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5 atualidades que podem aparecer na Unicamp 2023

Entre os grandes vestibulares, a prova da Unicamp é a que apresenta um perfil mais interpretativo e analítico dos acontecimentos atuais

Por Luccas Diaz
Atualizado em 5 nov 2022, 16h23 - Publicado em 3 nov 2022, 13h55

Neste domingo (6) acompanhe a correção da prova da Unicamp neste link.

 

Assim como Enem, Fuvest e Unesp, o vestibular da Unicamp costuma cobrar de seus candidatos uma boa dose de conhecimento sobre os cenários políticos, sociais, culturais e econômicos do mundo. Mas diferentemente das outras provas, as questões fazem referência a acontecimentos muito recentes, até do mesmo ano, ao ponto de ser vista pelos professores como a prova que mais cobra atualidades.

“Alguns estudantes confundem atualidades com geopolítica. O Enem cobra bastante geopolítica. A Unicamp cobra o que está acontecendo agora. É uma prova muito atual”, explica Anderson Rodrigues, professor e diretor do pré-vestibular Oficina do Estudante. “Exemplo disso é que no ano da covid-19, toda disciplina tinha pelo menos uma questão envolvendo o vírus ou a pandemia.”

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Mas antes de sair correndo para ler e decorar todas as notícias do jornal, é preciso lembrar: as questões de teste raramente vão perguntar o que é ou o que foi determinado acontecimento. A Unicamp costuma utilizar notícias e temas relevantes do ano do vestibular de maneira interpretativa, partindo do princípio de que a atualidade estará ali como um elemento contextual para se abordar um conteúdo das disciplinas cobradas.

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Exemplo claro disso é o que ocorre na prova de inglês. Os textos das questões costumam ser de eventos relevantes da atualidade. “A Guerra da Ucrânia, por exemplo, pode muito bem aparecer este ano. Nesse caso, a pergunta não seria sobre o conflito em si, mas cobraria noções de gramática e interpretação da língua inglesa a partir de um texto sobre a guerra”, explica. “Então, claro, ter um conhecimento básico sobre o assunto beneficiaria o candidato.”

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Lembrando que desde o ano passado a Unicamp aumentou o tempo de prova em 1 hora – mas manteve o mesmo número de 72 questões. Para o professor, isso também mostra que há a valorização de um perfil interpretativo e analítico na prova.

Pensando nisso, Anderson listou ao GUIA DO ESTUDANTE cinco temas da atualidades que foram relevantes em 2022 e que podem aparecer contextualizando questões da prova.

1. Emergência global da Monkeypox

Vacinas Monkeypox
(Getty Images/Reprodução)

Para começar, um dos temas com grandes chances de aparecer na Unicamp 2023 é a alta de casos da varíola dos macacos, também conhecida pela nomenclatura inglesa, monkeypox. O tema ganhou os noticiários ao redor do mundo, principalmente embalado pelo medo de uma nova pandemia. Assim como ocorreu com outras doenças virais, como covid-19, zika e ebola, a alta nos casos foi declara como emergência sanitária global pela OMS  (Organização Mundial da Saúde).

Segundo o professor, a doença pode aparecer em uma questão sendo comparada com outras patologias virais – inclusive, com a própria varíola. O vírus pertence à mesma família (poxvírus) e gênero (ortopoxvírus) da varíola humana, mas difere, principalmente, na sua transmissividade e letalidade. O primeiro caso de varíola dos macacos em humanos foi registrado em 1970, na República Democrática do Congo. Já a varíola humana foi considerada erradicada em 1980, após uma grande campanha de vacinação mundial.

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Outro aspecto que poderia ser abordado na prova é a maneira pela qual a doença é transmitida. “Sabemos que a transmissão é feita por contato entre lesões, fluidos corporais e materiais contaminados, mas acho que pode aparecer alguma alternativa dizendo que a doença é transmitida pelo macaco”, diz. O vírus ganhou esse nome por ter sido descoberto pela primeira vez em primatas, em 1958, mas estes não são responsáveis pelo surto atual. Até o momento, os casos registrados da doença foram causados pela exposição de pessoa para pessoa.

