Em termos de importância, a ciência superou o esporte e a religião na percepção dos jovens brasileiros. Que ela traz muitos benefícios, a maioria (ou 70%, para ser mais específica) concorda, e quando o assunto é necessidade de investimentos praticamente todos (94%) acreditam que o governo deveria manter ou aumentar o fomento nessa área.
Mas quando a ciência sai do imaginário e vai para o cotidiano… Bem poucos (12%) souberam citar ao menos uma instituição que se dedique a fazer pesquisa científica no Brasil. Menos ainda (5%) conseguiram dizer o nome de um cientista brasileiro, e os que souberam citaram quase sempre o astronauta Marcos Pontes (atual ministro da Ciência e Tecnologia), o inventor Santos Dumont e o médico Oswaldo Cruz.
Estes e outros dados foram levantados pela pesquisa do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCT-CPCT), que entrevistou 2,2 mil jovens de 15 a 24 anos de idade em 21 estados e no Distrito Federal. Foi a primeira vez que uma pesquisa investigou a percepção dos jovens sobre a ciência e tecnologia, e foi divulgada justamente em um momento de intensos debates sobre o assunto.
Nos últimos dois meses, o Ministério da Educação cortou 30% da verba discricionária de todas as universidades federais, e o Capes (fundação responsável pela pós-graduação e diretamente ligada à pesquisa científica) anunciou o corte de 6 mil bolsas de mestrado e doutorado.
Além do desconhecimento sobre a produção científica no Brasil, a pesquisa revelou que a desinformação e a contradição sobre alguns temas polêmicos ligados à ciência, como vacina e aquecimento global, também aparecem entre os mais jovens. Mais da metade, por exemplo, não sabia que antibiótico não combate vírus, e 25% afirmaram que vacinar crianças pode ser perigoso.
Quando o assunto é ambiente, mais da metade concorda que os cientistas podem estar exagerando sobre as mudanças climáticas. Até a Teoria da Evolução entrou na mesa: 40% não acreditam que os seres humanos evoluíram ao longo do tempo e descendem de outros animais.
Embora o cenário não seja positivo nesses aspectos, a pesquisa aponta que ao menos os caminhos para a disseminação científica e democratização do conhecimento estão abertos. Apesar das contradições, a maioria defende a importância da pesquisa e a acredita que a população deve ser ouvida nas grandes decisões sobre o rumo da ciência.
Segundo esses jovens, as pessoas são capazes de entender o conhecimento científico se ele for bem explicado. “Temos um trabalho urgente a fazer na melhoria da comunicação da ciência no Brasil. Não só há pouco conhecimento, como a desinformação é muito alta”, conclui Yurij Castelfranchi, pesquisador do INCT-CPCT.