O Doodle, do Google, homenageia nesta quarta (14) o 105º aniversário de Carolina Maria de Jesus. A autora se tornou famosa depois da publicação, em 1960, do livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada. Na obra, ela relata seu cotidiano como catadora de lixo na favela do Canindé, em São Paulo, onde criou seus filhos e viveu a maior parte de sua vida.
Embora a escritora não se reivindicasse feminista, a questão de gênero, assim como a de classe, é muito marcante no livro. A luta de Carolina, mãe solteira, mulher negra e periférica, era pela sobrevivência. A fome e a miséria são elementos constantes na obra:
“Continua chovendo. E eu tenho só feijão e sal. A chuva está forte. Catar lixo chovendo? Impossível. No dia da libertação dos escravos eu lutava contra a escravatura atual – a fome! […]. Atualmente, somos escravos do custo de vida. A tontura da fome é pior do que a do álcool.”
Apesar do sucesso da primeira publicação, traduzido para 14 idiomas, Carolina caiu no esquecimento no final de sua vida. Recentemente, sua obra passou a ser relembrada e celebrada, inclusive com o progressivo reconhecimento de outros autores negros — como, por exemplo, Conceição Evaristo, que se diz discípula da Carolina Maria de Jesus. Desde o ano passado, Quarto de Despejo integra a lista de leituras obrigatórias da Unicamp.
Coincidentemente, hoje, no aniversário de Carolina, completa-se também um ano do assassinato da vereadora e ativista Marielle Franco, outra mulher negra, cria das periferias e que, assim como Carolina, usou sua voz para denunciar as injustiças sociais.