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Até quando vai a quarentena? O que dizem as grandes universidades do mundo

Confira pesquisas e artigos já publicados sobre o tema por algumas instituições científicas de ponta

Por Redação do Guia do Estudante
Atualizado em 25 jun 2020, 19h56 - Publicado em 25 jun 2020, 19h55
 (United Nations COVID-19 Response/Unsplash/Reprodução)
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As medidas de isolamento social para dificultar a disseminação do COVID-19 já estão em efeito há mais de um mês, e é bem provável que durem ainda bastante tempo. Mas quanto tempo? Embora essa seja uma pergunta para a qual muitas pessoas querem uma resposta, ainda é difícil dar uma resposta precisa. Mesmo assim, algumas das melhores universidades do mundo já estão tentando descobrir até quando vai durar a quarentena.

Abaixo, vamos falar sobre algumas das pesquisas e artigos já publicados sobre o tema por algumas instituições científicas de ponta. Infelizmente, nenhuma delas tem uma resposta conclusiva — em parte, porque essa resposta depende de muitos fatores que ainda não são conhecidos. Mas os estudos abaixo podem ajudar a entender o que precisamos saber para responder a essa pergunta, ou pelo menos para chegar mais perto da resposta. Confira:

O que Harvard diz sobre até quando vai a quarentena

Talvez o estudo mais popular sobre até quanto vai a quarentena seja um artigo de pesquisadores da T.H. Chan School of Public Health, da universidade Harvard. Em seu resumo, o artigo afirma que, para evitar que o número de pessoas com necessidade de tratamento emergencial exceda as capacidades dos sistemas de saúde, “medidas de isolamento social prolongadas ou intermitentes podem ser necessárias até 2022”.

É importante notar, porém, que isso não significa que o mundo inteiro vai ter que ficar trancado em casa por mais dois anos. O que o estudo diz é que quarentenas “prolongadas ou intermitentes” podem ser necessárias até lá. Ou seja: é possível que períodos de isolamento social mais curtos poderão ser necessários até lá.

Por que até lá?

No estudo, os pesquisadores analisam como outros dois coronavírus parecidos com o SARS-CoV-2 (o causador da COVID-19) se comportam. Eles supõem que o SARS-CoV-2 se comportará de maneira semelhante — o que faz sentido, já que são vírus parecidos. Mas, ainda assim, é uma suposição. Com base nessa suposição, eles avaliam que o vírus pode se espalhar mais facilmente no inverno do que no verão.

Além disso, eles estimam que a imunidade adquirida por quem já contraiu o vírus deve durar cerca de um ano, no mínimo, até vários anos, no máximo. “Mas é realmente especulativo a essa altura”, admitem os pesquisadores. Ou seja, pode ser que a imunidade adquirida contra COVID-19 seja semelhante a algo como catapora: se você pegar uma vez, não pega nunca mais. Mas ainda não dá para saber.

Tudo isso tem o objetivo geral de prever quantas pessoas serão infectadas pelo COVID-19 e quantas delas precisarão de tratamento emergencial. E segundo o The Atlantic, o estudo ainda faz outras suposições nesse sentido. Ele estima, por exemplo, que durante o isolamento social, cada pessoa infectada transmite a doença para outras duas a duas e meia, em média. Mas isso também é uma estimativa.

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Há outra questão: o estudo estima a necessidade de isolamento social para manter o número de pessoas necessitadas de tratamento emergencial abaixo da capacidade do sistema de saúde. No entanto, é evidente que, ao longo da pandemia, os recursos dos sistemas de saúde serão ampliados. Com isso, eles poderiam atender mais pacientes ao mesmo tempo, e a necessidade de isolamento social seria relaxada.

Em outras palavras: é provável que o mundo precise ficar em isolamento (prolongado ou intermitente) até 2022. Mas essa ideia é criada com base em uma série de suposições que ainda podem se mostrar imprecisas, e com isso o período pode variar.

E o Massachusetts Institute of Technology (MIT)?

Embora o MIT ainda não tenha produzido um estudo focado em responder até quando o isolamento social deve durar, pesquisadores do instituto já publicaram um artigo que diz claramente que ainda não é a hora de relaxar a quarentena. O artigo em questão foi feito usando um modelo de machine learning (uma técnica de inteligência artificial) com dados de janeiro a março da China, Itália, EUA e Coreia do Sul.

