Se fosse possível explicar em poucas palavras o que são as Olimpíadas, poderíamos dizer que se trata de um grande evento esportivo com atletas dos cinco continentes reunidos para disputas em diversas modalidades a cada quatro anos.
Mas esta breve descrição não é capaz de dar conta de toda a magnitude que os Jogos Olímpicos da Era Moderna adquiriram desde a sua criação em 1896. Nos Jogos do Rio de Janeiro em 2016 estarão presentes mais de 10 mil atletas de 205 nacionalidades, que serão observados por uma audiência mundial estimada em 4,5 bilhões de pessoas.
Por atrair a atenção de quase todo o planeta e envolver cifras bilionárias, seja na organização dos Jogos ou no financiamento a atletas por meio de patrocínios, as Olimpíadas também são um palco de expressão política e demonstração de poder. Todo este gigantismo e prestígio dão aos Jogos um caráter que extrapola a questão esportiva. As Olimpíadas tornaram-se um megaevento internacional impossível de ser dissociado da política nacional e de algumas das principais questões geopolíticas mundiais – e é justamente este aspecto que pode ser cobrado nos vestibulares.
Os Jogos do Rio de Janeiro não fogem a estas características. A seguir você confere os principais aspectos políticos associados às Olimpíadas do Brasil.
AMEAÇA DE TERRORISMO
Os Jogos Olímpicos atraem uma grande audiência global e recebem autoridades e celebridades de todo o mundo. Ou seja, trata-se de um megaevento capaz de oferecer a visibilidade que os terroristas tanto almejam para os seus ataques. Não faltam precedentes históricos: nos Jogos de Munique, em 1972, a ação do grupo palestino Setembro Negro contra a delegação de Israel terminou com 18 mortos. Nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996, uma bomba explodiu no Parque Centenário, matando duas pessoas.
Em um ano em que o grupo Estado Islâmico (EI) está expandindo cada vez mais os seus ataques pelo mundo, aumenta a preocupação da organização dos Jogos do Rio diante de qualquer ameaça terrorista. Em julho, a polícia federal prendeu 12 brasileiros suspeitos de associação com o terrorismo e as causas do EI. O perigo assusta especialmente a França, que tem sido alvo de seguidos atentados do EI recentemente e teme a possibilidade um ataque contra a sua delegação de atletas.
EQUIPE OLÍMPICA DE REFUGIADOS
Devido aos conflitos no Oriente Médio, especialmente na Síria, e às perseguições políticas e religiosas em diversos pontos do planeta estamos vivendo a maior crise de refugiados desde a II Guerra Mundial. São 65,3 milhões de pessoas vivendo em situação de refúgio ou deslocamento.
Como reflexo dessa situação, o Comitê Olímpico Internacional autorizou a participação de 10 competidores que irão participar do Time dos Atletas Olímpicos Refugiados. A equipe será composta por dois nadadores sírios, dois judocas da República Democrática do Congo, um corredor da Etiópia e cinco corredores do Sudão do Sul. A participação de atletas que tiveram que fugir de seus países tem um forte simbolismo, ao passar uma mensagem de esperança aos refugiados e alertar o mundo sobre este que é um dos principais problemas contemporâneos.
O DOPING DA RÚSSIA
A equipe de atletismo da Rússia foi banida dos Jogos do Rio devido à participação de seus atletas em um escândalo de doping. De acordo com a Agência Internacional Antidoping, o Ministério do Esporte da Rússia coordenava um amplo esquema para evitar que seus atletas fossem pegos nos exames antidoping. Outros atletas russos, de natação e remo, também foram banidos dos Jogos do Rio. O escândalo levou a Agência Antidoping dos Estados Unidos (EUA) a pedir a exclusão de todos os atletas da Rússia das Olimpíadas no Brasil.
O episódio abriu mais uma crise diplomática entre Estados Unidos e Rússia. Durante a Guerra Fria (1947-1991), EUA e a então União Soviética travaram uma acirrada disputa esportiva nos palcos olímpicos, refletindo o antagonismo ideológico e político do período. Agora, com este escândalo de doping, o governo russo alega ser vítimas de um complô. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, chegou a ligar para o Secretário de Estado norte-americano, John Kerry, queixando-se da postura dos EUA, acirrando ainda mais as divergências entre os dois países.
PROTESTOS CONTRA OS JOGOS
Assim como aconteceu na Copa do Mundo realizada no Brasil em 2014, os Jogos Olímpicos do Rio também estão servindo de mote para manifestações sobre as mais diversas demandas. Ativistas protestam contra os elevados custos dos Jogos enquanto faltam de serviços básicos para a população e há atraso nos salários dos servidores públicos. A remoção de milhares de cariocas para bairros distantes em virtude das obras para os Jogos, a poluição na Baía de Guanabara e o aumento da violência policial também ganharam destaque entre as manifestações.
No final de junho, chamou a atenção um protesto realizado por policiais civis e militares, além de bombeiros, contra as más condições de trabalho e o atraso de salários. No Aeroporto Internacional Tom Jobim, os servidores estenderam uma faixa que dizia em inglês: “Bem-vindo ao inferno. A polícia e os bombeiros não recebem pagamento. Quem vier para o Rio de Janeiro não estará seguro”. O governo do Rio já havia decretado estado de calamidade pública no início de junho, com o objetivo de tentar acelerar a obtenção de verbas federais para concluir as obras olímpicas e pagar os servidores.
A CRISE POLÍTICA NO BRASIL
Pelo alcance extraordinário dos Jogos, os governos costumam aproveitar o fato de sediar a competição para promover o país internacionalmente e tentar passar a imagem de uma nação moderna e próspera. Nas Olimpíadas de 2008, em Pequim, o governo chinês se empenhou em mostrar ao mundo o progresso econômico que o país obteve nos últimos anos, como se os Jogos ratificassem o status de nova potência para a China.
Em 2009, quando o Rio foi escolhido para sediar os Jogos deste ano, o Brasil galgava degraus na arena internacional e despontava como uma das principais nações emergentes. Passados sete anos, contudo, a situação econômica do país piorou, com recessão e desemprego em alta, e o Brasil encontra-se mergulhado em uma grave crise política. Quem irá abrir os Jogos é o presidente interino Michel Temer, já que Dilma Rousseff está afastada enquanto aguarda o julgamento do processo de impeachment. Por conta dessa crise política e temendo a possibilidade de atentados terroristas, a cerimônia de abertura dos Jogos não deve receber um número expressivo de chefes de Estado, ao contrário do que geralmente acontece em um evento deste porte.