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Saúde x economia: por que não devemos cair nessa dicotomia

O Brasil precisa voltar restringir a circulação de pessoas mas, para isso ser viável, é preciso adotar medidas de compensação econômicas

Por Danilo Thomaz
Atualizado em 8 mar 2021, 11h30 - Publicado em 8 mar 2021, 10h18
Ilustração do planeta transformado em vírus
 (Pixabay/Reprodução)
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O aumento nas taxas de ocupação dos leitos de enfermaria e UTI em decorrência de um novo pico na pandemia do Sars-CoV-2 no Brasil nos levou, um ano depois, de volta para casa para controlar o nível de transmissão e permitir a redução no índice de ocupação dos hospitais.

O anúncio das novas restrições levou a protestos e trouxe de volta um dilema que dividiu brasileiras e brasileiros em 2020: economia vs saúde. E aqui adianto: não devemos cair nessa dicotomia. O assunto é complexo e tem fortes impactos nas nossas vidas. É preciso, sim, como você vai ver abaixo, impor restrições para conter a disseminação do vírus e controlar a pandemia. E é preciso também criar garantias para que as pessoas fiquem em casa – ou saiam o menos possível.

Por que é preciso restringir novamente a circulação?

O Sars-CoV-2 é um vírus resistente e de forte disseminação, razão pela qual tivemos que nos fechar em casa para baixar os índices de transmissão no ano passado. Agora, além do aumento dos casos, estamos lidando também com as chamadas variantes de preocupação (Variants of Concern, VOCs, na sigla em inglês), que têm taxa de transmissão mais alta (ainda está em estudo se elas também têm mais alta letalidade). No Brasil, a P1, de Manaus, é considerada uma variante de preocupação. Diante do aumento na ocupação dos leitos de enfermaria e UTI e dessas novas variantes, é imprescindível, segundo os mais diversos especialistas, que haja restrições ou o chamado lockdown para barrar a transmissão e proteger o sistema de saúde.

Por que restringir a circulação se já temos vacinas?

A vacinação e as restrições não são medidas excludentes. No atual estágio da pandemia no Brasil, é necessário que tomemos as duas medidas em paralelo para diminuir o índice de transmissão, como fizeram outros países. Além disso, a vacinação no Brasil está muito lenta e, por isso, é uma medida insuficiente para impedir a infecção em massa. As restrições de circulação e as medidas sanitárias só deverão diminuir quando atingirmos a chamada imunidade coletiva, ou seja, quando a maior parte da população estiver vacinada.

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Por que os governos não fecham tudo de uma vez até encerrar a transmissão?

Esta é uma questão complexa. O fechamento completo – o chamado lockdown – é uma medida que tem impactos econômicos e sociais reais. Mesmo fechadas, empresas têm custos – só que com um faturamento muito inferior (quando não zerado mesmo) ao que têm com uma economia aberta. A queda no faturamento, por sua vez, pode levar empresas a demitir – se não houver medidas de apoio do governo –, afetando direta e indiretamente muitas famílias e outras empresas. Além disso, há impactos sociais. Um dos mais visíveis é no caso da educação. O fechamento das escolas no ano passado tirou 4 milhões de estudantes do sistema de ensino, por falta de acesso à internet. Há também o impacto emocional, em decorrência do distanciamento. É uma questão complexa que requer muito diálogo entre sociedade, empresários e setor público e medidas para diminuir os efeitos socioeconômicos.

Por que o governo não paga, então, para todo mundo ficar em casa?

Como explicamos anteriormente, os governos têm restrições orçamentárias. Ele pode, sim, gastar mais em casos como o da pandemia para amparar o sistema de saúde e as pessoas, mas isso requer aprovação do Congresso e recursos – que acabam se tornando mais escassos nessas situações, uma vez que a queda da economia leva também à queda na arrecadação de impostos, principal fonte de financiamento dos governos.

Que medidas econômicas devem ser tomadas?

No Brasil, uma série de grupos têm defendido a volta do Auxílio Emergencial como em 2020 para as pessoas de menor renda. As medidas devem atender ao todo da economia – por meio de crédito subsidiado e adiamento e parcelamento do pagamento de impostos, por exemplo – e podem variar de acordo com as demandas e restrições sofridas pelo setor e do tamanho das empresas do segmento. Empresas maiores têm mais condições de enfrentar restrições do que as micro e pequenas empresas, que geram muitos empregos e têm sido mais afetadas pela pandemia.

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