“Este é o direito natural do povo judeu de comandar o seu próprio destino como todas as outras nações em seu próprio Estado soberano”. Com essas palavras, o presidente da Agência Judaica para a Palestina, David Ben-Gurion, proclamou a criação do Estado de Israel, em 14 de maio de 1948.
O evento alterou o equilíbrio no Oriente Médio, gerando instabilidades que persistem até hoje. Se a criação de Israel atendeu ao clamor mundial para a formação de um “lar nacional” para os judeus após as atrocidades do Holocausto, a nova situação acabou deixando milhares de palestinos sem uma pátria.
A formação de Israel começou a ser gestada no final do século XIX. Nessa época, grande parte dos judeus vivia pela Europa, como consequência da Segunda Diáspora (70 d.C.), quando os romanos tomaram Jerusalém. Apesar de manter suas tradições religiosas e culturais, os judeus sempre constituíram minorias em outros países e eram constantemente perseguidos.
Com o objetivo de estabelecer um “lar nacional”, intelectuais judeus criaram o movimento sionista (de Sion, colina da antiga Jerusalém). Em 1897, o fundador do movimento, Theodor Herzl, realizou o 1º Congresso Sionista na Basileia, Suíça, que definiu a Palestina como lugar para a criação de seu Estado. Com a ajuda financeira de judeus de diversas partes do mundo, em 1909 foi instalada a primeira colônia agrícola judaica na Palestina. No início, os árabes não se opuseram ao projeto, possibilitando assim a migração de judeus para a região.
Mandato britânico
A I Guerra Mundial (1914-1918) alterou o mapa do Oriente Médio. Com a queda do Império Otomano, que garantia a unidade das nações muçulmanas, a Grã-Bretanha passou a administrar a Palestina como protetorado a partir de 1922. Mas desde 1917 os britânicos estavam comprometidos com a criação de um território judaico na Palestina, por meio da Declaração Balfour. Essa situação gerou tensão entre árabes e judeus.
Além disso, com a perseguição na Europa durante a ascensão do nazismo na década de 1930, os judeus passaram a migrar em massa para a Palestina, formando os kibutzim – colônias agrícolas baseadas em ideologias socialistas. Nesse período, intensificaram-se os conflitos entre judeus e árabes. Os palestinos passaram a contestar a presença dos “invasores ocidentais”, atacando instalações judaicas. Por sua vez, os judeus responderam com a formação de um Exército, intitulado Haganah (defesa, em hebraico).
O movimento sionista surgiu para estabelecer a criação de um “lar nacional” para o povo judeu.
Os kibutzim também exerceram importante papel nos primeiros conflitos árabes-israelenses, uma vez que serviam como bases militares. Além disso, as colônias ajudaram a definir as futuras fronteiras de Israel, pois ocupavam locais remotos da noite para o dia a fim de aumentar as chances de a terra ser incorporada ao seu futuro Estado.
Criação do Estado Judeu
Com o fim da II GuerraMundial (1939- 1945) e a revelação do genocídio de cerca de 6 milhões de judeus pelos nazistas, o Holocausto, as comunidades judaicas tentaram resgatar os sobreviventes e enviá-los para Israel. A pressão internacional para a criação de um Estado judaico e o aumento da tensão entre judeus e árabes-palestinos fizeram com que a Grã-Bretanha levasse a discussão sobre o futuro da Palestina para a recém-criada Organização das Nações Unidas (ONU).
Em 1947, o diplomata brasileiro Oswaldo Aranha inaugurou a Assembleia Geral da ONU e teve papel determinante na condução do Comitê Especial que discutiu a divisão da Palestina. Ao final da Assembleia, 33 países, inclusive o Brasil, votaram a favor da partilha da Palestina em dois territórios: um para os judeus, com 53% do total, outro para os árabes, com 47%.
Apesar da rejeição dos árabes ao projeto, no ano seguinte os sionistas se mobilizaram e proclamaram o Estado de Israel. Imediatamente, Egito, Síria, Transjordânia (atual Jordânia), Iraque e Líbano se opuseram e enviaram tropas para impedir sua fundação. Foi o início da Guerra de Independência, encerrada somente em 1949 com um armistício assinado e a vitória de Israel.
Como resultado desse conflito, o novo Estado ampliou seus domínios em relação às fronteiras antes estabelecidas pela ONU. Israel passou a ocupar 75% da Palestina. Além da expansão, o Egito havia ocupado a Faixa de Gaza, enquanto a Jordânia anexara Jerusalém Oriental e a Cisjordânia. Com isso, os palestinos ficaram sem território e foram obrigados a se refugiar na Faixa de Gaza, Cisjordânia e em países árabes vizinhos, ou migraram para longe. Esses acontecimentos são lembrados por eles como a nakba, palavra árabe que significa “catástrofe”.
O filme israelense Kedma (2002, de Amos Gitai), retrata a história de imigrantes judeus que chegam à Palestina, fugidos do nazismo, alguns meses antes da criação do Estado de Israel.
Matéria originalmente publicada na revista Guia do Estudante Atualidades – 1º Semestre 2018.