Como é a carreira de História fora das salas de aula?
O GUIA recebeu a seguinte dúvida do leitor Matheus Carmezim:
“Gostaria de saber como anda a vida dos Historiadores no Brasil… Há como alguém que faz História não parar nas salas de aula? Como é o trabalho de historiadores que estão em outras áreas?”
Se você se interessa pelo curso de História, provavelmente já se fez essa pergunta um dia. Por isso, fomos atrás de profissionais que pudessem nos ajudar com a resposta.
Conversamos com Paulo César Garcez Marins, que faz parte do corpo docente do Museu Paulista (conhecido como Museu do Ipiranga) e é chefe do Departamento de Acervo e Curadoria. Ele também trabalha como editor na revista científica Anais do Museu Paulista. Veja o que ele nos conta sobre as possibilidades de trabalho para quem faz História:
É muito comum associar a profissão de historiador às salas de aula do ensino básico e do ensino médio. De fato, a grande maioria dos bacharéis e licenciados em história exerce essa opção, que é indispensável para a educação de nossa sociedade. Mas há muitas outras possibilidades de trabalho na área, que foram se expandindo nos últimos 30 anos.
Muitos historiadores trabalham hoje com gestão documental em arquivos públicos e privados, como pesquisadores em empresas especializadas em história empresarial, como técnicos em órgãos de preservação do patrimônio arquitetônico ou museológico, como assessores para a produção de novelas, vídeos e filmes, ou como professores do ensino superior, em cursos de História, Arquitetura e Urbanismo, Arquivística, Museologia, entre outras áreas disciplinares. Embora nossa profissão de historiador não seja regulamentada por lei e não seja exclusiva para os que portam o diploma de graduação em História (como acontece na Engenharia, Medicina, Enfermagem, Direito, Arquitetura, Museologia etc), é cada vez maior a demanda por formados na área, capazes de atuar com rigor na pesquisa histórica e com sólida formação obtida na universidade.
Muitos dos formados em História exercem tanto a profissão de professor quanto a de pesquisador em instituições culturais. É o meu caso. Fiz meu bacharelado e a licenciatura em História na USP onde também obtive o doutorado no Programa de Pós-Graduação em História Social. Essa formação me direcionava para o ensino de História e a pesquisa acadêmica, mas ainda na graduação fiz também estágios no Departamento do Patrimônio Histórico da Prefeitura de São Paulo e em um museu ligado ao antigo Departamento de Museus e Arquivos da Secretaria de Estado da Cultura. Esses estágios me mostraram outras perspectivas de atuação profissional, ligadas à pesquisa e à gestão de acervos culturais. Animado por esse caminho, fiz uma especialização em conservação de bens culturais na Universidade Federal do Rio de Janeiro, uma área de pós-graduação que cada vez mais tem atraído jovens historiadores.
Além de dar aulas de graduação e pós-graduação na USP, no Museu Paulista faço parte da equipe de docentes-curadores, que são responsáveis por atividades como a concepção das exposições, a aquisição de novos acervos e por diretrizes para catalogação das coleções. Vários historiadores, aliás, também atuam comigo no museu como membros do corpo técnico, especializados na gestão das coleções de objetos, de iconografia e de acervo arquivístico, ou atuando em nossas atividades educativas, bem como sendo conservadores ou restauradores após sua especialização.
Assim, posso dizer a você que o trabalho dos historiadores é hoje bastante variado e oferece muitas perspectivas de especialização e atuação profissional para além do nosso tradicional exercício no magistério.
Encantamento pelo saber histórico
Também recebemos um depoimento bem legal da Adriana de Almeida Mendes, que trabalha como educadora do Museu da Língua Portuguesa. Ela é um exemplo do que o professor Paulo falou acima: é formada em História e atua como pesquisadora em uma instituição cultural. Leia abaixo o recado que ela deu ao nosso leitor:
Olá Matheus!
Escolhi cursar História em primeiro lugar pelo encantamento que tenho pelo saber histórico. Encantamento esse que acredito que você também tenha, tendo em vista o seu interesse pela carreira. Mas, para além do encantamento, fiz como você: pensei nas perspectivas profissionais abertas para a área.
Quando comecei o curso tinha claro o caminho da sala de aula, porém escolhi não começar por ele e explorar outras possibilidades antes mesmo de me formar.
Encontrei no estágio uma porta facilitadora para isso. Entrei no museu como estagiária e, assim, conheci o trabalho de um educador de museu e a rotina dentro dele. Ao me formar fui contratada como educadora, onde continuo até hoje. Após trabalhar por um período, aí sim, decidi experimentar a sala de aula e hoje também trabalho como professora na rede estadual de ensino.
Ah! É interessante lembrar que professor também é um pesquisador!
Espero que você tenha êxito na escolha do seu caminho.
Abraços.
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