No último dia 5, Hugo Chávez, que esteve na presidência da Venezuela desde 1999, faleceu aos 58 anos, vítima de complicações de um câncer. Nicolás Maduro, escolhido por Chávez para ser herdeiro político, será empossado como presidente interino e deverá convocar eleições em até 30 dias – eleições das quais participará como candidato governista.
O funeral, realizado nesta sexta-feira (8), contaria com a presença de mais de 30 chefes de Estado e de Governo, incluindo os controversos presidentes do Irã, Mahmud Ahmadinejad (que mantinha boas relações com Chávez e prometeu continuar a colaboração entre os dois países, especialmente na área de energia e petróleo), e da Bielorrússia, Alexander Lukachenko, além do ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, e do herdeiro da Coroa espanhola, Felipe de Borbón.
Milhares de venezuelanos fizeram fila para se despedir do presidente, mas outra parte da população festejou. O site Exame.com publicou:
“‘Às vezes a natureza intervém e elimina coisas que simplesmente não são boas’, disse Caballero, de 66 anos (…). ‘Ele causou mais dano à Venezuela do que qualquer um. O país se quebrou em duas partes, cada uma odeia a outra. Chávez fez isso.’ O presidente, que morreu na terça-feira, aos 58 anos, após quase dois anos de luta contra um câncer, era amado pelos venezuelanos pobres por causa do seu jeito simples, da sua retórica antiamericana e acima de tudo pelos generosos programas sociais bancados com dividendos do petróleo.
(…)
Continua após a publicidadeMas Chávez polarizou a Venezuela em seus 14 anos de governo, e críticos o descrevem como um déspota que arruinou a economia, intimidou adversários e colocou investidores e famílias de classe média em fuga.”
Veja uma entrevista com o professor Célio Tasinafo, do cursinho Oficina do Estudante, sobre o tema e como ele pode ser cobrado no vestibular:
O que você precisa saber sobre a Venezuela
(Informações do GUIA DO ESTUDANTE Atualidades Vestibular – Enem 2012)
O nascimento do país
Em 1498, Cristóvão Colombo chegou ao território da Venezuela, então habitado por índios arauaques e caraíbas. No ano seguinte, a região recebeu o nome de Pequena Veneza (Venezuela) e começou ali uma colonização lenta, que só ganhou importância para a Coroa a partir do século 18, por causa das plantações de café e cacau com mão de obra escrava africana.
Sob o comando de Simón Bolívar (1783 – 1830) e com a ajuda do Haiti, a Venezuela conquista sua independência em 1819 e passa a fazer parte da Grã-Colômbia, uma junta de governantes liderada por Bolívar e formada pelos territórios que hoje correspondem à Venezuela, Colômbia, Panamá e Equador.
Em 1830, a Venezuela retira-se da Grã-Colômbia e fica sendo governada, até 1848, por uma oligarquia. Em 1945, uma revolução derruba o regime ditatorial, mas em 1948 ocorre um novo golpe militar. Em 1958, realizam-se novas eleições, e, em 1969, o presidente eleito Rafael Caldeira pacifica a nação. Após um período de crescimento econômico com base no petróleo nos anos de 1970 (grandes jazidas foram descobertas no início do século 20), o país vive nova crise devido à queda no preço do óleo e declara moratória das dívidas. Enquanto isso, a corrupção cresce e alimenta uma crise.
A ascensão de Chávez
Hugo Chávez ganhou destaque político em 1992, quando era coronel e comandou uma tentativa de golpe de Estado contra o então presidente Carlos Andrés Pérez. Apesar de ter dado errado e seus líderes serem presos, Chávez ganhou um prestígio crescente e passou a ser identificado como defensor da independência nacional e dos interesses dos pobres.
Ele foi solto em 1994 e conseguiu se eleger presidente em 1998, com 56,2% dos votos. Ao tomar posse, encaminhou a adoção de uma nova Constituição, que reforçou os poderes do presidente – aumentando o seu mandato, por exemplo, de cinco para seis anos, com direito a reeleição. Com as mudanças, Chávez submeteu-se novamente a eleições, em 2000, e recebeu 60% dos votos.
