Idade Contemporânea: Revolução francesa
A LIBERDADE GUIANDO O POVO Tela do pintor Eugène Delacroix faz alusão à Revolução Liberal de 1830, que prolonga o movimento da Revolução Francesa
O levante burguês
Em um processo cheio de reviravoltas, a burguesia francesa guilhotinou o absolutismo na França, tomou o poder e soprou ventos liberais por todo o planeta
A Revolução Francesa, modelo clássico de revolução burguesa, foi um movimento social e político que transformou profundamente a França de 1789 a 1799. Sob o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, a burguesia revoltou-se contra a monarquia e, com o apoio popular, tomou o poder, pondo fim aos privilégios da nobreza e do clero e livrando-se das instituições feudais do Antigo Regime. A revolução também criou as condições para que a França caminhasse rumo ao capitalismo industrial.
A Revolução Francesa é o auge de um movimento revolucionário que consolida uma sociedade capitalista, liberal e burguesa. Atinge outros países, como a Inglaterra e os Estados Unidos, e chega à França com ideais mais bem delineados. Os movimentos pela independência da América Espanhola também são reflexos dessas transformações.
Antecedentes
No fim do século XVIII, a população francesa formava uma sociedade de estamentos, resquício da Idade Média, mas já se percebia uma divisão de classes. O clero compunha o Primeiro Estado; a nobreza, o Segundo Estado. Eles eram os mais privilegiados, sustentados pelos impostos pagos pelo Terceiro Estado, que correspondia a cerca de 98% dos habitantes e era composto de burgueses, trabalhadores urbanos e camponeses.
À época, o país enfrentava sérias dificuldades econômicas. Além de endividada externamente, a França via sua agricultura sofrer com secas e sua indústria minguar por causa da concorrência inglesa. Como solução, os ministros do rei Luís XVI, influenciados pelo liberalismo, propuseram cobrar impostos da nobreza e do clero, até então isentos de tributos. As classes dominantes pressionaram contra o projeto, e a situação política ficou tensa.
Assembleia Nacional Constituinte
Em 1789, o rei convocou a Assembleia dos Estados Gerais. Nesse órgão, cada Estado tinha direito a um voto, o que garantia o domínio da nobreza e do clero, seus tradicionais aliados. Cansado de não ter voz ativa, e ao ver a aristocracia abalada pela crise econômica, o Terceiro Estado se rebelou: proclamou-se a Assembleia Nacional Constituinte, dedicando-se à elaboração de uma nova Constituição para a França.
A população envolveu-se. Em 14 de julho, os parisienses tomaram a Bastilha – prisão que simbolizava o poder monárquico –, no episódio que marcou o início da revolução. Grande parte da nobreza fugiu do país, e os revolucionários avançaram para o interior, atacando seus castelos. Em agosto, a Assembleia Constituinte aprovou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que estipulava liberdades individuais e estabelecia a igualdade de todos perante a lei.
Assembleia Nacional Legislativa
Em 1791 foi finalizada a Constituição. O texto conservava a monarquia, mas instituía a divisão do Estado nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, proclamava a igualdade civil e confiscava os bens da Igreja.
Foi eleita a Assembleia Nacional Legislativa, com voto censitário (condicionado à renda), de modo que a maioria dos membros pertencia à elite burguesa. Os deputados dividiam-se em três grupos. Os girondinos, representantes da alta burguesia, sentados à direita do plenário, eram mais conservadores e combatiam a ascensão dos sansculottes (os que não usavam culotes, traje da nobreza, ou seja, o povo). Os jacobinos, à esquerda, representavam a média e pequena burguesia, eram apoiados pelas camadas populares e buscavam ampliar a participação do povo no governo. Os deputados do centro, a maioria, eram apelidados de grupo do pântano e oscilavam entre jacobinos e girondinos.
Preocupadas com os eventos ocorridos no país vizinho, Áustria e Prússia invadiram a França, em 1792. Os dois países foram apoiados pela nobreza francesa refugiada e pelo próprio Luís XVI, que sonhava em voltar ao poder. Diante da tentativa de fuga de Luís XVI para se juntar aos nobres emigrados e do agravamento das ameaças contrarrevolucionárias, os jacobinos, liderados por Robespierre, Jean Paul Marat e Danton, conseguiram aprovar as propostas de extinção da monarquia, a prisão do rei e a implantação da República. Com o apoio dos sansculottes, derrotaram os exércitos leais às monarquias absolutistas europeias e radicalizaram a oposição aos nobres.
