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Quantas vezes você já não assistiu a uma boa peça de teatro ou a um filme bem produzido e considerou seguir a carreira de Artes Cênicas? A ideia de atuar e dirigir espetáculos é bastante tentadora e pressupõe uma vida de luxo. Porém, nos bastidores dos palcos, a vida do ator não é bem assim cercada de regalias. Pelo contrário, ela envolve muito esforço e controle do próprio corpo, que é seu objeto de trabalho. “Não existem câmeras, não existe glamour, em Artes Cênicas se trabalha o corpo para o palco, para o teatro”, conta Tomas Hubner, aluno do quarto semestre do curso da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A instituição do interior do Rio Grande do Sul foi avaliada em cinco estrelas pelo Guia do Estudante e é sobre sua graduação que conversaremos hoje.
Vamos começar com uma boa notícia: ao contrário da maioria dos cursos da área, o da UFSM não exige prova de habilidades específicas para ingressar na faculdade. Portanto, quem nunca atuou na vida tem tantas chances de ser aprovado quanto quem já faz teatro há tempos. Então, se seu sonho sempre foi trabalhar com Artes Cênicas, mas você nunca teve contato com a área, nem pense em desistir! As aulas práticas têm início logo no primeiro semestre da graduação. Isso faz com que o estudante possa conhecer melhor a carreira escolhida e decidir se quer mesmo segui-la, ou não. Afinal, a experimentação é uma das principais atividades em teatro. “Alongamos, fazemos posições de controle do corpo, trabalhamos a respiração, a voz, fazemos exercícios de fortalecimento e resistência dos ossos, massagem”, relata Tomas.
Mas, se você está achando que parece simples exercitar o corpo, não vá pensando que vida de ator é moleza não! O estudante conta que o cotidiano das aulas é bem puxado, até porque o curso é integral e sua grade curricular também exige disciplinas teóricas, como Evolução do Teatro, Ética e Estética Teatral, Metodologia do Processo Criativo e Legislação e Produção Teatral. “Estudamos desde as tragédias e comédias gregas até a contemporaneidade. Temos estudos teóricos e práticos de encenadores, pesquisadores, pessoas do teatro e de outras áreas, além de técnicas circenses”, relata. As matérias teóricas são essenciais para entender, por exemplo, como encenadores e diretores de outras épocas trabalharam, o que foi tentado, quais técnicas de palco deram certo e quais não foram tão bem sucedidas assim.
A UFSM tem seu próprio teatro – o Caixa Preta – para encenações e aulas práticas, além de salas sem cadeiras para possibilitar a movimentação dos estudantes. A instituição oferece ainda duas turmas: a de bacharelado, em que os alunos poderão seguir as habilitações em Direção ou em Interpretação, e também a de licenciatura – que exige também disciplinas de pedagogia. Cada uma delas recebe 20 novos alunos por ano no campus de Santa Maria, via Enem. O fato de não haver prova de habilidades específicas é um dos aspectos mais positivos da graduação para Tomas. “A maioria das pessoas entra no curso sem nunca ter pisado em um palco, apenas teatrinhos na escola mesmo. O que não nos atrapalha em nada, afinal, entramos no curso para aprender!”
Mão na massa!
Gabriel Abrantes é aluno do quarto período da licenciatura e está participando de quatro encenações diferentes. Ele, que já havia tido contato com o teatro antes mesmo de entrar na faculdade, durante o curso básico de Artes Cênicas de uma escola municipal, acredita que a experiência prévia o ajudou a criar consciência corporal. A área não oferece muitos estágios, mas não é por isso que a prática fica de fora! Grande parte dos alunos consegue bolsas dentro da própria universidade para trabalhar nas encenações feitas no Caixa Preta e já integra companhias e grupos de teatro independentes. “O meu dia-a-dia é bem cheio, tenho aulas em quase todas as manhãs e em algumas tardes e outras são para ensaios. Como estou em muitos projetos, tenho em média sete ou oito ensaios por semana, cada um com quatro horas de duração”, explica.
Uma das montagens da qual o estudante participa está prevista na grade curricular. Ele está atuando em uma encenação do texto Todos Que Caem, de Samuel Beckett, dirigida por alunos do quinto e do sexto período. Ao chegar nessa etapa do curso, os estudantes do bacharelado devem optar pelas habilitações. Assim, quem escolheu interpretação desenvolverá um monólogo durante os dois semestres e quem decidiu pela direção irá coordenar uma peça. Esta última atividade prática é uma oportunidade que colegas de curso de todos os anos, como Gabriel, têm de atuar e participar do elenco e da composição de um espetáculo, já que cenografia, figurino e iluminação também são feitos em conjunto. “É interessante como podemos contar com a ajuda de amigos… Como sempre dizemos: teatro não se faz sozinho!”, observa o aluno. Ah! E para quem se interessa pelas duas habilitações, Tomas avisa que é comum que as pessoas estendam a formação e finalizem o curso em cinco anos para se especializar tanto em interpretação quanto em direção.
Mercado de trabalho
A área de atuação do artista cênico é ampla – além de concorrida e competitiva! – e envolve desde o trabalho em companhias de teatro até dar aulas em escolas e cursos livres. Além disso, muitos formados trabalham com cenografia e indumentária, área que Gabriel deseja seguir: ele pensa em cursar Moda para se especializar na área de figurino. O palco é um dos principais campos que absorve atores e diretores, mas a televisão e o cinema, além da carreira acadêmica, também são setores possíveis, desde que o profissional faça cursos para atuação com câmeras, conta Tomas. O estudante, que deseja ir para o Rio de Janeiro seguir essa área, relata que já atuou em filmes de curta metragem para a TV e em gravações de produtoras independentes.
Ainda assim, Tomas alerta que o curso de Artes Cênicas não está diretamente relacionado ao mercado cinematográfico e televisivo. “Se a pessoa sonha exclusivamente em aparecer na TV ou trabalhar em filmes, sugiro fazer cursos técnicos e ir tentar na prática, sem graduação nenhuma. Um ator não precisa necessariamente passar por uma graduação na área, é questão de escolha mesmo”, diz. E finaliza: “o curso superior envolve mais do que isso, envolve coleguismo, amor ao teatro, solidariedade, esforço físico e intelectual, estudo e muita leitura”.
Vida de Estudante
Gabriel Abrantes: “Eu diria que essa profissão pode trazer muitas felicidades e emoções, mas você precisa amar o que faz, porque ela exige muito empenho e vontade. Costumo dizer que não tem nada melhor que a mão suando e o pé tremendo antes de entrar no palco, é uma de tantas sensações maravilhosas. Mas é bom estar ciente de que Teatro é muito mais que ego e aparição. Teatro é arte, é política, é vivência, é tudo e mais um pouco. É terrivelmente viciante!” Tomas Hubner: “A recepção dos novos estudantes é bastante simples, recebemos os calouros de forma amigável, levando-os para um piquenique no bosque, onde conversamos e, através de algumas dinâmicas, aprendemos os nomes dos colegas. Também apadrinhamos os calouros, fazemos uma festa e não há nenhum tipo de maltrato aos novatos, é tudo feito de forma amistosa. Ah!, tem o ritual com o Deus Baco, que é segredo, tá? Hahaha.” |