A dúvida de hoje foi enviada pela leitora Camila Correia. Ela sonha em trabalhar no mercado financeiro, mas não sabe qual a melhor graduação para isso: Administração ou Economia?
“Olá, meu nome é Camila Correia e tenho dúvidas quanto ao mercado de trabalho dos cursos de Administração e Ciências Econômicas. Tenho interesse em trabalhar no mercado financeiro (bancos) e gostaria de saber qual dos dois cursos apresenta maior empregabilidade.”
As duas carreiras são bastante procuradas por bancos e setores financeiros. Muitas vezes, administradores e economistas convivem e concorrem aos mesmos postos, como é o caso de cargos relacionados a fundos de investimento, análise de mercado e fusões e aquisições de empresas. As diferenças entre as profissões aparecem, principalmente, em funções que exigem maior conhecimento de um campo ou de outro. Em consultoria econômica, por exemplo, economistas são mais procurados, já que se trata de uma área de pesquisa diretamente relacionada à sua especialidade. Da mesma forma, o administrador será mais requisitado em setores de marketing e relações humanas.
Para solucionar a dúvida da Camila, conversamos com o administrador Yuri Zanoni e com a economista Itali Pedroni Collini, ambos com experiências profissionais no mercado financeiro e formados pela Faculdade de Administração e Economia, da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Eles explicam que a empregabilidade é muito similar – e alta! – nas duas profissões e destacam que uma das principais distinções entre as carreiras está na grade curricular de cada curso. Ainda que os dois tenham aulas de finanças na faculdade, a graduação em Administração é mais direcionada à parte prática, enquanto os conteúdos de Economia incluem tópicos mais teóricos e reflexivos.
Confira os depoimentos!
(Imagem: Thinkstock)
Yuri Zanoni, administrador na Bloomberg, formado pela FEAUSP:
“Ei, Camila! Espero poder te oferecer uma visão de um administrador que já passou pelo mesmo dilema que o seu e hoje está bastante satisfeito com sua escolha acadêmica. Logo após o ensino médio, iniciei a faculdade de Relações Internacionais na Unesp, porém não fiquei satisfeito com essa escolha e decidi tentar novamente o vestibular. Naquela época, fiquei em dúvida entre dois cursos: Administração, que eu via como de maior empregabilidade, e Economia, que me encantava pelo lado intelectual. Na dúvida, decidi prestar o primeiro na USP e o segundo na Unicamp e, felizmente, fui aprovado nas duas. O sonho de estudar na USP e a vontade de morar em São Paulo falaram mais alto e optei por Administração, na FEAUSP.
No curso de Administração, por ser mais focado às necessidades do mercado, o aluno tem um nível de exigência um pouco mais prático do que um discente de Economia. A quantidade de matérias de finanças em Administração é maior, porém a profundidade de matérias quantitativas em Economia também é superior, o que, no fim, equilibra bastante as vantagens de cada um dos profissionais quando chegada a hora de competir por vagas no mercado.
Fique tranquila que você será considerada competitiva para trabalhar no mercado financeiro se escolher qualquer uma das duas carreiras e se souber como desenvolver seu raciocínio lógico e analítico. Eu realmente gostei da diversidade de áreas que tive contato durante o curso de Administração: marketing, logística, recursos humanos e finanças. Essa exposição te permite escolher com maior certeza a área com que mais se identifica. Economia será um curso mais focado e mais teórico, enquanto na Administração você pode exercer mais facilmente no mercado o que aprende em suas aulas de finanças.
O mercado para economistas e administradores é bastante similar e, geralmente, no mercado financeiro, concorremos pelas mesmas vagas. Atualmente, a situação está um pouco mais difícil para conseguir colocações, pelo momento que o Brasil vive, porém, até você se formar esse período terá sido normalizado, afinal, a economia funciona em ciclos. O repertório acadêmico que você tiver, experiências de estágio que você tiver durante a graduação e vivência internacional, bem como terceiro e quarto idiomas serão seus grandes diferenciais, mais do que ser administradora ou economista. Exemplos de carreiras no mercado financeiro que absorvem administradores são bancos de varejo, bancos de investimento, corretoras, fundos de investimento, bolsa de valores, empresas de serviços financeiros e consultorias econômicas.
