Joe Biden defende o sindicalismo nos Estados Unidos
Apesar da campanha do presidente, trabalhadores da Amazon rejeitaram sindicalização. Relembre o contexto do movimento sindical nos EUA
A defesa do fortalecimento dos sindicatos de trabalhadores tem sido uma constante nos discursos do presidente dos Estados Unidos. Recentemente, Joe Biden chegou a apoiar a sindicalização dos funcionários de um armazém da Amazon no Alabama. No entanto, os trabalhadores rejeitaram a proposta.
Dez anos após o movimento Occupy Wall Street, no qual estudantes e trabalhadores se opuseram ao 1% detentor da riqueza, simbolizado pela elite financeira de Wall Street, o presidente eleito pelo Partido Democrata tem afirmado que os Estados Unidos são um país construído pelo trabalho das pessoas comuns. Essas pessoas seriam os 99% que o movimento representava na ocasião, quando o mundo entrava numa segunda fase da crise iniciada em 2008, e boa parte da população americana vivia ainda os efeitos da quebra do banco Lehman Brothers enquanto Wall Street vivia como se nada houvesse acontecido três anos antes.
Por que o presidente do país mais rico do mundo resolveu comprar essa briga em prol dos trabalhadores? Vamos retroceder para entender
Movimento sindical nos Estados Unidos
A história dos movimentos operários nos Estados Unidos remonta ao século 18, com protestos de trabalhadores contra a redução de salários. No final do mesmo século, menos de vinte anos depois da Independência Americana (1776), os sapateiros da Filadélfia, então capital do país, formaram um primeiro movimento organizado de trabalhadores.
Os movimentos operários e sindicais dos EUA ganhariam força a partir da segunda metade do século 19, com o forte processo de industrialização. Os primeiros sindicatos eram de trabalhadores qualificados, como tipógrafos. Em 1866, é criada a National Labour Union, primeiro sindicato nacional do país reunindo trabalhadores especializados e não especializados, que dura sete anos. Em 1869, é criado o Knights of Labour, que reúne trabalhadores de diferentes especialidades, localidades (rurais e urbanas), gêneros e etnias.
O movimento cresce na década de 1870. Na década seguinte, os protestos ganham força, mas o movimento trabalhista sofre um revés com um ataque à bomba a um policial de Chicago, durante um protesto de 1886.
O New Deal
A crise de 1929 – ocasionada pela quebra da Bolsa de Nova York, após uma década de euforia financeira – leva à maior crise da história dos Estados Unidos, que repercute sobretudo ante os trabalhadores. Em 1933, ao assumir o governo, o Democrata Franklin Delano Roosevelt (1882 – 1945) dá início a um processo de reconstrução do país, o chamado New Deal (Novo Pacto), baseado em investimentos em infraestrutura, geração de empregos, aumento da renda dos trabalhadores e fortalecimento dos sindicatos. O programa determinaria quatro décadas da história americana, marcada pela prosperidade da classe média e da classe trabalhadora que ganharia o mundo via Hollywood.
Lei Taft-Hartley
Em 1947, dominado pelo Partido Republicano, o Congresso americano aprovou a Lei Taft-Hartley, que deu instrumentos às empresas para impedir a sindicalização de seus funcionários.
Crise sindical e os anos Reagan
Nas décadas de 1950 e 1960, líderes sindicais eram acusados pelo governo de envolvimento com o crime organizado. Em 1967, o famoso líder sindical James Hoffa foi preso.
Com a ascensão do republicano Ronald Reagan em 1980, após uma década marcada pela crise política e econômica, tem início um novo momento histórico, com a redução dos impostos dos mais ricos, a ida das matrizes americanas para países subdesenvolvidos e o enfraquecimento, por consequência, dos movimentos sindicais.
A bolha de 2008
A crise de 2008 traz a questão da desigualdade, do endividamento da população e da estagnação dos salários ao debate político americano. A crise financeira ocorreu devido a uma bolha imobiliária. A renda da população não acompanhou o aumento nos valores imobiliários.Em seu governo, Barack Obama busca mitigar a situação por meio de medidas de estímulo econômico.
Já o governo de Donald Trump faz uma defesa mais incisiva da reindustrialização. No entanto, é Biden quem está assumindo uma postura mais contundente em prol dos trabalhadores.
Os desafios
A postura de Biden, todavia, não é garantia de vitória para a massa de trabalhadores, como mostra a derrota dos funcionários da Amazon em se sindicalizar. Fortalecer novamente os sindicatos – de modo a permitir maiores ganhos salariais e direitos aos trabalhadores, valendo-se disso como uma forma de estímulo à economia – fere interesses das grandes companhias, habituadas à alta flexibilidade do país quando o assunto é os direitos dos trabalhadores.