Como é estudar Arquitetura? Professores respondem 13 questões
Arquitetura de interiores e edificações são tradicionais áreas de atuação dos formandos
Como é a rotina de um curso de Arquitetura? O que se aprende? Será que você se daria bem nessa graduação? Para responder a essas perguntas, entrevistamos dois coordenadores de curso: os professores Enio Moro Junior, do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, e Marcos de Oliveira Costa, da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), também de São Paulo. Confira as respostas!
Arquitetura ou Engenharia Civil? Tire as dúvidas aqui
1- Qual o perfil do aluno de Arquitetura?
Prof. Marcos: Em geral, ele possui interesse em desenho, artes e história. Em menor grau, também encontramos alunos interessados em disciplinas como a matemática e a física. Esta aparente contradição na verdade é um espelho da própria Arquitetura, atividade que se relaciona com múltiplos campos do conhecimento.
2- Como um estudante de Ensino Médio pode saber se ele tem o perfil para o curso?
Prof. Marcos: Se um aluno começa a se interessar pelo curso de Arquitetura, a primeira coisa a fazer é ampliar seu conhecimento sobre o tema. Hoje são várias as páginas de internet que focam em assuntos ligados ao curso [um exemplo são os sites das próprias faculdades e universidades]. Saber mais sobre o curso ajudará na tarefa de escolha.
Prof. Enio: Se há um interesse em melhorar a vida das pessoas, em especial nas cidades, nas casas e nos ambientes de lazer, trabalho e mobilidade, isso já é um excelente indicador. Outra questão importante é gostar ou ter interesse em desenhar, seja pelos meios tradicionais como também por aplicativos e outros programas de computador. Percebo ainda que muitos de meus alunos têm uma atração especial por filmes de ficção científica que mostram cidades no futuro.
3- Quais as maiores dificuldades encontradas pelos alunos, sobretudo pelos ingressantes?
Prof. Marcos: Penso que a maior dificuldade é a existência de novas disciplinas pouco ou nunca exploradas pelos ensinos básico e médio. O exemplo mais claro é o projeto, elemento central da profissão, e cujo ensino é, quase sempre, novo para os ingressantes.
Prof. Enio: A adaptação às dinâmicas do curso, que possui muito mais trabalhos que provas nos processos avaliativos. Esses trabalhos são feitos em parte em grupo e em parte individualmente. Além disso, muitas disciplinas possuem mais de um professor e, às vezes, pode causar algum tipo de estranhamento.
4- Do que parte do curso os estudantes costumam gostar mais?
Prof. Marcos: Em geral os alunos gostam mais de projeto arquitetônico. Creio que justamente por ela ser a disciplina fundamental no trabalho dos arquitetos. No início do curso, também as aulas de maquete são muito apreciadas.
Prof. Enio: Também cito as aulas e práticas de desenho e representação e o laboratório de informática, pois os novos programas de Arquitetura e Urbanismo estão cada vez mais amistosos.
5- Como está estruturado o curso?
Prof. Marcos: No caso da Faap, por exemplo, 40% do curso é dedicado às disciplinas de projeto (arquitetura, urbanismo, paisagismo etc..), 17% corresponde à formação básica do arquiteto, enquanto 7% do curso é ocupado pelo ensino de história (história da artes e teoria da arquitetura e do urbanismo). As disciplinas técnicas (como técnicas construtivas, fundações e morfologia da estrutura etc) e as de patrimônio histórico e ambiental ocupam, cada uma, 10% do carga horária do curso. O restante é dedicado ao estágio, atividades complementares e disciplinas eletivas com temáticas variadas.
6- Quais as principais disciplinas básicas?
Prof. Enio: Desenho: formas e técnicas para representação, seja com os recursos mais tradicionais como também com os recursos informatizados.
História da Arquitetura: conhecimento dos espaços de como morávamos, trabalhávamos ou nos divertíamos durante a História e aprender com isso.
Informática: utilizar os novos programas e aplicativos de modo que consigamos apresentar melhor nossas ideias.
Materiais de Construção: os principais elementos construtivos utilizados (elementos industrializados, como pré-moldados de diversos materiais, ou os elementos artesanais, como os tijolos, o cimento, a madeira certificada), os materiais mais sustentáveis, as melhores escolhas, o desempenho destes materiais, entre outras questões que melhoram nossos projetos.
