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Como é o dia a dia em um curso de Hotelaria

Editora do Guia do Estudante visitou hotel-escola e conta como funciona essa graduação

Por Lisandra Matias*
Atualizado em 11 set 2017, 15h10 - Publicado em 4 set 2017, 15h26
Como é o dia a dia em um curso de Hotelaria
Estudantes atuam na recepção do Grande Hotel São Pedro (SP) no evento “Desafio Senac: Alunos no Comando”. Durante um final de semana, eles assumem todas as funções do hotel, sob a supervisão de professores e funcionários. (Senac/Divulgação)

Trabalhar em um hotel é apenas uma das possibilidades de quem faz Hotelaria. O curso, que pode ser tanto um bacharelado (com duração de quatro anos) como um tecnológico (de curta duração, com cerca de dois anos), prepara o profissional para atuar não só nos diferentes meios de hospedagem (hotéis, resorts, cruzeiros marítimos, flats, colônias de férias, pousadas, spas etc), mas também em outros setores, como hospitais, shoppings centers, empresas de eventos, restaurantes e bares, entre outros.

Por trás desse enorme leque de possibilidades está um conceito-chave que permeia todas essas atuações: a hospitalidade – o ato de acolher o outro, bem recebê-lo, seja na hospedagem ou em outros serviços.

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“Em geral, os alunos que optam por hotelaria gostam de interagir com pessoas de diversas culturas, de viajar, de aprender outros idiomas, de sentir satisfação em servir ao outro. Nesse sentido, eles têm em seu DNA a excelência na prestação dos serviços, a atenção aos detalhes, a personalização, e visam proporcionar experiências memoráveis aos clientes”, explica Cícera Carla Bezerra da Silva, diretora do Centro Universitário Senac, em Águas de São Pedro (SP). O campus, que oferece um curso tecnológico de hotelaria, foi visitado pelo Guia do Estudante.

Com essas competências aliadas à gestão do negócio, o profissional pode trabalhar em empresas que buscam um diferencial em seus serviços e ser contratado como concierge, governanta, gerente de operações e gerente de hospitalidade. Já nos estabelecimentos hoteleiros, pode atuar da operação à gestão, em funções que vão desde recepcionista, passando por gerente de áreas (como hospedagem, alimentos e bebidas, eventos etc.), até gerente geral.

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Foco na prática

Para treinar e testar todas essas habilidades, por a mão na massa é fundamental. No Senac, por exemplo, um dos principais atrativos do curso, que teve início em 1989, é dispor de um hotel-escola próprio, o Grande Hotel São Pedro, localizado na instância hidromineral deÁguas de São Pedro, a 184 quilômetros de São Paulo. Construído como um hotel-cassino na década de 1930, ele passou a ser administrado pelo Senac no final dos anos 60. Em meio a uma área verde de 330 mil metros quadrados, ladeado por jardins e bosques, o hotel de estilo art déco tem padrão internacional e gastronomia premiada, além de extensa área de lazer e parque aquático. É nesse cenário que os alunos realizam a disciplina de prática profissional. “É um resort de luxo que, ao mesmo tempo, se constitui numa ferramenta pedagógica”, diz Cícera da Silva.

Durante um mês, os estudantes passam por todo os setores do hotel, vivenciando situações reais, detectando problemas e buscando soluções para resolvê-los. “A gente aprende na teoria e já testa na prática”, conta Renata Camargo Gomes, 25 anos, aluna do 4º período. Nos cursos que não dispõem de hotel-escola, os alunos treinam a prática em instituições conveniadas. Para se formar, os estudantes também precisam cumprir 150 horas de estágio obrigatório, a partir do 2º período.

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Laboratórios

Antes de entrar em ação no hotel, contudo, os alunos passam por treinamento nos laboratórios – para um curso tecnológico, o Ministério da Educação exige, pelo menos, dois laboratórios, sendo um deles o de hospedagem.

No laboratório de cozinha, que lembra o cenário de programas como o Masterchef, eles aprendem as técnicas básicas de gastronomia, como higienização, preparação e armazenamento de alimentos, além de cortes de carnes e legumes. No laboratório de restaurante, recebem ensinamentos sobre a arrumação das mesas, as diversas formas de servir, o posicionamento dos talheres e os tipos de copos e taças.

Um dos mais interessantes é o laboratório de hospedagem. Parece, então, que estamos em um quarto de hotel, não fossem as carteiras dos estudantes ao fundo. Nesse local, os alunos simulam uma situação real de hospedagem, desde o atendimento na recepção, incluindo os procedimentos para fazer o check in e o check out, até a arrumação do quarto. Eles vão aprender, por exemplo, como arrumar uma cama no estilo hoteleiro, como limpar o banheiro adequadamente e até como manter o carrinho de limpeza organizado. “A cada processo corresponde um determinado procedimento, sempre tendo em vista a qualidade do serviço e a rapidez na execução, para que tudo funcione da melhor forma possível”, diz a professora Michele Novembre, coordenadora do curso tecnológico em hotelaria do Centro Universitário Senac.