Convenção
A pressão popular fez com que se formasse uma nova Assembleia para preparar outra Constituição. A Convenção, como ficou conhecida, funcionou entre 1792 e 1795, passou a controlar os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, e era dirigida pelo Comitê de Salvação Pública. Fortalecidos, os jacobinos proclamaram a República em 20 de setembro de 1792. No ano seguinte, guilhotinaram Luís XVI, capturado durante a guerra.
Diretório
Os novos líderes decidiram redigir outra Constituição, instituindo o governo do Diretório (1795-1799), que consolidou as aspirações burguesas. Nesse período, o país sofreu ameaças externas, e, para manter seus privilégios, a burguesia entregou o poder ao general Napoleão Bonaparte. Popular por suas conquistas militares, ele deu um golpe de Estado em 1799 – o 18 Brumário –, instalando um novo governo, o Consulado. Nesse sistema, a nação era administrada por três cônsules, dos quais Napoleão era o mais influente. Em 1804, o general coroou-se imperador. Prosseguiu a expansão territorial, formando um grandioso império que incluía a Áustria, a Holanda, a Suíça, a Itália, a Bélgica e a Península Ibérica. Também implantou o Código Civil, que confirmou a vitória da revolução e influenciou a legislação de quase todos os países europeus no século XIX.
NAPOLEÃO BONAPARTE – Imperador consolida o jovem Estado burguês na França
Derrota de Napoleão
Napoleão foi derrotado por uma coalizão de potências europeias em 1815. No mesmo ano, representantes dessas potências reuniram-se no Congresso de Viena para redefinir o mapa político da Europa e do mundo. Sob a liderança do Reino Unido, da Áustria, da Prússia e da Rússia, os territórios do Império Napoleônico foram redistribuídos entre os países vencedores, restaurando dinastias e fronteiras alteradas pelas guerras napoleônicas. A Santa Aliança, organização política internacional, é fundada com o objetivo de manter a França sob vigilância, deter novos movimentos revolucionários e garantir o equilíbrio de poder estabelecido entre as grandes potências europeias.
Revoluções Liberais
Após a derrota de Napoleão, a dinastia dos Bourbon foi restaurada sob o comando de Luís XVIII. A França estabeleceu-se como uma monarquia constitucional, combinando elementos do Antigo Regime com algumas conquistas liberais da Revolução. Após a morte de Luís XVIII, em 1824, Carlos X assumiu o poder. Nessa época, a França estava dividida politicamente entre os defensores do absolutismo, os apoiadores dos princípios da revolução e aqueles que queriam a volta de Napoleão Bonaparte.
Com o apoio dos absolutistas, Carlos X adotou uma série de medidas com o intuito de restaurar o regime autocrático. Em 1830, contrariado com a vitória dos deputados liberais, Carlos X fechou o Parlamento, o que foi o estopim para as Revoluções Liberais. Liderados pela burguesia, o povo parisiense insurgiu-se contra o rei no levante conhecido como os Três Dias Gloriosos. As revoltas derrubaram o último Bourbon e levaram ao trono um Orleans. Luís Felipe I assumiu o poder com o apoio da burguesia e prometeu respeitar a ordem constitucional.
A Revolução Liberal estimulou outras insurreições na Europa. A Bélgica libertou-se dos Países Baixos e a Grécia tornou-se um Estado independente. Agitações nacionalistas também ocorreram na Polônia, na Alemanha e na Itália. As mudanças trazidas pela Revolução Francesa tinham vindo para ficar.
Corte fugida
Inimiga da Inglaterra, a França de Napoleão decretou, em 1806, o bloqueio continental, impedindo a Europa de comercializar com os britânicos. Com a economia subordinada à Inglaterra, Portugal relutou em aderir ao bloqueio. Napoleão, então, ordenou a invasão do reino ibérico, provocando a vinda da família real portuguesa ao Brasil, em 1808. Isso apressaria nossa independência, ocorrida em 1822 (veja mais na pág.94).
Começava o Período do Terror, que durou de 1793 a 1794. Sob o comando de Robespierre, foi criado o Tribunal Revolucionário, encarregado de prender e julgar traidores. Milhares de pessoas foram guilhotinadas, incluindo jacobinos acusados de conspiração, como Danton e o jornalista Desmoulins. O governo jacobino foi popular, mas as perseguições levaram à perda do apoio do povo. Os membros da Convenção acabaram se voltando contra Robespierre, que foi preso e executado. Assim, chegava ao fim a supremacia jacobina. Os girondinos, em aliança com o grupo do pântano, instalaram novamente no poder a alta burguesia.