Na manhã do dia 10 de março foi anunciada a falência da principal instituição financeira americana investidora de startups, o Silicon Valley Bank (SVB). Dias depois, mais um para a conta: o Credit Suisse, banco europeu considerado uma das 30 instituições grandes demais para falir, praticamente faliu. Ele acabou sendo comprado por outro banco, o UBS, como medida para conter a crise que só se acentuava.
Foi um rebuliço no mercado financeiro e até mesmo nos círculos políticos de diversos países. Havia um temor de que a falência dos bancos tivesse efeito dominó, causando um colapso do sistema econômico mundial. Afinal, a história parece mais um dejà vu: dois grandes bancos falindo, gerando implicações na economia de diversos países e mergulhando o mundo em uma recessão.
Apesar dos paralelos entre o cenário atual e o de 2008, quando bancos americanos faliram e os Estados Unidos entraram em crise, arrastando boa parte do mundo, as crises têm raízes bastantes distintas. Isto é, a razão para uma acontecer não é a mesma da outra. Nesta matéria, te explicamos a origem da crise atual, que tem como protagonista o Silicon Valley Bank, e o que foi a crise de 2008, de origem distinta.
O caso do Silicon Valley Bank
Entender como o SVB foi do sucesso ao colapso em tão pouco tempo exige algum esforço – afinal, é difícil fugir do “economês”. Resumidamente, o banco vinha concedendo empréstimos para pequenas empresas com taxas de juros muito baixas, contrariando o movimento inflacionário. Quando o Federal Reserve – que corresponde ao Banco Central do Brasil – estipulou taxas de juros mais altas a partir do início de março, o SVB mergulhou em uma crise.
O banco teve de reduzir as concessões e investimentos que vinha fazendo em startups que, por sua vez, passaram a retirar o dinheiro que tinham investido, começando uma debandada. As consequências foram rápidas e avassaladoras.
Com medo de perderem todo o dinheiro depositado caso o banco falisse, outros clientes começaram a sacar os valores que tinham em suas contas, e foi justamente essa ação em massa que fez com que a instituição financeira perdesse todo o seu capital. O SVB quebrou. A gestão do banco foi tomada por órgãos reguladores americanos, como o Federal Reserve.
Crise financeira de 2008
Em 15 de setembro de 2008, foi anunciada a falência do gigantesco banco americano Lehman Brothers, seguido por Bank of America, Washington Mutual, a seguradora AIG e até empresas de outros setores, como a General Motors e a Crysler. O motivo? a derrocada do sistema imobiliário americano.
O mercado imobiliário americano, na época, funcionava da seguinte maneira: os bancos concediam empréstimos para a compra de imóveis, as chamadas hipotecas, com taxas de juros abaixo do mercado para quem quisesse financiar, inclusive quem não possuía renda suficiente para comprovar que poderia pagar as parcelas no futuro. A garantia deste empréstimo era o próprio imóvel, caso a pessoa não conseguisse pagá-lo.
Por conta do crédito fácil disponibilizado pelos bancos, a procura pelo financiamento de imóveis explodiu – afinal, era muito fácil obtê-lo e as parcelas eram muito baixas.
Outro movimento dos bancos financiadores também acelerou imensamente a crise de 2008. Além das pessoas que queriam comprar uma casa como forma de investimento, as instituições financeiras passaram a dar créditos para os chamados clientes “subprime“, categorizados como pessoas de baixa renda e/ou desempregadas, endividadas ou que não poderiam comprovar renda. Esse tipo de cliente é considerado de alto risco para os bancos, pois as chances de inadimplência – ou seja, de não haver um pagamento das parcelas – é grande.
Para completar, os bancos passaram a transformar esses empréstimos contratados em crédito imobiliário, títulos. Era como fazer um investimento: um investidor, seja ele uma pessoa comum ou uma outra instituição, comprava do banco o direito sob a hipoteca. Quanto maior o risco dela – ou seja, a chance de inadimplência – maior a taxa de juros a ser recebida.
Os bancos estavam vivendo um delírio financeiro, emprestando dinheiro para quem possivelmente não poderia pagar, mas inicialmente recebendo altas taxas de retorno. Por conta da alta procura, os imóveis começaram a ficar mais caros. Não porque seus valores reais tivessem aumentado, mas por causa da demanda. Até que tudo começou a desandar.
As taxas de juros, que no início dos financiamentos eram baixas, aumentaram após algum tempo para acompanhar a inflação, que estava cada vez mais alta. A população, paralelamente, começou a ser afetada e sentir os efeitos da crise econômica: os produtos tornavam-se mais caros e a renda não acompanhava. Começaram os calotes.
Sem os pagamentos dos financiadores, os bancos não tinham dinheiro para suas operações financeiras e futuros empréstimos. E sem créditos para empréstimos, o setor imobiliário sofreu uma forte queda nos preços dos imóveis. Tudo se inverteu: a oferta ficou muito grande e a demanda, subitamente, caiu.
Mesmo com a tomada dos imóveis pelos bancos credores, as instituições financeiras continuavam sem dinheiro para operações. E foi assim que, em setembro de 2008, começou a falência generalizada de bancos americanos que deu início a uma dura recessão mundial.
Para ir além
A crise de 2008 foi pano de fundo para inúmeras produções culturais, entre livros e filmes. Uma boa referência é o longa-metragem A Grande Aposta (2016), que conta a história de quatro investidores que previram o estouro da bolha imobiliária e decidiram apostar contra os bancos, ganhando bilhões na operação.
Outro filme conhecido sobre o tema é Grande Demais para Quebrar (2011). Baseado no best-seller americano, o longa narra a história de um banqueiro na busca por uma solução que impeça o gigantesco banco Lehman Brothers de ir à falência.
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