2. Quarto caso de cura do HIV

HIV/AIDS
(Towfiqu Barbhuiya / EyeEm/Getty Images)

Outra notícia da área da saúde que pode aparecer na prova são os casos de cura do HIV, já que em 2022 um quarto caso foi anunciado pela comunidade médica. Um homem de 66 anos viu a doença se tornar indetectável após realizar um procedimento de transplante de medula óssea. A cirurgia não tinha relação alguma com o vírus: foi realizada por conta do diagnóstico de leucemia que o paciente recebeu três anos atrás.

De acordo com a equipe médica responsável pelo caso, coincidentemente, o doador da medula era um homem naturalmente resistente ao vírus da imunodeficiência humana (HIV). Com o transplante, a remissão do vírus aconteceu porque, assim como o doador, alguns indivíduos apresentam uma mutação na chamada proteína CCR5, que funciona como a “porta de entrada” para o vírus do HIV nos glóbulos brancos. Esta mutação impede que o vírus entre em contato com os glóbulos e afete o sistema de defesa do corpo.

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O caso não significa que uma suposta cura para o vírus envolveria sempre um transplante de medula óssea – um procedimento com grandes riscos e efeitos colaterais. A busca da comunidade médica agora é focada na mutação genética da proteína CCR5. Anderson acredita que esta discussão pode aparecer na prova: não sobre a cura em si, mas utilizando esse contexto para cobrar conhecimento sobre o vírus.

“Pode perguntar sobre as características do HIV, como o vírus pode levar à Aids, e até mesmo sobre a falta de conhecimento que persiste até hoje em torno da doença”, explica. O professor crê que o tema poderia aparecer não apenas em questões de Biologia (estas envolvendo perguntas sobre o vírus, de fato), mas também em humanidades, refletindo sobre o estigma e o histórico da doença.

3. Movimento pan-africanismo

Jovem-negra-protesto

Como uma terceira aposta, o professor Anderson indica o movimento do pan-africanismo. De forma sucinta, esta é uma ideologia que defende a crença na união dos povos africanos – independentemente de estes se encontrarem no continente africano ou em outras partes do mundo. O movimento surgiu ainda no século 19, com pensadores como W.E.B. Du Bois, Martin Delany, Alexander Crummel e Marcus Gavey, e foi defendido pela Organização da Unidade Africana (OUA) desde a sua fundação, em 1963.

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O órgão foi criado com o objetivo de lutar contra o neocolonialismo e a apropriação de riquezas do continente africano, tendo um papel importante na luta contra o apartheid. Ao decorrer dos anos, entretanto, acumulou críticas pela ausência em casos de violação de direitos humanos, como o que ocorreu na Uganda na década de 70. Os problemas só foram aumentando e em 2002 foi criada uma nova organização com a função de substituir a OUA: a União Africana (UA).

Um dos pontos principais da UA, que completa 20 anos em 2022, é a criação da Agenda 2063, que determina uma série de mudanças que devem ser feitas na África, a médio e longo prazo, pensando na união e na soberania dos povos africanos. “Pan-africanismo é um tema gigante! Tanto que, neste caso, acredito que poderia perguntar sobre o próprio movimento em si”, diz.

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História africana é um assunto que vem ganhando destaque nos vestibulares dos últimos anos – um reflexo de reformas que garantiram uma maior presença do tema nos currículos escolares. Para o professor, além do aniversário de 20 anos da UA, a relevância atual de discussões acerca do preconceito racial e dos problemas sociais acarretados pelo racismo também contribuem para que haja uma boa chance do tema ser cobrado na prova.

