A falta de representatividade de gênero na lista de obras obrigatórias da Fuvest gerou indignação em um grupo de estudantes da Escola Nossa Senhora das Graças, conhecido como Gracinha, na Zona Oeste de São Paulo, SP. O vestibular, que seleciona estudantes para a Universidade de São Paulo (USP), tem apenas um livro escrito por uma mulher dentre as nove obras cobradas. Elas decidiram, então, criar um abaixo-assinado reivindicando a inclusão de escritoras na lista. Até o momento já reuniram 3,2 mil assinaturas.
Quem pensa que o pouco destaque dado a mulheres na lista do vestibular é coisa recente está enganado. Desde 1993, apenas quatro escritoras figuraram entre as obras obrigatórias da Fuvest: Cecília Meireles, Lygia Fagundes Telles, Clarice Lispector e, mais recentemente, Helena Morley (pseudônimo de Alice Dayrell Caldeira Brant).
Nos últimos 18 anos, o ano em que houve mais autoras na mesma edição foi 1996, quando Romanceiro de Inconfidência, de Cecília, e As Meninas, de Lygia, apareceram juntos. Depois, houve um período de dez anos, entre 2007 e 2017, que a lista não tinha sequer uma escritora. Até 2020, a previsão é que a lista continue com apenas uma mulher – Minha Vida de Menina, de Helena Morley, até a edição do ano que vem, e depois a volta de Cecília com Romanceiro de Inconfidência.
A diversificação das autoras cobradas também é uma pauta das alunas do Gracinha: elas sugerem a adoção dos livros Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, e Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, de Carolina Maria de Jesus. Ambas são negras, e Maria Firmina é considerada a primeira romancista brasileira. Quarto de Despejo já é cobrado na lista da Unicamp desde 2017.
O abaixo-assinado foi feito por alunas que integram o coletivo feminista “Eu não sou uma gracinha”, criado no colégio em 2014. Elas já montaram uma estante feminista na biblioteca da escola só com publicações de mulheres e tiveram a ideia do abaixo-assinado depois de participarem de um workshop do programa “Elas Mudam o Mundo”, que incentiva o empoderamento feminino.