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Xenofobia regional: entenda o preconceito entre pessoas de um mesmo país

Nordestinos são os principais alvos de preconceito dentro do Brasil

Por Giulia Gianolla
Atualizado em 3 out 2022, 18h15 - Publicado em 5 fev 2021, 17h55
Bandeira do Brasil
 (Arquivo/Agência Brasil)
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É comum associar o termo “xenofobia” com situações em que imigrantes ou refugiados são discriminados. No entanto, este tipo de preconceito pode acontecer com pessoas de um mesmo país, principalmente em países de vasta extensão territorial, como é o Brasil. Entenda o significado de xenofobia e como o preconceito se reproduz entre estados e regiões do Brasil. 

O que significa xenofobia?

Xenofobia é um termo que vem do grego que significa “medo do estranho” (xénos + phóbos). De acordo com o Senado Federal, é a “discriminação de diferentes culturas e nacionalidades”, e é um crime passível de punição. Na Constituição brasileira, ela é vetada pela Lei Nº 9.459, de 13 de maio de 1997 e pela nova Lei da Migração, vigente desde 2017.

O professor de Geografia do Curso Anglo Sebastian Fuentes explica o que isso significa, na prática: “A xenofobia é uma aversão ao não nativo. Ou seja, um preconceito com o que não é do seu local de origem”, disse.

Card mostra a definição de xenofobia, de acordo com o Senado Federal.
O post no Instagram do Senado Federal define xenofobia (Senado Federal/Divulgação)

No início da pandemia do coronavírus, um caso comum de xenofobia ocorreu com os chineses. Pelas redes sociais, circularam posts e fake news de que a Covid-19 era um vírus chinês, culpando imigrantes e descendentes asiáticos de levarem a doença para o resto do planeta. Esse preconceito se converteu em assédio verbal e, às vezes, até agressão física.

No caso do preconceito amarelo durante a pandemia, que gerou debates com a hashtag #EuNãoSouUmVírus, Fuentes destaca a presença de outro erro, além da aversão aos chineses: a generalização. “Nem todo asiático é chinês. Houve japoneses, coreanos, taiwaneses sendo tratados como chineses, como um povo só. Só essa generalização já pode ser configurada como xenofobia”, explica.

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Xenofobia regional

Como conta o professor Sebastian Fuentes, a xenofobia acontece “não apenas com o estrangeiro, mas muitas vezes em esferas regionais também.” 

“Esse preconceito, como o que acontece com o Norte e o Nordeste, também se enquadra como xenofobia, porque é uma aversão ao não nativo, ou ao que não parece nativo”, completa Fuentes.

O próprio uso do termo “nordestino” também pode ser visto como xenófobo, dependendo do contexto. “Quando se fala do nordestino, também já é uma generalização. Porque existem vários estados dentro do Nordeste, várias culturas. Não nos referimos ao nativo do Sudeste como sudestino, por exemplo. É o paulista, o carioca, etc…”, comenta Fuentes.

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Em busca de explicações sobre a causa do preconceito com estrangeiros ou pessoas de culturas diferentes, o professor reflete: “pessoas que vêm do Sul ou do Sudeste, muitas vezes, têm uma imagem preconceituosa com o nordestino, seja sobre sua forma de trabalho, de falar, sua postura, sua alimentação. Isso vem do encontro dessas culturas muito diferentes, e de um medo, de uma sensação de ameaça.”

A falta de conhecimento sobre outras culturas é uma das causas da xenofobia e Fuentes afirma que o preconceito nasce de um sentimento de medo do diferente ou daquilo que não é conhecido.

As consequências

A presença da xenofobia no dia a dia de imigrantes pode ter diversos impactos negativos. O professor Fuentes é colombiano e teve sua própria história atravessada por esse preconceito.

Fuentes se mudou para o Brasil com seus pais e seu irmão aos 3 anos de idade. Ele conta como sua família sofreu com o processo de adaptação: “toda minha educação foi no Brasil, então não tenho sotaque. Mas meus pais ainda têm o registro linguístico da Colômbia. Eles viveram a maior parte da vida lá, então, quando vieram para o Brasil, trouxeram um sotaque muito forte”, lembra.

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Por causa da diferença na pronúncia, ele diz que “até hoje, mesmo conseguindo falar português, com um pouco de sotaque, muitas vezes eles não são atendidos, são ignorados. Isso é decorrente de não ter o mesmo sotaque, a mesma pronúncia de um nativo brasileiro”, analisa.

O irmão mais velho de Fuentes sofreu do mesmo problema, mas no ambiente escolar. “Ele veio mais velho, então sofreu muito bullying na escola, por não conseguir se defender, por não conhecer as palavras em português. Ele sofreu violência física dos colegas de escola.”

Imagem e estereótipo 

“Em praticamente todas as situações em que aparece a informação de que sou colombiano, imediatamente alguém relaciona com o tráfico de drogas, sempre de maneira pejorativa”, conta o professor. “Ao longo do tempo, a gente vai conseguindo assimilar, mas de imediato essas ações já levam a uma inferiorização.”

Na foto, o professor colombiano Sebastian Fuentes segura a mão do pai em um passeio pela São Paulo dos anos de 1980.
Na foto, o professor colombiano Sebastian Fuentes segura a mão do pai em um passeio pela São Paulo do começo dos anos 1990 (Arquivo pessoal/Reprodução)

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Durante o período que antecedeu sua naturalização como brasileiro, Sebastian tinha que sair do país a cada três anos, para pedir o visto de entrada novamente. Nesse movimento, visitou vários países vizinhos ao Brasil antes de voltar. A partir desse contato com as outras culturas, ele notou: “ouvimos muito no Brasil que o colombiano, o boliviano, peruano, o venezuelano são todos iguais. Mas quando você os visita, percebe que são extremamente diferentes: na história, no sotaque, na cultura”, reflete. E encerra: “A generalização só agride. Ela não é capaz de construir nada, nem mesmo o mero conhecimento.”

Para denunciar casos de xenofobia, é só entrar em contato com o disque dos Direitos Humanos – Disque 100. Ele é destinado a receber demandas relativas a violações de Direitos Humanos, em especial as que atingem populações de vulnerabilidade.

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