Idade Contemporânea: I Guerra Mundial
O mais violento combate entre as potências até então redefiniu a distribuição de poder no planeta
Em 1914, um conflito armado entre o Império Austro-Húngaro e a Sérvia estendeu-se às demais potências imperialistas europeias e envolveu dezenas de países. A guerra durou quatro anos, deixou cerca de 14 milhões de mortos e sacudiu a geopolítica mundial.
Motivos e alianças
O principal fator que desencadeou a I Guerra Mundial foi o choque de imperialismos: todas as potências europeias estavam empenhadas em expandir suas economias e seus domínios, o que provocava disputas.
A situação ficou especialmente complicada no início do século XX, quando a Alemanha despontou como uma das economias mais pujantes do continente, após unificar-se e industrializar-se de forma acelerada. A ascensão preocupava britânicos e, sobretudo, franceses, que alimentavam revanchismo contra os alemães desde a derrota na Guerra Franco-Prussiana (1870).
A Rússia também tinha atritos com vizinhos. Sob o pretexto do paneslavismo (união de todos os povos eslavos), ela queria anexar áreas dos impérios Austro-Húngaro e Turco-Otomano. Os territórios otomanos eram desejados pela Sérvia, que sonhava, a exemplo da Rússia, em agregar os eslavos da região na Grande Sérvia.
Os choques de interesses levaram à criação de dois sistemas rivais de alianças. Em 1879, a Alemanha firmou com o Império Austro-Húngaro um acordo contra a Rússia. Três anos depois, a Itália, rival da França no Mediterrâneo, aliou-se aos dois países, constituindo a Tríplice Aliança. Do lado oposto, surgiu a Tríplice Entente, que teve origem na Entente Cordiale, formada em 1904 por Reino Unido e França, para se opor ao expansionismo germânico. Em 1907 conquistou a adesão da Rússia.
Uma vez montados os dois blocos, as potências iniciaram uma política de militarização e surgiram pequenos conflitos. As atenções se voltavam agora para a região dos Bálcãs, disputada por ambas as alianças e agitada por levantes nacionalistas.
Guerra
Em junho de 1914, o arquiduque Francisco Ferdinando, sucessor do Império Austro-Húngaro, e sua mulher foram assassinados em visita a Sarajevo, na Bósnia-Herzegóvina – a região havia sido anexada pelos austríacos anos antes. O crime foi cometido por um estudante membro de uma organização separatista. Após confirmada a cumplicidade de políticos da Sérvia no atentado, o governo austríaco enviou um ultimato aos sérvios. Exigia, entre outras medidas, a demissão de ministros suspeitos de participação no crime. A Sérvia relutou em atender às exigências, e o país foi invadido pelos austríacos em 1º de agosto, dando início aos combates.
Logo, as demais nações que compunham as alianças entraram no conflito. A Rússia declarou guerra à Áustria; a Alemanha, à Rússia. A França mobilizou tropas contra os alemães. Em 3 de agosto de 1914, o continente estava em guerra. Em seguida, outros países tomaram partido: o Reino Unido aliou-se à França; a Turquia, do lado dos alemães, atacou os portos russos no Mar Negro; e o Japão, interessado nos domínios germânicos no Extremo Oriente, engrossou o bloco contra a Alemanha.
Ao lado da Entente, entraram outras 24 nações, estabelecendo uma ampla coalizão, conhecida como Aliados. Já a Alemanha recebeu a adesão do Império Turco-Otomano, movido pelos interesses nos Bálcãs. Esse primeiro estágio da guerra, que durou até a Batalha do Marne, vencida pelos franceses, em setembro de 1914, ficou conhecido como guerra de movimento. Era quando as potências ainda acreditavam numa decisão rápida para o conflito.
Já o momento seguinte, a guerra de trincheiras (ou de posições), foi marcado pelo uso de metralhadoras e tanques. Na frente ocidental, a guerra entre França e Alemanha continuou sem vencedores até 1918. Na frente oriental, os alemães abateram a Rússia. A Itália, embora pertencente à Tríplice Aliança, ficou neutra no início, mas trocou de lado em 1915, sob a promessa de receber parte dos territórios turco e austríaco.
Em 1917, os únicos países da Entente que resistiam eram a Inglaterra e a França. Na Rússia, quase derrotada, a insatisfação popular levou à revolução socialista. Com a derrota russa e o risco de a Alemanha avançar pela frente ocidental e conquistar a França, os Estados Unidos entraram na guerra com os Aliados e decidiram o confronto. O país queria preservar o equilíbrio de poder na Europa e evitar uma possível hegemonia alemã.
ENTRINCHEIRADOS Soldados alemães na I Guerra Mundial: o conflito deixou 14 milhões de mortos
Tratados de paz
Em julho de 1918, forças inglesas, francesas e norte-americanas lançaram o ataque definitivo. As potências centrais recuaram e começaram a solicitar armistícios. Aos poucos, Bulgária, Turquia e Áustria se renderam. A guerra estava praticamente vencida.
Pelo Tratado de Brest-Litovsk, os bolcheviques, que assumiram o poder na Rússia, já haviam assinado a paz em separado com a Alemanha, em março de 1918. A fome e a saúde precária da população alemã levaram o país à beira de uma revolução. Com a renúncia do kaiser (imperador alemão), exigida pelos EUA, um conselho provisório negociou a rendição.
Em janeiro de 1919, no Palácio de Versalhes, iniciou-se a Conferência de Paris, em que o Conselho dos Quatro, formado por EUA, França, Inglaterra e Itália, tomou as decisões do pós-guerra. O Tratado de Versalhes determinou que a Alemanha cedesse um sétimo de seu território, perdesse suas colônias, tivesse seu Exército reduzido e pagasse uma indenização. Ficou estabelecida a criação da Liga das Nações, encarregada de manter a paz mundial. Pelos tratados de Saint-Germain e Trianon, o Império Austro-Húngaro foi desmembrado, e surgiram a Hungria, a Tchecoslováquia, a Polônia e a Iugoslávia. A Áustria virou um pequeno Estado, sem poder relevante. A paz com o Império Turco-Otomano, também desmembrado foi selada no ano seguinte.
Em Era a Guerra de Trincheiras, o quadrinhista francês Jacques Tardi reúne diversas situações brutais e desumanas vividas pelos soldados nas trincheiras, mostrando o desespero e o despreparo dos combatentes, que só queriam que a guerra acabasse logo para poderem voltar para suas casas.