Eu tive a sorte de conseguir estagiar num banco de investimento americano, que foi uma verdadeira escola para finanças na minha vida profissional, e hoje trabalho numa empresa de serviços financeiros chamada Bloomberg. Aqui, auxiliamos os analistas de mercado a realizarem ações no mercado financeiro embasados em pesquisas que abordam diversos aspectos específicos nas áreas de renda fixa, commodities, moeda estrangeira e ações. Por eu ter uma veia acadêmica bem forte, gosto muito do que faço e espero crescer aqui e, eventualmente, me tornar um especialista em uma classe específica de investimentos. De qualquer forma, desejo sorte em sua carreira e recomendo que antes de escolher o curso, compare as grades oferecidas pelas principais instituições tanto de Administração como Economia (FEAUSP, FGV, Insper, Unicamp) e veja com qual você se identifica mais. Isso será de grande importância e pode evitar com que você se desaponte com a escolha que fizer no futuro.”
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(Imagem: Thinkstock)
Itali Pedroni Collini, economista formada pela FEAUSP:
“Oi, Camila! O mercado de trabalho no Brasil desacelerou nos últimos anos, porém a demanda por mão de obra qualificada em bancos e no mercado financeiro em geral não diminuiu a ponto de desincentivar a entrada de jovens na área.
Não vejo uma preferência clara entre administradores ou economistas nas principais áreas do mercado financeiro, mas sim no que diz respeito a áreas mais de suporte. Áreas como marketing e RH dificilmente contratam economistas, porque nós não temos nenhuma matéria sobre isso no nosso curso. Do mesmo modo que para posições de pesquisa específica em Economia (departamentos econômicos de bancos, por exemplo) dificilmente se contratam administradores, porque eles não possuem formação específica em modelagem econômica. Para as áreas de negócios do banco não há distinção alguma a meu ver, pois os dois cursos formam profissionais aptos a atuarem em fundos de investimento, mesa de operações, fusões e aquisições de empresas, análise de empresas, e outras atividades que os bancos exercem, já que oferecem aos alunos matérias de finanças e um raciocínio analítico interessante para as profissões no mercado financeiro.
Eu estagiei em diversas áreas de diferentes empresas para formar minha experiência profissional. Passei por dois bancos, um na área de varejo (produtos para pessoa física) e outro na área de atacado (operações com a bolsa de valores para pessoas jurídicas), uma consultoria econômica, em banco de dados, e uma agência de rating, na área de análise de empresas. Oúnico estágio em que só vi economistas foi na consultoria, pois entra na classificação de pesquisa específica que comentei, de resto havia profissionais de ambos cursos. Estou saindo da graduação e do estágio atual para uma posição de analista de fusões e aquisições (M&A, como chamamos no mercado), numa empresa independente de assessoria financeira. Eu sempre digo para as calouras e calouros que experimentem o quanto puderem do mercado de trabalho, sentiu curiosidade por uma área? Tente! E também não foque apenas nas empresas grandes, pois as pequenas podem trazer proximidade com profissionais mais seniores e são boas oportunidades de aprendizado!
Uma diferença entre as duas carreiras que posso comentar está mais na formação do que nas possibilidades de emprego, a formação de Economia é mais teórica e filosófica, isso pode frustrar algumas pessoas mais pragmáticas. A formação do administrador é mais prática e ampla, porém pode não possuir a profundidade de um curso de Economia. Eu sempre gostei de trabalhar e descobrir áreas novas, mais do que estudar horas a fio sozinha. Fiz Economia e hoje, formada, não me arrependo, mas passei por grandes dúvidas durante a faculdade, por conta da carga teórica do curso. Então sugiro que refleta e se autoconheça, você gosta de colocar a mão na massa? Ou gosta mais refletir teorias e pensar em modelos de sociedade? Essas perguntas são importantes para uma expectativa mais realista dos cursos e da vivência acadêmica, mas independentemente do que você escolher, a empregabilidade é alta e muito boa para ambos!”
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