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AmarElo: 10 motivos para assistir ao documentário do Emicida na Netflix

Emicida reescreve a participação da cultura preta na formação do Brasil

Por Wender Starlles
Atualizado em 9 dez 2020, 21h50 - Publicado em 9 dez 2020, 19h56
Poster do documentario AmarElo
 (Netflix/Reprodução)
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No documentário “AmarElo – É Tudo Pra Ontem” já disponível na Netflix, o rapper Emicida usa os bastidores do show no Theatro Municipal de São Paulo para resgatar a história da cultura e dos movimentos negros no Brasil nos últimos cem anos.

Em entrevista ao site Elastica, o rapper explica as suas motivações para transformar em filme o álbum “AmarElo”, lançado em 2019 e vencedor do Grammy latino de melhor disco de rock ou música alternativa em língua portuguesa. “O documentário joga luz numa parte da história do Brasil que foi invisibilizada e a que nem os próprios brasileiros tiveram acesso”, afirma.

Segundo Zaira de Jesus, professora de português da Escola Vereda, muitos estudantes não conhecem os grandes pensadores negros, como Lélia González (1935-1994), importante ativista em discussões sobre as relações entre gênero e raça, porque houve um apagamento histórico da cultura afro-brasileira.

“Isso tudo passou pela ciência. Muitos estudos ditos ‘científicos’ animalizaram as pessoas negras para que elas continuassem à margem da sociedade, desse maneira conseguiram justificar o preconceito. Mesmo depois da abolição, quando teoricamente todos estavam livres, a ‘lei da vadiagem’ criminalizou o samba, por exemplo”, diz.

 

A partir de um exercício de reflexão, Emicida contextualiza dez acontecimentos importantes que são fundamentais para entender o pensamento negro no país e, consequentemente, seu sucesso como rapper nos dias de hoje.

1 – Escravidão

O Brasil foi último país do continente americano a abolir a escravidão, em 13 de maio de 1888.

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2 – História do trabalho em São Paulo

A cidade de São Paulo teve a riqueza baseada na era de ouro do ciclo do café, que usava a mão de obra escrava.

3 – Imigração e apagamento histórico

Depois da abolição, milhões de pretos foram abandonados pelo Estado. Ainda durante a metade do século 19, o governo incentivou a imigração europeia com o objetivo de embranquecer a população brasileira. Teses eugenistas defendiam que a raça branca era superior. As consequências dessas políticas resultaram no apagamento histórico de culturas africanas e indígenas que passaram a ser demonizadas pela sociedade.

4 – Gentrificação

A ascensão de São Paulo como capital financeira do país provoca um processo de gentrificação violento. Pode-se entender esse fenômeno como a substituição, em bairros ou cidades, de um grupo com menor poder aquisitivo por outros com condição financeira melhor. Isso aconteceu na região central da capital paulista, onde está localizado o Theatro Municipal. Os bairros tradicionalmente pretos foram descaracterizados e a população que vivia ali foi empurrada para as margens da cidade.

5 – Periferia

Durante a primeira metade século 20, pessoas pobres de outras regiões do país vieram para São Paulo em busca de melhores oportunidades de trabalho. Foi nesse período que as periferias começaram a se desenvolver.

6 – Cultura hip-hop

Surge a cultura hip-hop na década de 70 nos EUA, que se espalha pelo resto do mundo. Na época, jovens da periferia encontram uma maneira de se expressar através da música rap, do break e do grafite em uma região de fácil acesso: o centro de São Paulo, local onde, anos depois, Emicida participaria de rinhas.

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7 – Voz preta

Embora não tenha recebido apoio da indústria fonográfica, o rap se espalha pelo Brasil durante a década de 90 e se transforma em uma voz que leva a conscientização sobre questões relacionadas ao racismo e à desigualdade social. “Ele conecta as classes operárias às ideias dos intelectuais pretos brasileiros”, diz Emicida no documentário.

8 – Emancipação na era digital

A cultura rap emancipa diversos jovens, inclusive economicamente, apesar do forte racismo estrutural brasileiro. Na era digital, artistas independentes conseguem atingir números expressivos nas plataformas de streaming.

9 – Reescrevendo a história

As vozes desse movimento atualmente não querem apenas serem conhecidas. “Vencer é muito mais que ter dinheiro. Esses jovens querem reescrever a história desse país“, enfatiza.

O documentário reescreve momentos importantes da história brasileira acrescentando personagens que não têm destaque nos livros. “Todos os estudantes deveriam assistir, porque ele trata de questões atuais: a luta antirracista está no centro do debate. Os professores deveriam trabalhar ‘AmarElo’ em sala de aula. Ele passa pela literatura, arte, sociologia, história, entre tantas outras”, afirma Zaira.

Emicida no Theatro Municipal
Emicida no Theatro Municipal (Netflix/Reprodução)

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10 – Theatro Municipal

Construído durante a Primeira República (1889-1930), o local foi escolhido por ser o ponto de ligação entre todas as gerações da cultura preta nos últimos cem anos.

No documentário, Emicida mostra que, apesar de muitos prédios terem sido construídos com auxílio de mão de obra de pessoas negras, existiam políticas excludentes para negar o acesso delas a esses espaços. Como bem lembra o rapper, ocupar o Theatro Municipal é reparação histórica.

No mesmo edifício ocorreu a Semana de Arte Moderna de 1922, movimento responsável por inaugurar o Modernismo brasileiro. O evento contou com a participação de diversos artistas brancos que romperam com as vanguardas europeias na intenção de buscar uma arte com valores nacionais. Esse acontecimento abriu caminhos para o samba começar a ser enxergado como ritmo musical exclusivamente brasileiro.

Em 1978, o Theatro Municipal também presenciou o surgimento do Movimento Negro Unificado (MNU), após diversos protestos contra a violência racial, no auge da ditadura militar.

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