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No dia a dia, ela explica, não são os profissionais formados em hotelaria que realizarão esses serviços. “Mas é importante que eles saibam como fazer para poderem coordenar e gerir essas atividades”, diz. E exemplifica: “O tempo que se demora para fazer a higiene, a quantidade de produtos de limpeza gastos,  tudo isso vai impactar nos custos”. Por isso, o profissional tem que estar por dentro e dominar essas informações operacionais, pois elas é que vão dar suporte para a gestão.

Game hoteleiro

A gestão, inclusive, é conceito central nos cursos de hotelaria, já que uma das principais formações é atuar como gestor de empreendimentos hoteleiros. Além das atividades práticas, que treinam a gestão, os alunos também costumam contar com softwares específicos para isso.

Um deles é o game Host (Hotelaria Simulada para Treinamento). Por meio desse jogo, os alunos aplicam os conceitos teóricos aprendidos nas aulas para administrar um hotel fictício. Eles têm que definir o perfil desse empreendimento (por exemplo, se é um hotel urbano para executivos, se é um resort de lazer etc.) e considerar uma série de variáveis, como tarifa, política de RH (salário dos funcionários, benefícios, treinamento), ações de marketing (o quanto vai ser investido, o tipo de canal, se vai ter propaganda na TV ou no rádio, anúncio na internet etc.), o investimento na manutenção da estrutura física do hotel, a qualidade dos serviços, os eventos oferecidos e toda a parte de alimentos e bebidas (o que será produzido e o que será terceirizado, por exemplo). A partir dessas decisões, eles vão obter determinados resultados, que serão sempre comparados aos de seus concorrentes (os outros alunos que estão no mesmo jogo). “É um importante instrumento para aplicar o aprendizado técnico e conceitual sobre o funcionamento de um hotel, seu planejamento financeiro e a tomada de decisão”, diz a professora Marcia Akemi, do curso tecnológico de Hotelaria do Centro Universitário Senac.

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Currículo

Para dar conta de tantas tarefas práticas, os alunos também recebem boa base teórica. Os currículos dos cursos contemplam grandes eixos temáticos, como alimentos e bebidas, meios de hospedagem, serviços de hospitalidade e administração e marketing. Assim, eles estudam disciplinas como prática e supervisão em cozinha, cultura e negócios hoteleiros, legislação aplicada à hospitalidade e contabilidade hoteleira e planejamento financeiro.

“Ao final de cada período, os alunos precisam apresentar um trabalho, denominado projeto integrador, que consiste num plano de melhorias ou estudo mercadológico, no qual aplicam todo o conhecimento adquirido no semestre”, explica o professor Antonio Carlos Bonfato, que leciona nos cursos tecnológicos de hotelaria e de gastronomia e também na pós-graduação do campus Águas de São Pedro.

Alunos no comando

Como é o dia a dia em um curso de Hotelaria
Cerca de 80% dos funcionários do Grande Hotel Águas de São Pedro (SP) são ex-alunos do curso (graduação, pós-graduação, cursos livres, etc) (Senac/Divulgação)
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No Senac, outra oportunidade de por a “mão na massa”, mas que também treina as competências de gestão e liderança dos alunos e tudo o que aprenderam nas aulas teóricas, é a disciplina optativa Desafio Senac: Alunos no Comando. A disciplina termina numa grande atividade que reúne os alunos do cursos tecnológicos em Hotelaria, Gastronomia e Eventos, além do bacharelado em Hotelaria, dos três campi da instituição – Santo Amaro (na capital paulista), Águas de São Pedro e Campos do Jordão (onde o Senac também tem outro hotel-escola). Nesse evento, realizado desde 2012 durante um final de semana do ano, os alunos assumem o comando de um dos hotéis. Sob a supervisão de funcionários e professores, eles são responsáveis por planejar e organizar a hospedagem, as operações de alimentos e bebidas, a programação de lazer e os eventos que serão realizados durante esses três dias. A cada ano, o evento ocorre em um local. Em 2016, foi realizado em Águas de São Pedro e contou com cerca de 80 estudantes. A próxima edição vai acontecer de 6 a 8 de outubro de 2017 no Grande Hotel Campos do Jordão.

O aluno Thiago Radael, do 4º período do curso tecnológico de Hotelaria de Águas de São Pedro, atuou como maître do evento em 2016. “Foi uma experiência que me proporcionou outra visão da profissão. Tenho mais dinamismo na hora de passar as tarefas”, conta ele, que também trabalha no Grande Hotel Águas de São Pedro como chefe de fila (funcionário que recepciona os clientes que chegam ao restaurante). Em 2017, ele ocupará um cargo de gestão no evento, o de assistente de Alimentos e Bebidas – responsável por escolher o cardápio e definir a equipe de colaboradores (outros alunos) que vão trabalhar no restaurante e no salão (atendimento).

Segundo a diretora Cícera, 80% dos alunos finalizam o curso já com um emprego. Entre os funcionários do Grande Hotel, essa também é porcentagem dos que são ex-alunos do Senac, incluindo os cursos de graduação, pós-graduação, capacitação de garçom e auxiliar de cozinha, cursos livres, de extensão e gratuitos.

*A jornalista Lisandra Matias viajou a convite do Centro Universitário Senac.

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