No início dessa semana, o relato de Letícia Masako Takahashi viralizou nas redes sociais. No post, compartilhado mais de 62 mil vezes, Letícia pediu a atenção para contar um pouco de sua trajetória acadêmica, interrompida na última segunda-feira (6) quando se desligou do doutorado que estava prestes a desenvolver. O motivo foi o mesmo que atingiu pesquisadores de todas as universidades brasileiras recentemente: o corte de bolsas para pesquisas de mestrado e doutorado.
A devolutiva da universidade à sociedade permeou toda a trajetória de Letícia. Para começar, foi por meio de um cursinho popular oferecido por alunos da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) que ela, aluna de escola pública, conseguiu cobrir a defasagem do seu Ensino Médio e ser aprovada em primeiro lugar no curso de Química na mesma universidade. No relato, ela conta que “a primeira ação de transformação da universidade pública na minha vida foi a oferta do cursinho como projeto de extensão universitária”.
Durante seus anos como aluna da UFTM, as idas e vindas com a pesquisa foram muitas, sempre pelo mesmo motivo: a dificuldade de se manter financeiramente enquanto pesquisava. Durante a graduação precisou desistir da iniciação científica por conta do valor insuficiente da bolsa e da impossibilidade de trabalhar ao mesmo tempo. No mestrado, esteve em vias de sequer conseguir uma bolsa e precisou por um tempo conciliar sua pesquisa com um outro emprego.
Enfim, no começo de 2019 e depois de dois anos exaustivos de pesquisa, Letícia defendeu seu mestrado com resultados muito promissores e descobertas que poderiam ajudar na criação de um novo medicamento para tratamento da leishmaniose. A ideia, no doutorado, era finalmente desenvolver o remédio. Em entrevista ao Buzzfeed News, Letícia falou da importância das pesquisas acerca da doença: “É uma das que mais matam no mundo e o Brasil é um dos países com mais mortes por leishmaniose. As indústrias farmacêuticas têm pouco ou nenhum interesse. Se a pesquisa de doenças negligenciadas não acontece na universidade pública, ela não acontece em lugar nenhum”.
A área de Ciências Biológicas, assim como as outras, foi afetada tanto pelo corte de gastos das universidades públicas quanto pelos cortes destinados à pesquisa, anunciados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) nesta semana. No total, foram cortadas 3.474 bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado que seriam destinados a pesquisadores que ainda começariam suas pesquisas. Ao jornal O Globo, o atual presidente do Capes Anderson Ribeiro Correia declarou que não descarta a possibilidade de que outras bolsas que agora estão ocupadas sejam cortadas quando ficarem “ociosas”.