Cancelando a militância? Entenda a confusão com o termo no BBB
As atitudes de Lumena Aleluia levantam questionamentos sobre o que é ser militante
Nas redes sociais, a edição deste ano do programa “Big Brother Brasil” (BBB) está dando o que falar. As frequentes polêmicas protagonizadas por alguns participantes chamaram a atenção do público por supostamente “militarem errado”. É o caso da psicóloga baiana, Lumena Aleluia, que em discussões utilizou argumentos considerados por muitos, exagerados.
Em menos de um mês de reality show, as atitudes e falas da participante conhecida pela luta antirracista na “vida real” foram questionadas diversas vezes por serem autoritárias demais. Inclusive, Lumena foi acusada de praticar algumas das ações discriminatórias que tanto critica: questionar a bissexualidade de Lucas Penteado, após ele protagonizar um beijo com Gilberto do Vigor, foi um exemplo.
Puts, se vc acha q pode cometer erros de humilhar, realizar abusos psicológicos e questionar a sexualidade de alguém, isso diz muito mais de vc
— Nath Finanças (@nathfinancas) February 15, 2021
Lumena não autorizou
Essa controvérsia no comportamento de Lumena gerou uma série de memes que, de certa maneira, ironizam a maneira como ela fiscaliza as atitudes de outros brothers e sisters dentro da casa. Fiscalizava, uma vez que ela foi eliminada na votação popular desta terça-feira (2).
🚨🚨🚨🚨🚨ATENÇÃO GALERA 🚨🚨🚨🚨🚨🚨✋🏻✋🏻✋🏻✋🏻✋🏻✋🏻
NINGUÉM MAIS PODE USAR VESTIDO BRANCO OU FAZER PINTURA NO ROSTO POIS LUMENA PATENTEOU
🚨🚨🚨🚨🚨🚨🚨🚨🚨🚨🚨🚨🚨 pic.twitter.com/USDywSvYih— joycinha (@joycebeff) January 30, 2021
O nome da psicóloga também virou sinônimo para designar pessoas que exageram na problematização ou na militância. Porém, como consequência negativa dessa “brincadeira”, é possível observar a banalização do significado do que é ser realmente um militante. Além disso, a situação levantou outro ponto de debate: as atitudes de Lumena prejudicam que luta pelo fim do racismo?
Em um vídeo do canal Tese Onze, a doutora em sociologia e youtuber Sabrina Fernandes explica que, atualmente, algumas palavras passam por um processo de despolitização, como é o caso de “militância”. Isso acontece porque algumas discussões ganharam mais relevância no debate público, ampliando os envolvidos. Principalmente aquelas que questionam os valores conservadores da sociedade.
Como consequência, algumas pessoas começaram a reclamar da “ditadura do politicamente correto” por sentirem que seus discursos estariam sendo policiados o tempo todo. Porém, Fernandes comenta que o problema ocorre quando elas começam a chamar de militância essas pequenas ações de correção.
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“Na militância, se problematiza muita coisa. Isso faz parte do processo de questionar a realidade. Mas militância não é só a problematização. E só problematizar também não faz de alguém militante”, comenta no vídeo. De acordo com ela, militante é sinônimo de trabalho, porque essa função “significa cumprir tarefas e ter compromissos com o coletivo, um grupo mais amplo de pessoas”, que têm um programa político de construção da sociedade.
Então, quando as pessoas comentam usando a frase “descansa, militante” em publicações nas redes sociais, com intuito de ganhar curtidas, há uma banalização do termo.
Em entrevista à BBC News Brasil, a pesquisadora Daniela Gomes também criticou a ideia de que as atitudes de participantes como Lumena, Karol Conká e Projota prejudicam o movimento negro. “Eles estão ali representando um movimento, uma militância, ou estão representando a si mesmos?”, questiona.
Gomes explica que diversos conceitos importantes são abordados de maneira superficial dentro do programa, e isso contribui para banalizá-los aqui fora. Para ela, o comportamento dos participantes nem deveria ser considerada como ativismo pelo público, porque se trata, no fim das contas, de um reality show que vale um prêmio em dinheiro.
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