“É um movimento que foca exatamente na luta contra esses problemas. Eu vejo ele aparecendo em pelo menos um vestibular deste ano, e a Unicamp é o que tem mais chance de cobrar isso”, explica. “Até porque África é um assunto que a Unicamp gosta de falar. Já caiu bastante em questões de Geografia, cobrando até mesmos tópicos específicos envolvendo a região de Sahel.”

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Envolvendo o tema, o professor aposta em questões interdisciplinares, que relacionem conceitos de filosofia e sociologia. Ou ainda de História, questionando sobre o processo de substituição da Organização da Unidade Africana pela União Africana.

4. Anticoncepcional masculino em 2023

Um terceiro tema da área da saúde que aparece como uma aposta é a busca da comunidade científica por um anticoncepcional masculino. Ao longo do ano, circularam notícias afirmando que já em 2023 haveria um anticoncepcional masculino disponível no mercado. A principal responsável por essa expectativa é a promessa do lançamento do RISUG, um anticoncepcional masculino injetável produzido na Índia.

No vídeo acima, publicado no Jornal da Unicamp, Luis Guillermo Bahamondes, professor titular de Ginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, fala a respeito do assunto. A tecnologia prometida pelo RISUG (siga para “Inibição Reversível do Esperma Sob Controle”, em português) é uma injeção aplicada nos dois ductos deferentes da bolsa escrotal que alteraria os espermatozoides produzidos pelo corpo masculino, deixando-os incapaz de fertilizar um óvulo. O efeito de esterilidade duraria por até 10 anos, mas poderia ser revertido com a aplicação de um outro medicamento.

No entanto, para o médico da Unicamp, é preciso cautela. O desenvolvimento de um anticoncepcional envolve um longo caminho de estudos e testes. No presente momento, já existe uma quantidade considerável de estudos sobre o possível medicamento, mas não o suficiente para uma aplicação segura para o ano que vem.

O professor da Oficina do Estudante ressalta que a própria atenção que o jornal da universidade deu ao tema é um motivo para os estudantes ficaram de olho no assunto. “No Jornal da Unicamp, eles costumam divulgar pesquisas de temas relevantes, principalmente as realizadas na própria universidade. E muitas vezes o que aparece no jornal aparece no vestibular”, diz.

O professor crê que o assunto figurar em questões de Biologia, questionamento a ciência por trás do funcionamento do medicamento. Mas não descarta a possibilidade de aparecer também em questões de humanidades, fazendo uma ligação com machismo, questões de gênero e tabus relacionados à fertilidade.

5. Lutas pelos Direitos Humanos

O governo russo classificou o episódio como um golpe de estado e afirmou que os direitos da população russa no leste da Ucrânia estavam ameaçados. Por isso, enviou tropas para controlar a região da Crimeia.
(Getty Images/Reprodução)

Direitos Humanos é um tema amplo, mas, para o professor da Oficina do Estudante, faz parte do próprio DNA da Unicamp e merece a atenção dos candidatos na hora dos estudos. “A Unicamp se apresenta como uma universidade plural e faz todo sentido o tema aparecer quase todos os anos na prova”, diz.

Pautas levantadas por governos autoritários ao redor do mundo também ascendem o alerta para questões relacionadas ao assunto. Um recente relatório divulgado pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), por exemplo, declarou que a Rússia cometeu uma série de crimes de guerra, além de violações dos direitos humanos e direitos internacionais humanitários durante o conflito com a Ucrânia.

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De acordo com o professor, outro ponto para ser considerado pelos candidatos é a existência do Observatório de Direitos Humanos (ODH) da Unicamp. “Se trata de uma instância da Diretoria Executiva de Direitos Humanos da universidade associado à educação formal e informal de direitos humanos, ou seja, que procura ensinar e incorporar esses direitos na educação”, explica o professor.

Por se tratar de uma tema que abarca variadas possibilidades, o professor indica alguns tópicos relevantes para estudar: refugiados, acessibilidade, questões de gênero e sexualidade, povos indígenas e diversidade étnico-racial.

Neste domingo (6) acompanhe a correção da prova da Unicamp neste link.

 

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