EUA e Cuba dão passo histórico e pretendem retomar relações diplomáticas
Pela primeira vez desde a Revolução Cubana, em 1959, Estados Unidos e Cuba ensaiam uma reaproximação histórica. Em pronunciamento feito nesta quarta-feira (17), o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, apresentou medidas para normalizar as relações diplomáticas com o país governado por Raúl Castro.
Avanço histórico
Conversas entre o governo dos EUA e de Cuba acontecem desde junho de 2013. Já foram realizados diversos encontros entre os representantes dos dois lados no Vaticano e no Canadá. Segundo a Casa Branca, o Papa Francisco teve papel crucial na reaproximação. Em maio, durante um encontro entre o pontífice e Obama, Cuba foi o principal assunto da reunião. Depois disso, o Papa chegou a enviar carta aos presidentes dos dois países pedindo a normalização das relações.
Em seu pronunciamento feito nesta quinta, disponível na conta do Twitter da Casa Branca, Barack Obama lembrou que os EUA já mantêm relações econômicas com a China há 35 anos, um país comunista de longe muito maior do que Cuba, assim como também também reatou relações com o Vietnã há alguns anos. Raúl Castro também deve falar à população cubana sobre o assunto. Obama afirmou que os EUA vão começar negociações destinadas a reabrir a embaixada americana em Cuba, fechada desde 1961, e conversar sobre prisioneiros políticos que continuam sob o poder de ambos os países.
Outras iniciativas são facilitar as viagens à Cuba e as transferências de dinheiro entre os dois países. Cartões de crédito e débito americanos passariam a ser aceitos na ilha, além de os EUA também passarem a permitir a exportação de equipamentos de telecomunicação para Cuba. Nas palavras de Obama, ele espera que essas mudanças possam ajudar o povo cubano a entrar definitivamente no século 21.
Entenda a questão
Cuba e Estados Unidos já foram aliados no passado. Na década de 1950, Cuba tinha uma economia baseada na exportação de tabaco e açúcar e graves problemas sociais, como concentração fundiária e miséria da população rural. Só que, ao mesmo tempo, a capital, Havana, possuía grandes cassinos e festas para os americanos, que usavam Cuba como uma espécie de colônia de férias.
O país era governado por uma ditadura militar instaurada e chefiada por Fulgêncio Batista, aliado dos EUA. Esse cenário levou à formação de uma guerrilha camponesa liderada por Fidel Castro e Ernesto Che Guevara. A revolução depôs Fulgêncio Batista em 1959. O grupo de Fidel era nacionalista e, pela dinâmica da revolução, nacionalizou as empresas estrangeiras, desapropriou as grandes fazendas de monocultura e realizou uma reforma agrária, o que provocou vários conflitos com os norte-americanos, donos de empresas e de grandes extensões de terra.
Em 1961, os EUA resolveram articular uma invasão militar do país, no fracassado desembarque na baía dos Porcos. No ano seguinte, Cuba estabeleceu aliança com a então União Soviética e aderiu ao modelo socialista. No mesmo ano, a possível instalação de mísseis soviéticos na ilha levou à grave “Crise dos Mísseis”.
O relacionamento entre a ilha socialista e o grande centro do capitalismo mundial se rompeu quase completamente depois de 1962. No mesmo ano, os EUA impuseram um severo embargo econômico à Cuba, proibindo que empresas norte-americanas se fixassem no país, e até mesmo vendessem ou comprassem itens por lá. O embargo ainda estabelecia regras que se estenderiam a outros países que mantêm relações com os EUA, como a proibição de qualquer comércio exterior com cubanos usando dólares.
A situação econômica de Cuba se precarizou após a queda da União Soviética, que financiava quase todas as atividades da ilha durante a Guerra Fria. O irmão de Fidel, Raúl, desde que entrou no governo tem realizado reformas que diminuem o controle do Estado sobre a economia, ao mesmo tempo em que procura novos investimentos e tenta se aproximar de países como Rússia e China. Além disso, ele abriu a economia para o turismo e para captar investimento externo e abrandou restrições à população (como a necessidade de obter autorização do governo para sair do país). Depois desse “relaxamento” do governo de Cuba, os Estados Unidos começaram a rever algumas sanções, mas sem desmanchar o embargo completamente.
Por isso, estamos prestes a acompanhar um momento histórico. É isso aí, pessoal. É ver para crer.