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Harvard doa U$100 milhões a um fundo para reparar laços com a escravidão

Descendentes de negros escravizados poderão realizar projetos e pesquisas dentro da universidade

Por Karolina Monte
Atualizado em 19 Maio 2022, 18h20 - Publicado em 27 abr 2022, 16h59
Universidade de Harvard, nos Estados Unidos
 (marvinh/iStock)
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A universidade de Harvard anunciou, na terça-feira (26), a criação de um fundo de doação para bancar programas, projetos e pesquisas que tenham como objetivo a educação e a memória do período escravagista dos Estados Unidos. A iniciativa surgiu após a publicação de um relatório produzido por um comitê que apura o legado da escravidão na universidade. 

O documento aponta que a mais antiga instituição de ensino superior do país beneficiou-se diretamente da exploração racial, mantendo trabalho escravo no campus, lucrando com o comércio escravagista e corroborando com teses eugenistas. O fundo tem como objetivo investir em políticas que reparem o racismo existente ainda hoje na instituição. A medida contará com US$ 100 milhões em doação da própria universidade para alcançar o objetivo.

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O anúncio da criação do fundo foi feito diretamente pelo presidente da universidade, Lawrence Bacow, em carta publicada para os alunos, professores e outros funcionários da instituição. “A escravidão e seu legado fazem parte da vida americana há mais de 400 anos. O trabalho de corrigir ainda mais seus efeitos persistentes exigirá nossos esforços ambiciosos nos próximos anos”, declarou.

Segundo o relatório, a universidade, que foi fundada em 1636 e é uma das mais importantes do mundo, deve imensa parte de sua fortuna ao trabalho escravo. Seus patronos iniciais enriqueceram com a exploração e tráfico de escravizados africanos, trazidos forçosamente para a América.

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Em sua carta, Bacow declara que “Harvard se beneficiou e, de certa forma, perpetuou práticas profundamente imorais. “Consequentemente, acredito que temos a responsabilidade moral de fazer o que pudermos para lidar com os efeitos corrosivos dessas práticas históricas em indivíduos, em Harvard e em nossa sociedade”, completa.

Os autores da investigação que acompanha a carta de Beacow recomendam que, pelo histórico de perpetuação da escravidão realizado pela universidade e por sua imensa importância no mundo educacional, sejam criados programas e incentivos que proporcionem aos descendentes de escravizados em Harvard apoio educacional, além de outros tipos de auxílio, para que possam “recuperar, contar suas histórias e buscar conhecimento empoderador”.

Outras recomendações do relatório incluem o financiamento de programas de verão para levar à Harvard alunos e professores de outras instituições de ensino que possuem baixo financiamento, além de intercâmbio com membros das chamadas Faculdades e Universidades Historicamente Negras (HBCU), associação que atende principalmente à comunidade negra. 

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A escravidão nos Estados Unidos

O auge da escravidão nos Estados Unidos ocorreu entre os séculos 18 e 19. O país, assim como o Brasil, valia-se da mão de obra escrava de africanos retirados à força de seu continente. Em 1776, ano da Declaração de Independência dos Estados Unidos, a escravidão era legal e prática recorrente em todas as chamadas treze colônias.

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Algumas décadas depois, no entanto, um movimento pela abolição varreu o norte do país: dependentes da mão de obra livre, esses estados passaram a aprovar leis que aboliam a escravidão. Os estados ao sul, no entanto, atravessavam o extremo oposto. Calcados em uma economia agrícola, dependiam do trabalho escravo e resistiam às pressões do movimento abolicionista ao norte do país. 

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As tensões entre norte e sul culminaram em uma Guerra Civil, que durou de 1861 a 1865. A escravidão só foi abolida nos Estados Unidos em 1865, com a Décima Terceira Emenda da Constituição dos Estados Unidos da América.

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