“Relaxar ou reverter as medidas de quarentena agora levará a uma explosão exponencial no número de pessoas infectadas, anulando o papel desempenhado por todas as medidas implementadas nos EUA desde março”, dizem os pesquisadores. O estudo foi publicado no dia 6 de abril, e é um indicador importante sobre até quando vai a quarentena.

Um artigo opinativo publicado no MIT Technology Review na metade de março, no entanto, tem uma visão mais catastrófica sobre o tema. Sobre a questão de “quando o mundo voltará ao normal”, o autor (Gideon Lichfield, editor do MIT Tech Review) responde simplesmente “nunca”. “Isso [a quarentena] não é uma disrupção temporária. É o começo de um modo de vida completamente diferente”, argumenta o autor.

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Por quê?

O argumento central de Lichfield se baseia numa pesquisa do Imperial College London, que indica que, contanto que uma pessoa no mundo tenha COVID-19, epidemias intermitentes poderão continuar ocorrendo. Uma maneira de contornar essa situação seria impor quarentenas sempre que um “pico” de infecções ocorresse: por exemplo, quando mais de 100 pessoas por semana fossem parar em UTIs por problemas respiratórios.

E por “quarentenas”, os pesquisadores entendem “medidas que reduzam em 75% todos os contatos sociais”. Considerando que mesmo em São Paulo, uma das capitais brasileiras que foi mais rígida em suas medidas de isolamento social, a redução nunca chegou a 70%, isso indicaria que a quarentena só deve aumentar daqui para frente, até que uma vacina seja desenvolvida — o que ainda pode levar um ano e meio.

Como a disseminação do vírus é exponencial, não adiantaria ampliar o número de leitos de UTI, já que qualquer aumento nesse sentido seria irrisório comparado ao aumento no número de casos quando a quarentena fosse levantada. A alternativa seria adotar medidas de biopoder semelhantes às que o governo da China adotou.

Isso significa medidas como  identificar pessoas infectadas e proibí-las de sair de casa por 14 dias. Além disso, usar dados de geolocalização de celulares para identificar quem esteve em contato com as pessoas infectadas, e quarentená-las também. “A vigilância intrusiva será considerada um preço pequeno a se pagar pela liberdade básica de estar com outras pessoas”, argumenta Lichfield.

Até quando vai a quarentena, segundo o Imperial College London

O Imperial College London, uma das melhores universidades do Reino Unido, tem tido um papel de destaque na pandemia do COVID-19. As previsões que a universidade fez com relação ao número de infectados, número de pessoas que precisarão de cuidados urgentes e número de mortes em diversos países contemplam vários cenários e levam em conta um grande volume de dados.

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No Brasil, por exemplo, a universidade estimou no fim de março que, na melhor das hipóteses, o vírus provocaria 44,3 mil mortes no total. Isso, no entanto, dependeria do estabelecimento de isolamento social (acima de 75%) para toda a população, testar todos os casos suspeitos e isolar todos os positivos a partir do momento em que há duas mortes por milhão de habitantes — e essa possibilidade já ficou para trás.

No pior dos casos, o vírus infectaria cerca de 80% da população do país (187 milhões de pessoas), levaria 6,2 milhões aos hospitais, 1,5 milhão às UTIs e provocaria 1,157 milhão de mortes. Isso, no entanto, só aconteceria se nenhuma medida fosse tomada — o que também não foi o caso.

Em todos os casos, no entanto, a universidade considera que as medidas de isolamento social “deverão ser mantidas em alguma forma até que vacinas ou tratamentos eficazes se tornem disponíveis”. Isso seria essencial, na visão dos cientistas, para evitar que novas pandemias do COVID-19 ocorressem. Ou seja: na visão da universidade, a resposta à pergunta “até quando vai a quarentena?” é: até surgir uma vacina.

Por que tanto tempo?

Num estudo separado, em que os pesquisadores do Imperial College London discutem as medidas de mitigação da pandemia, eles avaliam que as vacinas são a única maneira eficaz de conter a doença. Mesmo considerando as menores taxas de disseminação da doença e as maiores taxas de aquisição natural de imunidade que a ciência permite, ainda assim os sistemas de saúde ficariam sobrecarregados sem essas medidas.

Com base nos dados que já estavam disponíveis sobre a evolução da doença na China, os pesquisadores estimaram que a taxa básica de reprodução da doença é de, pelo menos, 2,4. Isso significa que cada pessoa infectada pelo vírus que causa COVID-19 transmite-o, em média, para 2,4 pessoas pelo menos.

