Nas aulas de História, você provavelmente passou um bom tempo se aprofundando nas características das chamadas Revoluções Industriais. Cada uma envolveu uma série de mudanças e avanços tecnológicos que impactaram a sociedade em diversos setores.
A mais recente merece uma atenção especial. Além de afetar diretamente as relações cotidianas, o tema já tem sido explorado nos vestibulares e pode aparecer nas provas do final do ano.
A Quarta Revolução Industrial teve início na década de 2010 e pode ser resumida como o uso das tecnologias vinculadas à internet para a melhoria e transformação da produção industrial.
“É uma nova maneira de produzir, consumir e se relacionar com mercadorias, produtos, serviços e dinâmicas interpessoais, que está em processo de emergência em função da convergência das tecnologias digitais, físicas e biológicas”, explica Marina Miorim, professora de Sociologia do Colégio Rio Branco.
Principais características
Assim como as anteriores, a Quarta Revolução Industrial apresenta um conjunto de características que permitem identificá-la. Confira as principais, listadas por Marina Miorim e Sebastian Fuentes, professor de Geografia do Curso Anglo:
- Uso dos conhecimentos e tecnologias da engenharia genética e das neurotecnologias;
- A fusão, como já mencionado, das tecnologias digitais, físicas e biológicas;
- Tendência de automatização das fábricas, com o uso da inteligência artificial, da própria computação em nuvem e dos processos em rede, que são próprios da internet;
- Transformações na estruturação do mercado de trabalho;
- A velocidade, o alcance e o impacto das transformações no sistema produtivo e nas estruturas socioculturais de maneira mais abrangente, dinâmica e rápida;
- Necessidade de uma mão-de-obra qualificada;
- E, por fim, a desigualdade.
Impactos da Quarta Revolução Industrial
Uma das principais consequências dessa revolução é o desemprego estrutural. Afinal, será necessário que os trabalhadores sejam cada vez mais qualificados dentro da lógica da Quarta Revolução Industrial.
“Alguém que quer ser médico, por exemplo, não pode querer apenas ser um bom cirurgião, pois há um aumento do uso de máquinas e robôs que podem fazer uma cirurgia com muito mais acurácia, detalhamento e certeza do corte do que a mão de um ser humano. Então, o profissional precisa se habilitar para lidar com essa inovação no seu dia a dia ou ficará para trás. E isso vale para diversas profissões”, explica o professor do Anglo.
Considerando as diversas desigualdades no mundo, é importante refletir se toda a população, ou ao menos a maior parte dela, terá acesso a tal qualificação, ou se acabará excluída do mercado de trabalho e ainda mais relegada às margens da sociedade.
Assim, a Quarta Revolução Industrial tem o potencial de criar o que alguns pesquisadores têm chamado de “darwinismo tecnológico”: quem não estiver adaptado ao modelo, pode não conseguir um espaço no mercado de trabalho – e, por consequência, em outras esferas da vida social.
“Um exemplo é o atendimento nos serviços públicos quando intermediados por essa lógica cibernética. A pessoa passa a não ter acesso a serviços e produtos fundamentais para uma vida digna”, diz Miorim.
Além disso, esse processo pode transformar profundamente a sociabilidade e os princípios éticos que estão postos na sociedade atualmente.
Geopolítica
A nível global, uma das consequências da Quarta Revolução Industrial é o aprofundamento das desigualdades entre países ricos e pobres.
A indústria se tornará cada vez mais produtiva, barata e interligada. Na prática, isso representa uma corrida dos países para incorporarem novas tecnologias e se inserirem na lógica da Quarta Revolução. O problema, avalia o professor do Anglo, é que com menos acesso a recursos e oportunidades para implementarem mudanças, quem fica mais longe da linha de chegada são as nações menos desenvolvidas.
“Os países que não conseguirem se inserir na Quarta Revolução, por qualquer que seja o motivo, começarão a ficar cada vez mais isolados, não só geopoliticamente, mas tecnologicamente. O resultado será um isolamento dos países menos desenvolvidos e um abismo cada vez maior entre as nações”, afirma Fuentes.
Apesar das empecilhos, as economias emergentes carregam uma vantagem que, na avaliação da professora Marina Miorim, pode auxiliar no processo de transição para essa nova era industrial: suas populações gigantescas, cada vez mais inseridas nas dinâmicas de consumo global.
“Além disso, o que se tem visto são os mercados emergentes da Ásia adotando essas transformações de uma forma mais intensa. Inclusive, alguns especialistas destacam o fato que esses mercados asiáticos as adotam mais rapidamente que os próprios países mais desenvolvidos”, explica a professora de Sociologia.
Essa inserção gera uma nova dinâmica geopolítica, com novos atores que podem vir a se consagrar como fundamentais para uma Nova Ordem Mundial.
Vale ressaltar que a Quarta Revolução Industrial está sendo liderada por diversos países, como China, Coreia do Sul, Japão, Alemanha e Estados Unidos. O destaque, é claro, vai para a China, despontando com a tecnologia 5G.
Fuentes e Miorim também destacam pontos positivos dessa nova era da indústria, como a possibilidade de novos produtos, uma melhora na produtividade, um crescimento econômico maior em algumas regiões e, principalmente, a sustentabilidade dessa produção, diminuindo os impactos ao meio ambiente.
Como o tema pode aparecer nos vestibulares
Os vestibulares já têm cobrado algumas questões sobre o assunto. A chamada internet das coisas, a interligação entre os sistemas produtivos e a própria ideia da inteligência artificial, por exemplo, são temas frequentes nas provas.
À princípio, os estudantes devem conseguir explicar as características, as consequências e os principais países envolvidos nesse processo. Além disso, para as provas, é importante saber reconhecer a Quarta Revolução Industrial como um processo em curso que pode alterar significativamente a vida humana – tanto em relação às tecnologias como às relações econômicas.
“Vale lembrar que, como processo histórico, os estudantes devem ser capazes de identificar as semelhanças e diferenças desse fenômeno em comparação com a Primeira, Segunda e Terceira Revolução Industrial. E eu destacaria, ainda, que pode ser cobrada uma relação entre a Quarta Revolução Industrial e a teoria de Michel Foucault, na qual se discute a questão do Biopoder e do controle dos corpos por meio do forte emprego da tecnologia para essa finalidade”, finaliza a professora Miorim.
Para saber mais
A pedido do GUIA DO ESTUDANTE, o professor de Geografia Sebastian Fuentes, do Curso Anglo, e a professora Marina Miorim, do Colégio Rio Branco, indicaram livros para quem quer se aprofundar nos debates sobre a Quarta Revolução Industrial. Confira:
Uberização, trabalho digital e Indústria, org. Ricardo Antunes
A Quarta Revolução Industrial, Klaus Schwab
Condição pós-moderna, David Harvey
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