Nos últimos anos, o ensino médio brasileiro não tem alcançado bons resultados. Desde 2011, o desempenho no Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb) está estagnado. A evasão nesta etapa da educação é assustadora: 1,7 milhão de adolescentes entre 15 e 17 anos não frequentam a escola.
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Como resposta a problemas tão graves, o Ministério da Educação anunciou em setembro de 2016 uma reforma de grandes proporções para o ensino médio brasileiro. A reforma gerou polêmica, tanto por ter sido efetivada por medida provisória – portanto sem passar previamente pelo Congresso Nacional, por audiências públicas e outras consultas populares – quanto pelo teor da medida.
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Para dar mais insumos a essa discussão, vamos mostrar como funciona o ensino médio e o sistema educacional de quatro países diferentes. Afinal, como países que são referência no mundo organizam a educação?
Finlândia
A Finlândia chegou ao topo de rankings internacionais após implementar profundas reformas no sistema escolar há cerca de 40 anos. Chegou a ter o melhor sistema educacional do mundo na década passada. Apesar de recentes quedas no ranking PISA, continua a ser referência.
Os alunos entram tarde no ensino fundamental, aos 7 anos. A educação é obrigatória até os 16 anos de idade. No ensino médio, há uma divisão: o aluno pode ir para o sistema vocacionado (técnico, prepara o estudante para uma carreira) ou para o sistema acadêmico, voltado para a universidade. Grande parte vai para escolas vocacionadas, mas também existe a opção de ingressar na faculdade mesmo a partir desse sistema. Como resultado, 66% dos estudantes na Finlândia vão para a faculdade, maior proporção em toda Europa e muito superior à do Brasil.
O sistema finlandês chama atenção pelos métodos de ensino alternativos, que estimulam os alunos a ter mais autonomia no aprendizado e a desenvolver competências menos tradicionais. Os alunos desenvolvem projetos voltados à resolução de problemas comunitários. Professores atuam sobretudo como facilitadores dos projetos dos alunos. Isso traz uma dinâmica diferente às aulas.
Há outros fatos curiosos sobre o sistema finlandês. Veja a seguir:
– Os estudantes têm menos aulas e mais períodos de pausa do que a média internacional. Esse tempo extra de descanso traz mais foco aos alunos e mais tempo para professores prepararem aulas de qualidade;
– Professores finlandeses lecionam em média 600 horas anualmente, enquanto seus colegas nos Estados Unidos passam 1080 horas em sala de aula. Além disso, apenas cerca de 10% dos aspirantes a professor são aceitos nas faculdades finlandesas, o que é considerado chave para a qualidade do ensino;
– Os estudantes também levam menos tarefas (estudam meia hora por dia em casa);
– As classes são pequenas – cerca de 20 estudantes, em média, o que possibilita acompanhamento personalizado aos alunos;
– Finalmente, o sistema finlandês possui menos testes formais de avaliação do que o brasileiro ou o dos Estados Unidos.
Coreia do Sul
O sistema sul-coreano é visto como referência, principalmente por sua significativa evolução da segunda metade do século XX até hoje. O país ocupa posições altas em avaliações internacionais. Trata-se de um sistema educacional altamente competitivo, em que os alunos precisam alcançar ótimos desempenhos para ingressar nas melhores escolas e universidades.
O ensino médio é dividido em duas etapas, júnior e sênior. Apenas a etapa júnior é obrigatória para todos. Para ingressar no ensino médio sênior, é preciso passar por testes muito concorridos. Assim como na Finlândia, no ensino médio o estudante coreano pode optar por frequentar cursos com diferentes ênfases.
O ensino médio sênior acadêmico é composto de aulas avançadas em matérias que o estudante pretende seguir estudando na faculdade. Também existe o ensino vocacional, que prepara os estudantes para áreas como agricultura, tecnologia, comércio e indústria de pesca. Por fim, há escolas com fins específicos, frequentadas pelos melhores alunos de cada ramo, como música e artes, atletismo, língua estrangeira, ciência, etc.
As escolas na Coreia do Sul operam em tempo integral e os alunos podem ter uma rotina bem cheia, com aulas e horários de estudo de manhã até tarde da noite.
Outro destaque na educação sul-coreana é a valorização dos professores. A carreira de professor é prestigiosa no país, com boas remunerações e alto status social.
Xangai (China)
A província chinesa de Xangai possui o melhor sistema de educação básica do mundo, segundo o ranking PISA da OCDE. As províncias da China são avaliadas separadamente nessa prova, devido às diferenças culturais entre elas. Assim como na Coreia, os alunos sofrem grande pressão social para alcançarem bons resultados na escola. Há uma grande competitividade, já que apenas alunos com alto desempenho escolar conseguem bons empregos no futuro.
O foco do ensino é o cálculo e a memorização de conteúdos. Os alunos frequentam a escola em tempo integral, de manhã e à tarde. Depois do ensino médio, fazem um exame de admissão para a universidade, assim como ocorre no Brasil. A média de tempo que os estudantes chineses dedicam aos estudos é de 13,8 horas diárias, muito acima das 4,9 horas de média no resto do mundo. Muitos alunos também dedicam os fins de semana a aulas de reforço.
Apesar dos bons resultados, o sistema de Xangai é criticado por causa da pouca ênfase na criatividade dos estudantes. O sistema também não permite muito tempo livre, o que pode gerar problemas de ordem emocional e social.
Estados Unidos
O ensino médio nos Estados Unidos difere substancialmente do brasileiro. Antes da reforma, tínhamos 13 disciplinas obrigatórias em nosso currículo, enquanto os americanos mantêm apenas três disciplinas obrigatórias: inglês, matemática e história. As demais são eletivas, ficam a critério de cada estudante. Assim, existe mais liberdade para que o aluno se aprofunde nas áreas que mais o interessam.
Em geral, os alunos ficam na escola em tempo integral (das 8 às 16 horas), mais uma diferença em relação ao sistema brasileiro, em que a escola integral ainda é exceção. Além disso, as escolas costumam contar clubes temáticos, mantidos pelos próprios estudantes, para estudantes para praticarem atividades de seu interesse, como música, xadrez, esportes e até debate político.
*Post publicado originalmente no portal Politize!