Nos últimos meses, você deve ter se deparado com uma série de reportagens sobre os protestos e conflitos que estão ocorrendo na Irlanda do Norte. Algumas consequências do Brexit acabaram reacendendo tensões na região, mas para entender melhor as causas e motivações de cada lado da história, é preciso dar alguns passos para trás e analisar o contexto histórico que levou a essa situação.
Para te ajudar nessa tarefa, conversamos com Daniel Simões, professor de Geografia e Atualidades do Poliedro Curso, Roberta Marquezi Bueno, professora de Geografia do Colégio Oficina do Estudante, e Thomas Wisiak, coordenador de História, Filosofia e Sociologia do Curso Etapa.
Contexto histórico
Em primeiro lugar, é importante entender que a Irlanda do Norte faz parte do Reino Unido, junto com Inglaterra, Escócia e País de Gales. Na prática, eles funcionam como uma unidade política, ou seja, embora tenham certa autonomia, relacionam-se com o mundo como se fossem um só país.
Também é fundamental diferenciar a Irlanda do Norte da República da Irlanda. Lembre-se que a República da Irlanda é membro da União Europeia, mas não faz parte do Reino Unido. Quando a República da Irlanda se tornou independente, em 1921, uma parte do norte da ilha, conhecida também como Ulster (Irlanda do Norte), permaneceu no bloco.
Enquanto a maior parte da população na ilha da Irlanda era católica, o Ulster se diferenciava em função de uma antiga colonização de ingleses e escoceses protestantes. Essas divergências se transformaram em conflitos de fronteira, opondo protestantes e católicos. Além disso, uma minoria católica na própria Irlanda do Norte passou a se manifestar em favor da união da região com a República da Irlanda e separação do Reino Unido, e reivindicar uma maior representatividade no cenário político do país já que a maioria protestante domina o cenário político.
Já nas décadas de 1970 e 1980, esses conflitos se tornaram ainda mais violentos, devido à atuação do movimento separatista armado Exército Republicano Irlandês (IRA), que tentava, por ação armada, pressionar o Reino Unido a ceder a autonomia da Irlanda do Norte há décadas.
No final da década de 1990, alguns acordos foram firmados para acabar com a violência tanto na fronteira quanto dentro da Irlanda do Norte. O Reino Unido concedeu maior autonomia em termos de governo e acalmou a causa separatista.
Atualmente, milhares de pessoas cruzam a fronteira entre a Irlanda e a Irlanda do Norte todos os dias para trabalhar ou estudar.
E no que consistem os conflitos mais recentes?
Com o Brexit (termo utilizado para se referir à saída do Reino Unido da União Europeia), a questão da fronteira na Irlanda voltou a ganhar importância, pois trata-se da única fronteira terrestre entre o Reino Unido e a União Europeia. E como parte da população era contra deixar a União Europeia, isso reforçou o sentimento dos católicos a favor da separação do Reino Unido.
Também vale ressaltar que a República da Irlanda e a Irlanda do Norte são economicamente muito integradas. Enquanto ambos os países eram membros da União Europeia, isso não era um problema. Mas com a decisão do Reino Unido de sair do bloco, a situação se complicou, afinal, como taxar a circulação de bens entre eles agora?
A solução foi o Protocolo da Irlanda do Norte. Ele determina que os produtos podem continuar circulando entre República da Irlanda e Irlanda do Norte, mas criou uma barreira alfandegária entre o último e o Reino Unido, causando uma forte crise econômica no país e revoltando a população – católica e protestante.
“Um acontecimento mais pontual, que também merece destaque, é a questão sanitária da covid-19 envolvendo um funeral de um líder republicano irlandês que aglomerou, sem maiores consequências para os participantes, milhares de pessoas em Belfast durante as medidas de contenção da pandemia no país e gerou revolta em parte da população”, complementa a professora da Oficina do Estudante.
Como esse tema pode aparecer nas provas?
Segundo os especialistas, o tema por si só dificilmente será cobrado nas provas, mas os conflitos podem servir de gancho para outras questões relevantes. “No Enem, por exemplo, não é muito comum cair este tipo de tema. Se acontecer, o aluno precisa saber o básico: localizar o Reino Unido em mapas, onde ficam cada um dos reinos e entender as diferenciações em termos religiosos”, afirma o professor do Poliedro.
Ele explica que, em geral, os vestibulares podem cobrar questões mais superficiais, com tabelas, porcentagem de religião ou comentar ações do grupo armado IRA, que lutou durante décadas ao lado da população católica contra a presença do Reino Unido.
“O tema pode ser abordado também a partir de seu aspecto atual, ou seja, os problemas de fronteira associados ao Brexit ou pelo seu histórico, que remete aos conflitos entre Irlanda do Norte e República da Irlanda; os conflitos dentro da Irlanda do Norte ou, ainda, o histórico de dominação inglesa da ilha e o surgimento dos movimentos que lutavam por independência política”, completa o coordenador do Etapa.