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Esse número (que, segundo os pesquisadores, pode ser maior) indica que a doença se espalha muito rapidamente. Por isso, o isolamento social é essencial para fazer com que ela se espalhe mais devagar. Assim, pelo menos, quem pegar a doença e tiver sintomas graves poderá conseguir tratamento sem grandes problemas. Sem isso, os sistemas de saúde ficarão sobrecarregados.

A aquisição natural de imunidade, nesse caso, também é mais lenta. Mas isso é necessário para garantir que as UTIs dos hospitais não precisem escolher entre quem deve viver e quem terá que morrer. Para evitar esse cenário, o isolamento social é a única medida eficaz até que uma vacina seja desenvolvida. E, felizmente, já há uma série de vacinas em desenvolvimento (algumas até em fase de testes com humanos).

Até quando vai a quarentena segundo Stanford

Em Stanford, um grupo de pesquisadores, incluindo a bióloga Erin Moredcai, tentaram entender como a COVID-19 se dissemina usando modelos matemáticos. O esforço resultou numa página interativa que pode ser usada para entender como as medidas de isolamento social afetam o número de casos da doença.

Numa entrevista ao site de Stanford, Mordecai explicou que ela e a equipe usaram um modelo matemático semelhante ao que já foi usado, com sucesso, para prever a disseminação de doenças transmitidas por mosquitos. “Com a COVID-19, na verdade é um modelo ainda mais simples (…) porque você só tem que levar em conta a população humana”, explicou.

Não há, no trabalho dos pesquisadores, uma estipulaçãorígida sobre até quando vai a quarentena. O que eles fizeram foi simular o que acontece com o número de casos conforme o período de isolamento social varia. O resultado foi que, sempre que a quarentena é suspensa antes de o número de casos chegar a zero, a suspensão é seguida por um novo pico de infecções.

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Dessa forma, para eliminar completamente a COVID-19, seria necessário esperar até que a doença estivesse completamente erradicada na região — o que pode durar mais de um ano. Ou pode durar até que uma vacina seja desenvolvida, o que tamém ainda parece estar a cerca de um ano de distância. Mas, segundo Mordecai, isso não significa que o isolamento social precisa continuar por mais um ano?

Por quê?

A equipe de Mordecai concluiu que é possível adotar um modelo de “interruptor” para controlar a disseminação da doença sem afetar tanto assim a sociedade. A ideia é monitorar o número de infecções e, quando ele voltar a crescer, ativar novamente a quarentena por um determinado período.

As diretrizes para quando “ativar” ou “desativar” a quarentena precisariam ser estipuladas por cada governo, de acordo com a população. Em todo caso, elas poderiam assumir a forma de “ativar quando passar de 15 hospitalizações por semana, desativar quando cair abaixo de 2 hospitalizações por semana”, por exemplo.

Alternativamente, também seria possível estipular prazoes para a “ativação” e “desativação” da quarentena. Por exemplo, seria possível “ativar” a quarentena por três semanas e depois “desativá-la” por mais três semanas, sempre monitorando o número de casos e extendendo o período de ativação caso eles subissem demais. “Assim, conseguimos equilibrar o combate à COVID-19 com a nossas vidas normais”, comentam os pesquisadores.

Mas nesse ponto, é importante lembrar que a pesquisa de Stanford é uma modelagem matemática. Nesse sentido, sempre que a quarentena é “ativada”, a circulação de pessoas é interrompida quase totalmente — e o que se percebeu até agora é que, na maioria dos países, a adoção de medidas de isolamento social não é levada tão à sério assim pela população.

Além disso, para implementar o modelo de “interruptor” proposto pela equipe de Stanford, seria necessário ter acesso a informações precisas sobre o número de infecções. Isso só seria possível com um nível elevado de testes por habitantes e com contagens rigorosas do número de infectados. E, por enquanto, o que se observou no Brasil e em vários outros países é uma grande subnotificação da doença, além de resistência por parte do governo federal de oferecer dados precisos.

Nesse cenário, não seria possível implementar o modelo proposto pela universidade de maneira confiável. Além disso, caso ele fosse implementado, ele dificilmente teria a mesma eficácia prevista na modelagem matemática. Nessa perspectiva, a melhor solução seria adotar medidas de isolamento social até que o número de infecções fosse zerado ou até que uma vacina fosse produzida — situações que ainda devem levar vários meses.

Este texto foi originalmente publicado no portal Estudar Fora, da Fundação Estudar, parceira do Guia do Estudante. 

 

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