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Por que a Geração Z está tão deprimida?

Não está fácil ser jovem. As redes sociais, é claro, estão no centro do problema, mas a pobreza e até a polarização política podem entrar na conta

Por Taís Ilhéu
12 jul 2023, 17h19

A psicóloga americana Jean Twenge, professora na San Diego State University, entende que muita gente não é exatamente receptiva ao trabalho que ela desenvolve há décadas. “Às vezes, quando você fala sobre diferenças entre gerações, as pessoas podem presumir que se tratam de críticas”, afirmou em entrevista ao The Washington Post em abril deste ano. “Para mim, não se trata de forma alguma de criticar. É sobre entender.”

É essa busca por respostas que movimenta suas pesquisas há anos, e que a levou, mais recentemente, a procurar as raízes de um fenômeno que é praticamente consenso entre pesquisadores e psicólogos que se debruçam sobre o tema: a Geração Z, dos nascidos entre 1995 e 2012, sofre mais emocionalmente do que as anteriores. E não faltam dados confirmando essa tese.

Desde 1991, a Universidade de Michigan conduz uma pesquisa anualmente com 50 mil estudantes do final do Ensino Fundamental e do Ensino Médio nos Estados Unidos. Os adolescentes devem dizer o quanto concordam com afirmações como “eu não consigo fazer nada direito”, “minha vida não é útil” ou “não gosto da minha vida”. Foi a partir de 2012 que os pesquisadores notaram um movimento incomum: se até ali cerca de 20% diziam não gostar de suas vidas, daquele ano em diante a taxa subiu para mais de 50%.

Outras pesquisas mostram que o fenômeno é mundial e não se restringe apenas aos Estados Unidos: segundo a Unicef, organização da ONU voltada à infância, cerca de 16 milhões de crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos sofria de transtornos mentais na América Latina em 2021. Na região, o suicídio já é a terceira principal causa de morte nesta faixa etária.

O que a psicóloga Jean Twenge e outros ao redor do mundo tentam agora é entender as causas de tanto sofrimento – e ela já tem uma hipótese. Em seu livro “Generations”, Twenge compila os dados da Universidade de Michigan e aponta que o aumento do pessimismo entre os adolescentes da Geração Z coincidiu com dois grandes eventos: o número de pessoas com smartphones nos Estados Unidos, que cruzou a linha dos 50% da população justamente em 2012, e o boom das redes sociais como o Instagram e o Snapchat.

Apesar de ser inconcebível um mundo sem a internet e suas infinitas possibilidades, os acontecimentos recentes indicam também que ela é espaço fértil para ciberbullying, disseminação de discursos de ódio e até abusos. Muitos dos ataques a escolas ocorridos este ano no Brasil foram planejados e insuflados nas redes sociais, e recentes denúncias revelaram práticas de abuso sexual e tortura por meio da plataforma Discord.

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Outras questões mais subjetivas, como os padrões de beleza e de estilo de vida impostos pelas redes, também pesam na balança emocional. “A permanente comparação dos jovens com outros – tanto sua vida como seus corpos – aumenta problemas relacionados ao ânimo e à ansiedade”, afirmou a psiquiatra infanto-juvenil chilena Ana Marina Briceño, em entrevista à BBC News.

Mas, para Briceño, a depressão geracional enfrentada pelos adolescentes é multifatorial e não pode ser resumida exclusivamente às redes sociais. O isolamento social experimentado durante a pandemia, por exemplo, teve forte influência. A psiquiatra afirma ainda que o problema pode, simplesmente, estar mais visível do que era décadas atrás. “Sempre se questiona se a sociedade está hoje mais capaz de ver esses problemas, que antes provavelmente ficavam mais ocultos”, diz.

A Geração-Z do sul global

Não é só a opinião pública que tem certas ressalvas quando o assunto são gerações e seus estereótipos. Os cientistas que estudam o assunto também enfrentam algumas batalhas dentro do universo acadêmico, que muitas vezes é cético à própria ideia de que existem gerações. Como, afinal de contas, afirmar que adolescentes do mundo todo compartilham dos mesmos dilemas e da mesma maneira de ver o mundo simplesmente por crescerem na mesma época?

A professora Twenge afirma ter encontrado alguns pontos de contato bem importantes entre esses jovens, como preferências políticas, a própria composição psicológica e padrões de comportamento. E sem dúvidas há elementos que atravessam a vida da maioria deles, como ter crescido na era das redes sociais e ser a primeira da história a não se lembrar de como era o mundo pré-internet. Mas também é inegável que os diferentes contextos político e socioeconômico em que os adolescentes crescem podem afetar de diferentes maneiras sua saúde mental.

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Um relatório encomendado pela Plan International, organização em prol do direito das crianças e da inclusão de meninas, entrevistou adolescentes do Brasil, da Índia e do Quênia para investigar o que afetava a saúde mental nesta faixa etária em países menos desenvolvidos. Apesar de algumas diferenças, os entrevistados dos três países atribuíram a fatores externos seu sofrimento mental, em especial à pobreza, à violência e à desigualdade de gênero.

A pesquisa reforçou que os impactos tendem a ser maiores para as meninas, algo que outros estudos acerca da Geração Z já haviam constatado. Mas aqui, para além da pressão estética enfrentada nas redes sociais, apareceram outros fatores próprios de nações empobrecidas: o medo da violência e até a pobreza menstrual, já que muitas meninas não tinham acesso à absorventes durante a menstruação.

A política da depressão

E já que o assunto é identificar a causa da depressão, ansiedade e outros transtornos mentais que afligem os adolescentes, um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, deixou uma contribuição que destoa um pouco das apresentadas até então. Nem só redes sociais, pandemia e a crise econômica: essa tristeza geracional também pode ter a ver com a polarização política. E mais: quem se identifica à esquerda do espectro político sai em desvantagem nessa.

Intitulado “A política da depressão”, o estudo publicado na revista acadêmica SSM Mental Health apontou que há uma correlação entre a incidência de depressão e a orientação política dos jovens que frequentam o último ano do Ensino Médio. As taxas são significativamente maiores entre as adolescentes meninas identificadas como “liberais” – que, nos Estados Unidos, correspondem à esquerda. Os meninos conservadores são os que menos sofrem da doença.

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A tese elaborada pelos autores do estudo para explicar essa diferença é de que os jovens de esquerda são mais sensíveis aos problemas que a sociedade atravessa, como “guerra, aquecimento global, tiroteios nas escolas, racismo estrutural, violência policial contra negros, machismo generalizado e desigualdade socioeconômica desenfreada”.

Como pedir ajuda

O Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma associação sem fins lucrativos de apoio emocional e prevenção ao suicídio. É possível entrar em contato acessando o site e falando pelo chat, escrevendo um e-mail ou se dirigindo ao posto de atendimento mais perto de sua casa.

Também é possível pedir ajuda ligando gratuitamente para 188.

 

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