Qual é o perfil do estudante de Ensino Médio no Brasil?
O estudante tem melhores condição de entrar na universidade hoje? Veja o que alguns dados mostram
Você está no Ensino Médio? Já parou para pensar em quantas pessoas na mesma idade que você estão matriculadas nas escolas e quantas têm ou não acesso à internet? Pois é. Guia fez esse levantamento – com base nos dados disponíveis. Leia até o fim – temos assuntos importantes a tratar.
Quem faz o Ensino Médio no Brasil?
A maioria dos jovens com idade para isso. Cerca de 89,2% da população de 15 a 17 anos frequenta a escola. Em 2020, segundo o Censo Escolar, foram realizadas 7,55 milhões de matrículas no Ensino Médio, um ligeiro avanço (1,1%) em relação a 2019. O pequeno aumento – em pleno ano da pandemia – interrompeu uma trajetória de queda. Entre 2016 e 2019, o número de matriculados foi de 8,2%.
Todos os estudantes matriculados terminam o Ensino Médio?
Infelizmente, não. No Brasil, segundo o Panorama da Educação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), apenas 53% dos ingressantes no Ensino Médio em 2014 concluíram essa etapa de ensino em sua duração teórica (de três anos). Cerca de 60%, dos ingressantes daquele ano o concluíram até 2018. Um problema histórico que persiste, apesar dos avanços do país na área. A média de estudantes que concluíram o período completo entre os países analisados pelo estudo é de 72%.
Neste caso, a situação dos meninos é pior que das meninas, de acordo com o mesmo índice. Isso acontece no mundo todo. “O percentual médio de conclusão do Ensino Médio (em sua duração teórica) das mulheres (76%) é maior do que o dos homens (67%) […]. Considerando a duração teórica do programa mais dois anos, as mulheres alcançam 84% e os homens 78%”, afirma o relatório.
Onde estudam?
Do total de estudantes, 83,3% dos alunos do Ensino Médio estudam no período diurno e 16,7% no período noturno. A expressiva maioria – 94,8% – frequentam escolas urbanas.
Na idade certa?
Outro dado preocupante diz respeito à distorção idade-série, ou seja, o percentual de alunos que cursa uma série que, em tese, deveria ter cursado em outra idade. Esse índice foi de 26% em 2020. Mas houve avanços consideráveis. Em 2006, início desta série histórica, o índice era de 45%. Os dados abrangem escolas públicas e privadas.
A desigualdade na distorção idade-série é visível quando se analisa alunos de escolas particulares. Nestas, a distorção é de somente 7%. Enquanto nas escolas públicas foi de 29%.
Onde esses alunos estão matriculados?
Do total de estudantes matriculados no Ensino Médio, 84,1% estão matriculados nas escolas das redes estaduais. A rede privada, com cerca de 926 mil alunos, tem uma participação de 12,3% nas matrículas.
As escolas da rede pública lideram também no número de alunos matriculados em período integral – e esse número, felizmente, vem avançando. Em 2016, 6,7% dos alunos do Ensino Médio estavam matriculados no ensino de período integral. Em 2020, o número mais que dobrou, passando a 13,8%. Na rede privada o crescimento foi menor: de 3,8% para 5,4%.
Acesso à internet
A desigualdade no acesso à internet, um dos assuntos mais discutidos em 2020, revela duas realidades. A primeira é a desigualdade entre a rede pública – estadual e municipal – e a rede privada. A segunda é a desigualdade dentro do universo das escolas públicas.
Segundo o Censo Escolar, há pouca diferença nos números de escolas com acesso à internet. Os dados apontam que 99,8% das escolas federais, 95,8% das escolas estaduais, 92,9% das municipais e 99,3% das escolas particulares têm acesso à internet.
As discrepâncias começam a surgir quando entram os dados de acesso à internet de banda larga. Enquanto 98,2% das escolas federais acessam esta rede – número maior que o das particulares (92,5%) – nas escolas estaduais e municipais esses percentuais caem para, respectivamente, 80,4% e 78,1%.
Os dados de desigualdade são ainda piores quando se observa o acesso à internet para os alunos. Neste ponto, as escolas federais lideram isoladas, com um percentual de 98%. As particulares, em segundo lugar, trazem um percentual de 69,8%. As estaduais e municipais têm, respectivamente, índices de 64,6% e 46,4%.
Cerca de 99% das escolas federais têm computador de mesa para alunos – número bem maior que nas escolas particulares (80%). Já nas estaduais o índice é relativamente menor que nas particulares – 79,3%. Apenas 71,6% das escolas municipais têm computadores de mesa para os alunos. Os índices caem consideravelmente quando se olha os dados de computadores portáteis e tablets para alunos. Neste caso, as escolas particulares lideram com percentuais de, respectivamente, 53,5% e 31,8%. As escolas federais, em segundo lugar, apresentam (na mesma ordem) índices de 48,1% e 27,5%. No caso das instituições estaduais, 36,3% têm computadores portáteis e 13,1% tablets. Em último lugar, as municipais têm percentuais de, respectivamente, 35,5% e 4,9%.
Quanto se investe em educação?
Neste ponto, o Brasil vai bem, em comparação com os demais países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em 2017, nosso índice era de 5,1% do PIB, segundo o Panorama da Educação do INPE. Entre países membros e parceiros do órgão, o índice é de 4,1%.
Quantos professores há por aluno?
Neste dado também vamos bem. A chamada razão aluno-professor no Brasil é uma das maiores entre os países membros e parceiros da OCDE. Nos anos iniciais do ensino fundamental, enquanto a média dos países é 15 alunos por professor, no Brasil, é 24. Já nos nos anos do Ensino Fundamental e nos anos do Ensino Médio, a média dos países é 13 alunos por professor. No Brasil é 25 e 24, respectivamente.
Estamos, então, rumando para o futuro?
Há avanços, que devem ser considerados e devem ser defendidos.
Uma pesquisa divulgada pelo IBGE em 2020 mostrou que, em 2018, 50,3% dos alunos das universidades públicas declaravam-se negros. Pela primeira vez na nossa história, a proporção de negros era maior que a de brancos. Como no Brasil a questão étnica se inflexiona com a social, não estamos somente falando em representatividade, mas também em inclusão.
No entanto, estamos vivendo retrocessos preocupantes em algumas áreas: a crescente deterioração das universidades, que vem sofrendo cortes orçamentários ao ponto de terem seu funcionamento inviabilizado; a queda no número de inscritos no Enem, em razão da pandemia de Covid-19, de questões orçamentárias do governo e até mesmo da situação financeira dos estudantes, que vêm enfrentando uma série de dificuldades para obter a isenção nas taxas de inscrição. O número de inscritos no Enem 2021 foi de pouco mais de 4 milhões de estudantes, o menor número desde 2007. A queda, em comparação a 2020, foi de 2 milhões de pessoas.
Sem uma política continuada de acesso ao ensino – que comece na educação infantil até a pós-graduação – e medidas de estímulo econômico que permitam a esses estudantes terem segurança financeira para estudar e, uma vez formados, possam se inserir no mercado de trabalho, os avanços recentes podem ter sido em vão. E o futuro adiado mais uma vez.
Acesse os relatórios completos