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Turcomenistão “proíbe” coronavírus: como ditaduras enfrentam a pandemia

Assim como fizeram China e Irã, o país asiático está negando a gravidade da pandemia

Por Juliana Morales
1 abr 2020, 15h30

Na contramão dos dados alarmantes sobre a pandemia, o regime autoritário do Turcomenistão decidiu proibir o uso da palavra “coronavírus” no país. De acordo com a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), o ditador turcomeno Gurbanguly Berdimuhamedow determinou que o termo desapareça por completo da mídia estatal e até mesmo de conversas privadas.

A Radio Free Europe, grupo de mídia especializado em cobrir países da Europa Oriental e da Ásia Central, onde fica essa ex-república soviética, aponta que agentes do regime começaram a prender pessoas que foram ouvidas falando sobre a doença ou que estavam usando máscaras na capital do país, Asgabate.

 

Ainda segundo a RFE, o termo “coronavírus” também foi retirado de brochuras distribuídas pelo próprio governo em hospitais e escolas para incentivar a população a combater o vírus. Os folhetos passaram a usar expressões genéricas como “enfermidade” ou “doença respiratória”, em vez de “coronavírus” ou “covid-19”.

O Turcomenistão frequentemente aparece na última posição em rankings de liberdade de imprensa, no levantamento da Repórteres Sem Fronteiras (RSF). Ainda não há nenhum caso confirmado de covid-19 em território turcomeno, mas com o fluxo de informações completamente controlado pelo governo, não é possível afirmar que a doença não tenha atingido ninguém.

 

Turcomenistão

Ex-república da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), o Turcomenistão está localizado no continente asiático e possui fronteiras com o Irã (ao sul), Afeganistão (a sudeste), Uzbequistão (ao norte e a leste) e com o Cazaquistão (a noroeste), além de ser banhado pelo Mar Cáspio (a oeste). Em 1924, o Exército Vermelho invadiu o Turcomenistão, que, no ano seguinte, foi incorporado à União Soviética, como a República Socialista Soviética Turcomena (RSS Turcomena). A independência nacional foi conquistada em 1991. Naquele ano, o país passou a integrar a Comunidade dos Estados Independentes – bloco formado pela Rússia e as antigas repúblicas da URSS.

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Um dos países mais fechados do planeta, muitas vezes comparado à Coreia do Norte, o Turcomenistão foi governado por Saparmurat Niyazov (chamado de “Líder dos Turcomenos”) até sua morte em 2006. Gurbanguly Berdimuhamedow o sucedeu em 2007. Em 2012, foi reeleito presidente com 97% do votos e, novamente, com uma eleição apontada como fraudulosa, em 2017, com 97,67% dos votos.

Outras ditaduras e a pandemia de coronavírus

Um dos vizinhos do Turcomenistão, o Irã, é um dos países mais atingidos pelo coronavírus no mundo, com mais de 2.500 mortes registradas por causa da doença até o momento. Mesmo cientes do risco, foi permitido, por exemplo, que voos continuassem a conectar o país à China, ainda mais afetada pela pandemia. Uma das justificativas do regime para não tomar medidas de combate à doença era o medo de uma tragédia em sua economia, já fragilizada pelas sanções aplicadas pelos Estados Unidos.

Só após ter feito o possível para evitá-las, e até ridicularizar a quarentena como uma ideia medieval, autoridades iranianas precisaram se render às medidas de confinamento para tentar conter o avanço do novo vírus. A demora para tomar as ações corretas gerou revolta na população iraniana, que alega que as autoridades esconderam o número de vítimas e afirmaram que a situação não era tão grave assim. 

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A China, país onde a crise teve início, em Wuhan, também cometeu erros. Muitos alegam que a falta de transparência no começo tenha favorecido a propagação do vírus no país. A população chinesa ficou revoltada com a morte do médico Li Wenliang, apontado como um dos primeiros a identificar a existência do surto do novo coronavírus. Ele alertou as autoridades e foi convocado pela polícia pela atitude. A morte de Wenliang ilustrou a situação caótica dos hospitais da cidade epicentro da doença, muito saturados.

O governo chinês admitiu falha na resposta à epidemia do novo coronavírus. E com a imposição de medidas severas, facilitada pelo regime político autoritário do país, conseguiu reverter a situação e ser citado como exemplo de ação eficaz contra a pandemia.

A China, para virar o jogo, teve rapidez na criação de sistemas de busca e diagnóstico de casos, impôs o fechamento de escolas e comércios e a quarentena obrigatória. Assim como a democrática Coreia do Sul, é um dos países que conseguiram, de alguma forma, achatar a curva de crescimento das infecções, reduzindo o número de vítimas.

 

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