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Guerra do Iêmen: entenda o “conflito esquecido” do Oriente Médio

Apesar dos impactos sociais e econômicos que desencadearam na região, os embates recebem pouca atenção das autoridades mundiais e estão longe do fim

Por Julia Di Spagna
4 jul 2022, 17h42

Considerada pela Organização das Nações Unidas (ONU) a pior situação humanitária do mundo, a guerra do Iêmen já condenou cerca de 20 milhões à fome, além de prejuízos infraestruturais e econômicos praticamente irreversíveis, incluindo a destruição de prédios, escolas, hospitais, fábricas, usinas e a falência generalizada de empresas locais, uma vez que a guerra civil consumiu praticamente todos os recursos e a mão-de-obra disponíveis na região. Em oito anos, mais de 230 mil pessoas foram mortas.

Mesmo com todos esses impactos, o conflito é chamado de “guerra esquecida” por especialistas.

Para te ajudar a entender melhor a origem da guerra, suas consequências e como o tema pode ser abordado nos vestibulares, conversamos com Luis Felipe Valle, professor de Geografia do Curso Pré-Vestibular da Oficina do Estudante e André Freitas, gerente de projetos pedagógicos do Sistema pH. Confira:

Origem do conflito

A guerra civil do Iêmen começou em 2014. De um lado, com o apoio do Irã, estavam os Houthi, grupo xiita considerado uma milícia rebelde. Do outro, estavam o governo de Abd-Rabbu Mansour Hadi e a coalizão sunita que o apoiava. Quando os xiitas tomaram a capital e a parte norte do país, o governo fugiu para o sul, mas manteve-se com apoio de parte das tropas e principalmente com apoio da Arábia Saudita. Assim, a região tornou-se mais um lugar atingido pela polarização de potências militares que divergem sobre questões político-religiosas no Oriente Médio.

“Embora compartilhem do Islamismo, sunitas e xiitas são rivais em uma série de disputas por território e poder no Oriente Médio, além de se oporem nas polarizações desde a Guerra Fria. Enquanto governos sunitas se alinharam aos Estados Unidos, como Arábia Saudita, Turquia e Iraque (até 1990), lideranças xiitas estreitaram laços com a Rússia (antes URSS), a exemplo de Irã, Síria e Líbano”, explica Valle. 

Relembrando

Com a morte do profeta Maomé, em 632, houve discordância sobre quem iria sucedê-lo como líder da comunidade muçulmana. Das divisões que surgiram, os sunitas e os xiitas são os principais grupos. A maioria dos muçulmanos são sunitas, cerca de 85%, enquanto os xiitas representam cerca de 15%. Enquanto os sunitas se consideram o ramo ortodoxo e tradicionalista do islã, os xiitas reivindicam o direito de Ali, genro do profeta Maomé, e seus descendentes de guiarem o islamismo.

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Além disso, segundo o professor, a interferência da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte)  e dos EUA no Oriente Médio trouxe ainda mais instabilidade à região quando, em 2011, teve início a chamada Primavera Árabe, e movimentos populares começaram a levantar-se contra governos considerados autoritários em vários países, incluindo o Iêmen. 

Quando o então presidente Ali Abdullah Saleh foi deposto, após 33 anos no poder, Abd-Rabbu Mansour Hadi assumiu a presidência, gerando insatisfação em grande parte da população iemenita e aumentando tensões que levaram ao início da guerra civil. Exilado, Saleh foi assassinado em 2017, piorando a escalada de violência entre os grupos que lutam pelo poder na região. 

O lugar do Iêmen no Oriente Médio

Embora não seja um país industrializado, rico em petróleo, metais preciosos ou terras férteis, o Iêmen é uma região muito estratégica. É ali que se localiza o estreito de Bab al-Mandab, conexão entre o Mar Vermelho e o Golfo de Áden, uma das mais movimentadas rotas de navios petroleiros do mundo todo. 

“Ainda assim, a guerra parece negligenciada por grande parte da imprensa tradicional internacional e até mesmo pelas Nações Unidas que, embora reconheçam a situação de crise humanitária no país, admitiu que pouco há a ser feito para resolver as crises”, diz o professor da Oficina do Estudante.

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O conflito hoje

Aproveitando a enorme instabilidade política e o desastre econômico que atinge o país, a ação de grupos fundamentalistas como Al-Qaeda e Estado Islâmico têm agravado ainda mais a crise humanitária na tentativa de impor seu comando em territórios afastados da interferência das tropas oficiais. Estes grupos promovem atentados que, na maioria das vezes, atingem civis. 

A região também sofre com ataques aéreos sistemáticos feitos pela força aérea saudita que deixam centenas de vítimas. Para se ter uma ideia, segundo levantamento realizado pela BBC, apenas em fevereiro de 2022 foram mais de 700 ataques aéreos no país. Os rebeldes xiitas também têm sido armados pelo Irã, aumentando a instabilidade e insegurança na região.

Como o tema pode ser cobrado nos vestibulares

Segundo Freitas, do Sistema pH, têm sido raras as questões de vestibular ligadas a conflitos específicos na região do Oriente Médio. Mas como a temática do terrorismo ainda aparece com frequência nas provas – e como mencionado, e a região sofre com a presença de grupos terroristas –, o conflito no Iêmen pode ser cobrado.

Além disso, compreender essa guerra como efeito colateral da Primavera Árabe é um ponto chave para as reflexões trazidas pelos vestibulares. “É importante que os vestibulandos tenham em mente que o discurso sobre o fim da polarização política e econômica global no pós-Guerra Fria, bem como o florescer de democracias populares em substituição a ditaduras teocráticas e militares, revelam apenas a aparência superficial que esconde a atuação de grupos hegemônicos envolvendo EUA, OTAN, Rússia e oligarcas do petróleo no Oriente Médio em uma falsa guerra contra o terror, que parece não acabar nunca”, explica Valle.

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Por fim, as provas também podem fazer questionamentos sobre as atenções que foram dadas à Guerra na Ucrânia, um conflito na Europa, antes mesmo dos ataques russos começarem; e as atenções que não são dadas ao Iêmen, em um conflito que logo completará uma década.

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