Se, por um lado, a pandemia de covid-19 prejudicou inúmeros setores da economia, por outro, ela impulsionou investimentos em algumas áreas. Uma delas foi o setor da energia renovável, que, segundo pesquisa da BloombergNEF, foi acelerado em 2020. Entre as matrizes energéticas sustentáveis de maior destaque no Brasil está a eólica, produzida a partir da força do vento, que movimenta turbinas e aciona um gerador capaz de transformar as massas de ar em eletricidade.
Atualmente, a energia eólica é a segunda maior responsável pela produção de energia no país, ficando atrás apenas das hidrelétricas. No Brasil, a região de maior destaque em termos de geração é o Nordeste, que compreende 89% de toda a eletricidade produzida dessa forma no país, de acordo com o boletim anual da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) de 2019. Os estados do Rio Grande do Norte, Bahia, Ceará, Piauí e Maranhão estão entre os maiores geradores de energia eólica em âmbito nacional.
De acordo com a gerente de Projetos e Produtos do Instituto Escolhas, Larissa Rodrigues, a energia eólica cresceu muito no Brasil nos últimos anos. “A principal vantagem dessa matriz energética é que ela é uma fonte limpa, não emite gases de efeito estufa e é uma das soluções ideais para garantirmos o abastecimento energético sem agravar as mudanças climáticas”, disse.
Larissa também destacou a vantagem financeira. “Ela é uma fonte barata, o que contribui para diminuir nossa conta de luz. Em tempos de crise energética e de reservatórios hidrelétricos secos, investir em energia eólica é um dos melhores caminhos para sairmos da crise. No Nordeste, onde há ventos em abundância, a energia eólica tem batido recordes de geração e tem conseguido atender toda a demanda de energia da região”, afirmou.
Ventos do Nordeste
O que favorece a região nesse sentido é a maior incidência de ventos aproveitáveis, além da temporada de ventos fortes conhecida como “safra dos ventos”, que costuma acontecer entre agosto e setembro. Esse cenário tem contribuído para fazer da região uma eficiente fonte de energia verde no país.
Ano após ano, o Nordeste tem batido importantes recordes. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) registrou, no último dia 21 de julho, uma geração de mais de 11 mil megawatts na região – o suficiente para atender a quase 100% da demanda elétrica do dia. Assim, o Nordeste impulsiona a produção de eletricidade vinda de fontes renováveis no Brasil, que, hoje, gera cerca de 45% de sua energia elétrica de forma sustentável, sendo destaque no mundo.
As expectativas são de que, conforme os anos passem, a energia eólica comece a representar uma fatia cada vez maior da matriz energética brasileira. Atualmente, a taxa é de 10,7% do total de energia gerada nacionalmente, mas o ONS estima que, até o fim de 2025, o número subirá para 13,6%. Esse crescimento será resultado, principalmente, de novos investimentos que têm sido feitos na área. Em 2021, por exemplo, as usinas eólicas responderam por mais de 70% de todas as novas usinas construídas no Brasil.
História no Brasil
A história da energia eólica no país começou a se fortalecer em 2002, com a criação do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa). O objetivo do projeto era amplificar o uso de matrizes mais verdes, como a eólica e a solar. O primeiro leilão a empresas foi realizado em 2009, captando 9,4 bilhões de reais em investimentos. Na época, entretanto, a geração de energia eólica era aproximadamente cinco vezes mais cara que a hidrelétrica.
Ao longo dos anos, o desenvolvimento de novas tecnologias e o crescente interesse mundial em apostar em alternativas verdes levou a um crescimento notável do setor. Entre 2015 e 2019, a energia eólica gerou mais de 652 bilhões de dólares em investimentos. Atualmente, estima-se que o ramo da energia eólica mobilize cerca de 14 bilhões de reais.
Mais recentemente, no ano passado, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou o financiamento de mais de um bilhão de reais para o Conjunto Eólico Campo Largo, na Bahia, capaz de produzir energia suficiente para abastecer 850 mil domicílios baianos. Além disso, o Laboratório de Aerodinâmica Aplicada de Furnas, subsidiária da Eletrobrás em Goiás, está trabalhando em um projeto de construção de torres eólicas que pode trazer economias financeiras e um aumento na durabilidade dos aparelhos. Com o tempo, o programa pode facilitar a instalação de torres mais baixas com geradores menores para suprir a demanda de regiões mais afastadas no país.
Ares internacionais
Em âmbito global, a Escócia recentemente concluiu a construção do maior parque eólico offshore (ou seja, longe da costa, no mar) flutuante do mundo. Como o ambiente marinho conta com ventos frequentes, o local é propício para a geração de energia eólica. O parque, denominado Kincardine Offshore Windfarm, produz energia suficiente para abastecer até 55 mil residências. O Brasil possui 22 projetos para a geração de energia eólica em alto-mar, mas, por ora, o mercado está aguardando regulamentação.
Desde a instalação das primeiras unidades eólicas no país, em 2011, a capacidade de geração de energia dessa fonte foi multiplicada por 18. Dados de fevereiro indicam que, atualmente, o Brasil conta com mais de 8300 aerogeradores, distribuídos em 695 parques eólicos. Segundo a ABEEólica, a energia originada dos ventos evitou a emissão de quantidades de gás carbônico equivalentes àquelas emitidas por 22,85 milhões de automóveis em 2019.
E é aí que entra a importância dessa fonte de energia: ela pode ser um instrumento vital na luta contra a mudança climática, as emissões de gases de efeito estufa e o aquecimento global. Como a energia eólica usa uma matéria-prima natural, renovável, é fácil de ser produzida no Brasil e não gera poluentes. Diferentemente de combustíveis fósseis, ela é uma excelente alternativa a fontes de energia prejudiciais ao meio ambiente.
Solução para a crise energética
Outra grande utilidade da energia eólica está relacionada ao atual cenário brasileiro. Há alguns meses, o país tem passado por uma grave crise hídrica (a pior em 91 anos), provocada sobretudo pela falta de chuva, pela má gestão de recursos públicos e pela dependência nacional de usinas hidrelétricas. Uma das alternativas colocadas em prática pelo governo federal é o transporte de eletricidade produzida no nordeste a algumas das regiões mais afetadas pela crise, isto é, o Sudeste e o Sul.
Assim, entra cada vez mais em evidência a importância da energia eólica para a prática do desenvolvimento sustentável no Brasil. Além disso, a matriz pode ser uma ótima opção em momentos de crise e uma alternativa excelente para o futuro do país e do mundo.