista à Agência Brasil, Daniel Cara afirma que o movimento de ocupação das escolas poderia ser lido como um “amadurecimento” da atuação dos estudantes nas Jornadas de Junho de 2013. “Nessas ocupações de escolas, a juventude tem interagido bem com as instituições mais tradicionais. Isso é positivo, porque acaba se tornando um movimento mais aglutinador”, disse.

Para se aprofundar: Livro “Ocupar e Resistir”, organizado por Jonas Medeiros, Adriano Januário e Rúrion Melo.

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