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Empresários podem vacinar seus funcionários contra a covid-19?

Congresso permite compra de doses pela iniciativa privada, mas isso não necessariamente vai ajudar o Brasil a conter a covid-19. Entenda

Por Danilo Thomaz
Atualizado em 7 abr 2021, 18h37 - Publicado em 25 mar 2021, 18h49
Os empresários Carlos Wizard e Luciano Hang querem vacinar seus funcionários
 (Divulgação/Reprodução)
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A notícia de que um grupo empresários e políticos de Minas Gerais teria tomado vacina contra a covid-19 levantou o debate se a iniciativa privada deveria poder comprar vacinas dos laboratórios. Investigações sugerem que, na verdade, o grupo que quis furar a fila foi alvo de uma fraude, com imunizantes falsos. Mas o tema da compra por empresas ganhou força e virou projeto de lei na Câmara dos Deputados.

Nesta quarta-feira (7), A Câmara aprovou o projeto que permite à iniciativa privada comprar vacinas mesmo antes do fim da vacinação dos grupos prioritários, desde que doe a mesma quantidade ao Sistema Único de Saúde (SUS). A única barreira é que os laboratórios devem honrar antes os contratos que já têm com os governos. Agora, a proposta segue para a análise do Senado. Um dos pontos mais criticados pelos especialistas é que o projeto permite a compra de vacinas não-aprovadas pela Anvisa, o que, na prática, invalidaria seu uso no SUS.

O projeto altera a lei aprovada no fim de fevereiro pelo Congresso, que permitia às empresas adquirir vacinas apenas para doação integral ao SUS até que todo grupo prioritário fosse imunizado. Depois da vacinação do grupo de risco, os empresários teriam que, segundo a lei, doar 50% das doses importadas – como prevê o novo projeto.

A decisão do Parlamento brasileiro vinha sendo contestada por empresários como Luciano Hang, da Havan, e Carlos Wizard, da Sforda. Os dois estiveram com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para pedir a reversão da decisão do Congresso para que  pudessem imunizar seus funcionários em paralelo à vacinação empreendida pelo SUS.

Vacinação privada é uma boa saída?

O Brasil passa o pior momento da pandemia. Há recorde de casos e de mortes. E a vacinação está mais lenta do que o necessário para frear o avanço da covid-19. Diante desse cenário, por que, então, os empresários, tendo condições de comprar vacinas, não podem ajudar o país a combater a doença?

Não necessariamente será fácil comprar vacinas. Hoje há uma escassez de imunizantes no mundo. Isso se deve à alta demanda global e à aquisição em larga escala pelos países mais ricos, numa geopolítica da vacina da qual já falamos no GUIA. Além isso, a vacinação é uma ferramenta de saúde coletiva: não há imunidade individual quando o vírus está circulando sem controle e deve haver uma estratégia para obter os maiores benefícios.

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Vamos entender melhor?

Para impedir a escalada das mortes e reduzir os danos ao sistema de saúde, que já entrou em colapso, é imprescindível que os grupos mais vulneráveis, como os idosos e as pessoas com comorbidades (como obesidade e diabetes), tenham prioridade na vacinação. E os funcionários de uma ou outra empresa podem não fazer parte dessa lista, reduzindo os impactos benéficos que cada dose extra de vacina pode trazer ao país. Claro que é bom ter mais vacinas disponíveis! Mas elas serão ainda mais úteis se forem usadas dentro de uma estratégia bem definida.

A vacinação já vem conseguindo reduzir a gravidade dos casos entre pessoas mais idosas mas, com o vírus circulando sem controle, há muitos casos entre pessoas abaixo dos 65 anos, ainda não vacinadas. Embora, estatisticamente, elas tenham menos chance de evoluir para um quadro grave, isso pode acontecer. Como o número total de diagnosticados está muito alto, essa “pequena” parcela já é suficiente para lotar a rede hospitalar. Com o sistema em colapso, mais pessoas deixam de receber atendimento adequado no prazo correto, com agravamento de seus quadros. Outro ponto de atenção: como têm melhores condições de lutar contra a doença, os mais jovens permanecem mais tempo na UTI, dificultando o gerenciamento dos novos casos, que continuam a chegar.

Por isso, além de vacinar em massa a população mais vulnerável, é fundamental reduzir a circulação do vírus. Essa estratégia dupla foi adotada com sucesso em países como Portugal. Nesse plano, enquanto a vacinação impede a ocorrência de casos graves da doença (isso porque os imunizantes não impedem totalmente a infecção, mas reduzem a chance de evolução grave), as medidas restritivas freiam a circulação do vírus, dando um fim ao descontrole da pandemia.

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O Chile, um dos países que lideram a imunização coletiva no mundo, tem enfrentado um repique de casos de covid-19 – com números semelhantes aos de junho do ano passado. Um dos fatores para o aumento é, precisamente, que o sucesso da estratégia de vacinação levou a um relaxamento nas restrições cotidianas. É sempre importante lembrar: é impossível atingir a imunidade coletiva sem a vacinação em massa da população (acima de 70%).

A preocupação é que a distribuição de vacinas por particulares retarde o programa de imunização, que já está lento no Brasil, e traga um outro agravante: a eventual pressão pelo afrouxamento das medidas restritivas e de distanciamento social mesmo sem segurança para a sociedade como um todo. Afinal, não adianta os funcionários de uma empresa estarem vacinados para que possam circular livremente. É preciso garantir a segurança de toda a comunidade.

Para a estratégia de conter o coronavírus dar certo, é preciso casar a imunização com um desconfinamento planejado. É por isso que medidas como a vacinação de professores, antecipada em São Paulo e outros estados, é importante para determinar a reabertura das escolas sem o risco de um novo pico de casos – e novos recordes negativos.

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