7- E o que se aprende nas principais disciplinas específicas?
Prof. Enio: Projeto de Arquitetura: criar melhores casas, edifícios, escolas, hospitais…
Projeto de Urbanismo: desenvolver melhores espaços públicos, cidades mais amistosas, ciclovias etc
Projeto de Paisagismo: melhorar, com elementos paisagísticos, os ambientes que vivemos, sejam eles internos ou externos.
8- Poderia nos contar um exemplo de atividade prática?
Prof. Marcos: Maquetes, por exemplo. Os alunos podem construir seus modelos em madeira, metal, cerâmica etc. As aulas de maquete fornecem o instrumental necessário para que estes modelos sirvam como elemento de reflexão sobre o projeto.
Prof. Enio: Visitas técnicas a locais de interesse arquitetônico, obras e projetos, e atividades nos laboratórios de informática, tecnologia ou canteiro de obras.
9- Há obrigatoriedade de trabalho de conclusão de curso? Como ele é feito?
Prof. Marcos: Sim. O Trabalho Final de Graduação é desenvolvido ao longo de um ano, durante o qual o aluno recebe a orientação de um professor. Trata-se do momento mais importante do curso, em que o aluno deve demonstrar sua capacidade de elaborar uma síntese das competências e conhecimentos adquiridos. Ao final de um ano de trabalho, sob a orientação de um professor, o aluno se apresenta diante de uma banca composta por três professores.
10 – Qual o formato desses trabalhos?
Prof. Marcos: Como o trabalho do arquiteto urbanista é muito amplo e diversificado, também o formato deste trabalho acaba por ser variado. Porém, o tema mais usual é mesmo sobre projeto. Neste caso o aluno elabora desenhos, maquetes, monografia e o que mais for necessário para a clara compreensão de sua proposta.
11- Qual seria um exemplo?
Prof. Enio: Vamos imaginar o projeto de uma escola. O aluno faz a monografia, que é uma reflexão sobre o tema. Essa reflexão pode ser histórica, por exemplo, a partir dos principais pensadores de arquitetura. Esta reflexão deve ser traduzida em projeto, ou seja, o aluno faz também o projeto da escola, sua inserção na cidade, suas principias tecnologias construtivas e ainda todo um conjunto de desenhos, maquetes eletrônicas e maquetes físicas. O aluno apresenta tudo isso para uma banca final. Seu produto final, portanto, é uma monografia (reflexão sobre seu tema de estudo)e o projeto (tradução em desenho de tudo que pensou).
12- Como são os estágios?
Prof. Enio: Geralmente as escolas trabalham com seis meses de estágio, em meio período. Lá os estagiários têm um primeiro contato com o mundo profissional: desenvolvem projetos, acompanham obras, realizam reuniões com clientes e fornecedores, entre outros. Os locais que mais oferecem estágios são os escritórios de arquitetura, construtoras e órgãos públicos. Atualmente identifico que cada vez mais as formas alternativas ganham espaço, como os coworkings ou outras formas coletivas de trabalho via internet, por exemplo.
13 – Quais as áreas de atuação da maioria dos egressos do curso?
Prof. Marcos: A principal área de atuação dos egressos da Faap é a arquitetura de interiores. Em especial, no projeto de espaços corporativos e comerciais. Outra área importante é a de projeto de edificações. O curso de Arquitetura e Urbanismo oferece um leque grande de possibilidades profissionais. Existem arquitetos urbanistas atuando em áreas como cenografia, editoração, paisagismo e museografia entre outras.
Prof. Enio: Na Belas Artes, a principal área é a de projeto, seja de arquitetura, urbanismo, paisagismo, interiores ou patrimônio histórico. Outra área muito significativa é a de obras (gestão, acompanhamento, gerenciamento). Um setor que está em franca ascensão é o de novas tecnologias e sustentabilidade aplicadas a Arquitetura e Urbanismo. Há muitas oportunidades também na área de informática, como o desenvolvimento de projetos, realização de maquetes eletrônicas, simulações, realidade virtual, entre outros.