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Estamos rumando para uma Era das Pandemias?

O surgimento de novas e perigosas doenças tem acelerado e está intimamente relacionado ao desmatamento. Entenda por que

Por Danilo Thomaz
Atualizado em 23 abr 2021, 09h21 - Publicado em 23 abr 2021, 06h19

Ao longo de todo século 20, o mundo defrontou-se com quatro grandes pandemias. As  mais letais foram a da Gripe Espanhola, de 1918, com mais de 50 milhões de vítimas, e a do HIV/Aids, a partir de 1981, com 35 milhões de mortes acumuladas. Neste século, que começou há duas décadas, já foram cinco pandemias! E a da covid-19 já soma 3 milhões de mortos. 

Estudos recentes têm mostrado que o aumento de pandemias não é mero acaso: ele está intrinsecamente ligado ao aumento do desmatamento, sobretudo em regiões tropicais como a América do Sul e o Sudeste Asiático. O Sudeste da Ásia tem 15% do total de área de floresta tropical do mundo e desmatou, em três décadas, uma área de florestas equivalente à Alemanha. A Amazônia, por sua vez, perdeu 724 mil km² de área florestal e vegetal entre 1985 e 2018 – e tem, ainda, enfrentado um aumento exponencial do desmatamento na área brasileira desde 2019. 

Recentemente, médica espanhola María Neira, diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente da Organização Mundial da Saúde (PMS), afirmou que “cerca de 70% dos últimos surtos epidêmicos que sofremos têm sua origem no desmatamento e nessa ruptura violenta com os ecossistemas e suas espécies”. Um estudo recente da Universidade de Cambridge levanta a hipótese de que o desmatamento colaborou para a proliferação do novo coronavírus 

Mas como o desflorestamento – e as consequências ambientais geradas por ele – leva ao surgimento de novas epidemias e pandemias? Vem que o GUIA explica. 

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Biodiversidade

Regiões florestais, como a Amazônia, abrigam um sem número de espécies, entre animais e plantas, mas também vírus e bactérias. Estes, por sua vez, costumam ter os animais como hospedeiros – sejam eles insetos ou animais de maior porte.

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Quando há um processo de desmatamento – seja para pasto ou agricultura ou mesmo para a urbanização – esse ecossistema se desequilibra. E, com a maior proximidade entre animais e seres humanos, aumentam as chances de vírus e bactérias que antes circulavam só no ambiente silvestre “saltem” para a espécie humana. E as condições urbanas, com aglomerações, alto nível de circulação de pessoas e falta de saneamento, são propícias para começar a espalhar esses microrganismos.

Um exemplo de como esse contexto de urbanização sem condições de higiene, alta circulação de pessoas e proximidade entre humanos e animais leva ao surgimento de pandemias é a chamada Peste Negra, que assolou a Europa no século 14. As mortes foram pela peste bubônica, causada pela bactéria Yersinia pestis, transmitida aos humanos por meio da picada da pulga ou de roedores infectados.

A Peste Negra assolaria também cidades como Londres – altamente urbanizada, sem condições de saneamento, com alto fluxo de pessoas e aglomerações – no início do século 17, quando os teatros, muito populares à época, ficaram fechados por dois anos. 

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Urbanização

Já a “mãe das pandemias”, a Gripe Espanhola, espalhou-se pelo mundo – já altamente urbanizado – em 1918 em decorrência da Primeira Guerra. É, digamos, a primeira pandemia de um mundo globalizado e foi transmitida entre os soldados que lutaram no front na Europa.

A doença, causada por uma variante mortífera do vírus influenza (causador da gripe), gerou 35 mil óbitos no Brasil, em especial no Rio de Janeiro, a cidade mais populosa do país naquele tempo. A letalidade da Espanhola na então capital da República está presente no livro “Metrópole à beira-mar: o Rio moderno dos anos 20” (Companhia das Letras), do jornalista e escritor Ruy Castro. As suas consequências para o Brasil estão no livro “A Bailarina da Morte” (Companhia das Letras), de Lilia Schwarcz e Heloisa Starling. 

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Criação de animais

Além das questões decorrentes da urbanização, o desmatamento pode levar ao surgimento de novas epidemias e pandemias em decorrência do modo de produção de animais para consumo humano. Como dissemos acima, a derrubada de áreas vegetais, em muitos casos, é para a pecuária. No caso brasileiro, em geral para a pecuária “extensiva”, onde o gado circula em grandes áreas. Esse modelo requer mais desmatamento, um fator negativo, mas traz menos risco de uma pandemia do que a criação intensiva de animais.   

E essa é a forma de criação adotada para suínos e aves. Esses animais costumam ficar muito concentrados, o que facilita a circulação de vírus e bactérias entre eles e, por decorrência, para a espécie humana. Um exemplo é a Gripe Aviária, de 1997, a chamada “gripe do frango”, que começou em Hong Kong (China). Outro exemplo é a pandemia de 2009 da Gripe Suína, que teve origem no México. Em ambos os casos, os surtos foram causados por variações do vírus influenza.  

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Alterações climáticas

Quantos riscos, não? Mas esses não são os únicos. O desmatamento em em larga escala, sabemos, leva a alterações climáticas e eventos extremos, como furacões, enchentes e secas prolongadas. Mas o caso mais grave é o do Ártico, que tem sofrido um processo intensivo de derretimento, em decorrência do aumento das temperaturas. Com o degelo da camada permafrost (que nunca se derretia e por isso tinha esse nome!), não é impossível imaginar que vírus e bactérias desconhecidos pela humanidade atual ou que haviam sido considerados extintos voltem a circular – causando um estrago considerável no mundo. 

Por essas e outras, precisamos estar muito atentos aos níveis de desmatamento do Brasil e à decisão de líderes sobre a preservação do meio ambiente, como está sendo discutido na Cúpula do Clima. 

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