No dia 7 de outubro, várias escolas e faculdades de São Paulo retornaram à rotina de ensino presencial. O Estado é um dos oito que já autorizaram a volta completa ou parcial das redes de ensino. Com novos protocolos de segurança e cuidados para não contaminar professores e alunos, a educação presencial vem, aos poucos, se adaptando ao “novo normal” (você achava que a gente não ia recorrer a essa expressão? Pois errou rude!). O GUIA matou a curiosidade e conheceu, pelos olhos de alguns estudantes, como tem sido esse processo de reencontro.
Voltamos. E agora?
Cada instituição tem tomado suas providências de acordo com a rotina escolhida para o retorno. Na escola Castanheiras, em Santana do Parnaíba, a aluna do terceiro ano do Ensino Médio Isabela Donegá teve que se acostumar com os novos cuidados: troca de máscara três vezes ao dia, distanciamento obrigatório de ao menos um metro e medição de temperatura na entrada, além de um tapete higienizador de tênis. Com as cadeiras afastadas, ela tem aulas presenciais de segunda a quinta-feira – por estar em ano de vestibulares. As outras turmas têm dias e horários marcados ao longo da semana para que não seja excedido o limite de 35% de ocupação do colégio.
O mesmo revezamento ocorre no Centro Universitário Belas Artes, onde Barbara Ferraz cursa Artes Cênicas. Lá, a jovem de 18 anos estuda dois dias por semana, enquanto os outros três se mantêm no modelo online. Por ser um curso em que a presença faz toda a diferença, algumas aulas foram transferidas de salas fechadas para palcos externos da faculdade, para ser possível fazê-las em distanciamento. Tudo para que haja o mínimo de contato necessário. A Barbara registrou esse reencontro com a galera na foto que ilustra esta reportagem. Ela é essa segurando o celular verde!
Sophia Amaral, de 17 anos, estuda no Colégio Bandeirantes, na capital paulista. Lá, a precaução é ainda maior: o colégio fez uma parceria com o Hospital Sírio-Libanês que, agora, toma conta da enfermaria e de todos os protocolos de saúde da instituição. A volta às aulas presenciais é opcional, mas o terceiro ano tem aulas todos os dias. O horário foi reduzido, de forma que são apenas 3h20 de aula, sem intervalo, para evitar aglomerações pela escola. Não se pode mais emprestar papel, caneta ou qualquer material, e os alunos foram orientados a não usar os corrimões nas escadas para diminuir o contato.
Presencial ou EAD?
Mesmo que não tenha tido problemas com acesso à internet, Sophia conta que o mais difícil no ensino a distância foi criar a autonomia de reger os próprios horários de estudo. “Eu não era muito estudiosa antes, então ter que acordar, fazer as aulas sem deixar acumular, tudo sozinha, era um desafio. Poucas aulas eram síncronas, a maioria era gravada, então era compromisso do aluno ter a disciplina de assistir tudo”, conta. Sobre o contraste da aula presencial, ela até brinca: “Foi muito estranho ter que ficar a aula inteira prestando 100% de atenção. Em casa, eu me acostumei a pausar, acelerar, aumentar e diminuir o volume da aula. Até quando não queria ver a aula, eu podia abaixar o volume. Na volta, não dá mais pra fazer nada disso”, conta entre algumas risadas.
Essa sensação também atingiu Isabela, que considerou que o EAD atrapalhou sua produtividade de maneira muito expressiva. “Acho que até agora, ainda não me adaptei direito. Senti que tive muita perda, tanto na capacidade de me concentrar quanto na motivação então, sinto que não consegui aprender muito durante esse período”. Durante o ano de vestibulares, a preocupação com o conteúdo é grande tanto para os alunos como para os professores.
Já para a universitária Barbara, a maior irritação foi outra: como estudar artes cênicas online? “No EAD, a gente foi dando um jeito. No início estávamos bem bravos, porque nosso curso é praticamente impossível de fazer a distância.” A falta de contato físico faz toda a diferença neste caso, e por isso, ela desabafa: “Sinto que desanimei bastante durante a quarentena, porque não tem comparação a conexão de estar presencialmente com o grupo. Mas os professores aos poucos foram se adaptando e os alunos foram cedendo.”
E qual é a sensação de voltar?
“Bizarro”, “surreal”, “muito doido”. Cada uma teve seu jeito de demonstrar o choque da volta presencial, depois de quase oito meses de afastamento. Isabela comenta o estranhamento de rever os antigos colegas: “Fazia sete meses que não via a escola, os amigos, os professores. Ao mesmo tempo que eu estava desacostumada, depois de tanto tempo em casa, pareceu que nada mudou. Ver o mesmo grupo foi muito reconfortante, deu um sentimento de alívio.”
Na faculdade, Barbara ainda teve receio de voltar, ainda mais com tantos cuidados extras. Ela conta que, para ela, manter o distanciamento social foi muito difícil: “Apesar de sentar distante nas aulas, ter as aulas práticas afastados, nos horários de pausa a gente tende a ficar mais próximo por costume. Mas sempre de máscara!”. Mesmo com o encantamento, o medo não vai embora. “Ficamos olhando um para a cara do outro, sem acreditar! Mas ainda tenho muito medo. Passo álcool em gel toda hora, não tirei a máscara por nada.” E completa: “Foi uma mistura de sentimentos, mas as duas palavras que eu usaria são felicidade e medo.”
E a vestibulanda Sophia? Mal conseguiu dormir: “Meu coração estava super acelerado, eu e minhas amigas nem dormimos direito. Reencontrar os professores foi muita emoção.” Ao falar de seus amigos, a nostalgia de estar no último ano do colégio pesa ainda mais: “Eu tinha a sensação de que não ia voltar este ano, já tinha perdido a esperança. E estando no terceiro ano, achei que nunca mais veria aquelas pessoas. Porque acaba a escola e as pessoas de quem a gente não é tão próximo, é muito difícil de reencontrar.”
A volta às aulas presenciais ainda é realidade apenas em poucas escolas e redes de ensino no país. Principalmente na rede particular, aos poucos, a rotina sai do online e traz de volta a sensação do “cara a cara” – ou, neste caso, “máscara a máscara”. Cabe agora aos alunos, responsáveis e professores se adaptarem aos protocolos e comemorar. Mas, nas palavras da aluna Isabela, “não que as coisas voltaram ao normal, mas dá pra achar um pouco de normalidade no meio de tudo isso”.