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O fenômeno das exposições imersivas

Tecnologia vem sendo utilizada para proporcionar experiências sensoriais em exposições imersivas

Por Redação do Guia do Estudante
Atualizado em 20 Maio 2022, 18h41 - Publicado em 19 Maio 2022, 14h54

Por Diogo Barros*

A ideia de experiência na arte foi se modificando ao longo do tempo na medida em que os processos artísticos buscaram ultrapassar os limites do que é considerado uma experiência em si. Para entender o fenômeno do surgimento de tantas exposições imersivas ao redor do mundo, é necessário olhar para a ideia de imersão na arte em outros momentos da história.

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Contemplar uma pintura, percorrer uma escultura, manipular um objeto como um Bicho de Lygia Clark ou dançar vestindo um Parangolé de Hélio Oiticica – todas essas são formas próprias de se experienciar a arte. As instalações artísticas podem ter sido um grande avanço para arte enquanto ambiente de imersão. Essa linguagem que abriga tantas possibilidades se popularizou no campo da arte enquanto as definições dos suportes tradicionais estavam sendo diluídos e misturados, especialmente na década de 1960.

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Os Penetráveis de Oiticica, por exemplo, foram desenvolvidos a partir do começo deste período, extrapolando os limites da escultura e demonstrando a importância da cor na experiência sensorial, configurando assim uma obra imersiva.

Onde entra a tecnologia no apelo à experiência?

A incorporação de tecnologias nos processos artísticos e nas curadorias em instituições culturais – em especial as localizadas em centros urbanos -, tem atualizado as possibilidades de experiência em exposições de arte. Ferramentas como projetores de alto alcance e telas interativas, entre outras, são utilizadas para ampliar a experiência com obras de artistas consagrados – especialmente na pintura -, ou se tornam o suporte para artistas emergentes nas artes digitais.

Inaugurado em 2018 na cidade de Paris, o Atelier des Lumières é uma referência internacional em espaços imersivos. Apenas no primeiro ano, o espaço recebeu mais de 1,2 milhão de visitantes. Por lá já passaram exposições de artistas como Gustav Klimt, pintor simbolista considerado um dos mais importantes artistas austríacos, assim como obras inéditas de artistas em atividade.

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No Brasil, exposições de caráter biográfico e panorâmico sobre a obra de grandes nomes da história da arte se tornaram o modelo mais popular nesse contexto. Após o sucesso internacional do Atelier des Lumières, as exposições imersivas baseadas na obra de Van Gogh surgiram em diversos espaços do país. A mais recente é a “Beyond Van Gogh”, em cartaz em um espaço do Shopping Morumbi, que revisita a obra do conhecido pintor holandês através da projeção de mais de 300 pinturas, acompanhadas de trilha sonora e depoimentos.

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É possível afirmar que este tipo de exposição veio para ficar pelo fato de São Paulo já possuir um espaço fixo dedicado a este tipo de exposição, que é o MIS Experience – instituição irmã do Museu da Imagem e do Som de São Paulo. Inaugurado em 2019 no bairro da Água Branca, já apresentou uma exposição imersiva sobre Leonardo da Vinci, repleta de projeções, trilha sonora e invenções inspiradas nos projetos do mestre renascentista. Agora, é a vez do pintor Candido Portinari ser homenageado pela instituição em uma exposição que utiliza recursos tecnológicos para revisitar a vasta obra do artista, que produziu mais de 5 mil trabalhos ao longo da vida.

A exposição Portinari para todos tem curadoria de Marcello Dantas, que pensou em estratégias para trazer a obra de Portinari ao público através de reproduções em alta resolução. Isso ganha mais sentido a partir do momento em que a maior parte da obra do pintor está em coleções particulares, e não em exibição pública. Maquetes dos edifícios que receberam obras de Portinari, telas digitais interativas, retratos animados, salas sensoriais e projeções se unem para formar um conjunto de espaços com diferentes propostas de imersão e contato, ampliando as possibilidades de fruição para os visitantes. Além da tecnologia, um elemento orgânico como o grão de café torrado é colocado no espaço expositivo para aguçar outros sentidos.

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A capital carioca também está investindo neste tipo de exposição e recentemente inaugurou uma exposição com projeções de 285 obras do pintor impressionista Claude Monet. Intitulada Monet à Beira D’Água, a exposição está montada no Boulevard Olímpico, na Região Portuária do Rio de Janeiro, sendo uma parceria do Museu de Arte do Rio, que também receberá intervenções sobre Monet em suas dependências.

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Além desta, uma exposição sobre Van Gogh também está em cartaz no Rio. O diferencial de Van Gogh e seus Contemporâneos – Exposição Imersiva é relacionar a obra do holandês com outros mestres como Cézanne, Gauguin, Toulouse-Lautrec, Soutine e Modigliani, ícones pós-impressionistas e representantes da arte moderna europeia.

Redes sociais e o espaço instagramável

A popularização das exposições imersivas acompanha o aumento geral da visitação de diversos públicos aos museus e demais espaços culturais. No momento em que praticamente tudo que é vivenciado é registrado e postado na internet, a experiência na arte não poderia escapar. Enquanto esses fragmentos de pinturas tomam conta do espaço expositivo, a arte passa a ser vista também como um pano de fundo para os registros que viralizam nas redes sociais.

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Essas exposições podem ser vistas como uma vertente experimental da curadoria. Busca-se, nesse meio, estimular o máximo de sentidos de quem vivencia esses espaços. Cheiros, sons, vibrações, controle de temperatura, tudo isso se torna ferramenta para colocar o corpo em um novo estado. Assim, o ato de contemplar e todas as ações já conhecidas na arte se integram em um contínuo esforço em descobrir quais experiências ainda podem ser vivenciadas e como a tecnologia pode auxiliar neste caminho.

*Diogo Barros é curador, arte educador e crítico, formado em História da Arte, Crítica e Curadoria pela PUC SP.

Este texto foi originalmente publicado no blog da ARTSOUL

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