O presidente adotou então uma política de esquerda, entrando em choque com setores conservadores. Entre 2001 e 2002, a oposição promoveu três paralisações nacionais e, em 2002, uma tentativa frustrada de golpe chegou a afastar Chávez, mas a mobilização de setores das Forças Armadas e das camadas mais pobres da população o reconduziu ao poder. A oposição então buscou milhões de assinaturas para forçar a convocação de um referendo, em 2004, para decidir se o presidente deveria ou não continuar. Depois de uma campanha acirrada, sua permanência foi aprovada por 59,3% dos eleitores.
“Socialismo do século XXI”
Chávez dizia que a Venezuela estava vivendo a Revolução Bolivariana (em referência a Simón Bolívar) e pretendia implantar o “socialismo do século XXI”. Durante o seu governo, realizou a reforma agrária, restringiu a participação de multinacionais na exploração de petróleo e autorizou o regime de cogestão entre o Estado e funcionários para reerguer empresas falidas, além de estatizar os setores considerados estratégicos pelo governo, como de telecomunicações, energia elétrica e indústrias básicas de minerais. No caso do petróleo, a estatal Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA) tem pelo menos 60% das ações e o controle das operações feitas em colaboração com as multinacionais do setor. Chávez anunciou também a ampliação dos Conselhos Comunais, organizações similares a associações de bairro, que poderão substituir as prefeituras no futuro.
Petróleo
A economia venezuelana se baseia, desde as últimas décadas, na exploração das reservas de petróleo. O país tem a segunda maior reserva mundial de petróleo e é integrante da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), tendo aí cerca de um terço de seu PIB e 90% de suas receitas com exportações. A queda do preço do petróleo no mercado internacional desde 2009 tem causado sérios problemas econômicos para o país: a redução de receitas afeta diretamente os programas sociais de Chávez. Apesar da retórica anti-Estados Unidos, a Venezuela depende das volumosas compras de petróleo feitas pelos norte-americanos. Ano a ano, porém, essas compras vêm caindo: de 16,1% do total importado pelos norte-americanos em 1998, início da era Chávez, para 9,1%, em 2009. Por isso, Chávez estava tentando achar novos países para exportar sua produção e diminuir a dependência.
Populismo
Você provavelmente já ouviu o nome de Hugo Chávez ser associado ao termo populista. A origem do termo remete a um governante carismático, que exercia o poder numa relação direta com a população, quase sem a intermediação de partidos políticos.
Chávez também pode ser considerado um “nacionalista”. O termo identifica uma posição política de defesa da soberania nacional, contra a influência de potências estrangeiras ou de empresas multinacionais. No caso venezuelano, desde o início de seu mandato, em 1998, Chávez é um crítico contundente da política norte-americana e da interferência de organismos multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), nos países latino-americanos. Em seus discursos inflamados, o presidente apontava os Estados Unidos como um inimigo a ser combatido.
No fim da década de 1990, num momento de auge do neoliberalismo e de privatizações na América Latina, Chávez colocou-se do lado oposto e passou a liderar um bloco político com outros países, depois de ajudar nas eleições e nos governos de Evo Morales, na Bolívia; Daniel Ortega, na Nicarágua; e Rafael Correa, no Equador. É o bloco dos governantes mais à esquerda na região. Além disso, a Venezuela é hoje o país que mais ajuda economicamente Cuba.
Reeleições por tempo indeterminado
Após perder, em dezembro de 2007, um referendo sobre a possibilidade de reeleições presidenciais por tempo indefinido, a Assembleia Nacional aprovou, pouco mais de um ano depois, a convocação de um novo pleito sobre essa mesma questão. Manifestações oposicionistas, que denunciavam que a proposta já havia sido derrotada antes, foram reprimidas pelo governo. Em fevereiro de 2009, a reeleição por tempo indeterminado foi aprovada por 54,8% dos votantes. A relação com a Colômbia piorou, por causa do acordo de cooperação militar do país com os EUA, que mantêm bases militares na nação vizinha. Nas eleições de 2010, a oposição elegeu 64 dos 165 parlamentares, o que foi considerado uma derrota para Chávez, já que, embora ainda majoritário, seu partido não mais teria os dois terços de votos necessários para bloquear iniciativas da oposição. Por fim, a morte de Chávez ampliou a instabilidade política no país.
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