Hidrosfera: Bacias hidrográficas do Brasil
Território caudaloso
O Brasil concentra mais de 10% da água doce disponível na superfície do planeta. Descubra os meandros das águas que percorrem nosso país
Enquanto várias regiões do planeta são pouco privilegiadas em relação à disponibilidade de água, o Brasil não tem do que reclamar nesse quesito: nosso território concentra mais de 10% da água superficial disponível para consumo no mundo. Toda essa caudalosa riqueza está espalhada pelos milhares de rios que percorrem o país. A maioria desses rios nasce em regiões de altitude média – o Amazonas, que tem origem na cordilheira dos Andes, é uma das exceções. Uma característica importante é o predomínio de rios de planalto, o que permite bom aproveitamento hidrelétrico.
O regime dos rios brasileiros é pluvial, ou seja, são alimentados pela água da chuva (o Amazonas é exceção, pois também recebe neve derretida dos Andes). Em virtude da predominância do clima tropical no país, com bastante chuva, nossos rios são majoritariamente perenes (nunca secam). Desaguando no Oceano Atlântico ou em outros afluentes que correm para o mar, eles têm, em sua maioria, foz do tipo estuário: o canal se afunila, e as águas são lançadas livremente no oceano. Outro tipo de foz é o delta, em que aparecem ilhas na região do deságue. Há, ainda, o caso de foz mista, como a do Amazonas.
Apesar de a água ser abundante aqui no Brasil, o país não está livre do problema da falta de água. Isso porque as fontes naturais são mal distribuídas pelo território e há uma crônica má administração dos recursos hídricos.
O vasto emaranhado de afluentes nacionais está agrupado em oito grandes bacias hidrográficas. As bacias, por sua vez, reúnem-se em regiões hidrográficas para facilitar o planejamento ambiental e o uso racional dos recursos. Veja a seguir cada uma das oito grandes regiões hidrográficas do Brasil.
1. Região hidrográfica da Amazônia
Engloba a maior bacia hidrográfica do mundo, a Amazônica, com área de 3,8 milhões de quilômetros quadrados em terras brasileiras, o equivalente a cerca de 60% do total (os outros 40% distribuem-se nos territórios de Peru, Colômbia, Equador, Venezuela, Guiana e Bolívia). Seu curso principal nasce no Peru, com o nome de rio Vilcanota, e recebe depois as denominações de Ucaiali, Urubamba, Marañón e Amazonas. Quando entra no Brasil, vira Solimões, até o encontro com o rio Negro; desse ponto até a foz, volta a se chamar Amazonas. Seus principais afluentes no Brasil são os rios Madeira, Tapajós e Xingu, na margem direita, e, na margem esquerda, Negro, Trombetas e Paru. Um estudo divulgado em 2008 pelo Inpe mostrou que o rio Amazonas é o maior do mundo: o rio brasileiro tem 6.992 quilômetros de extensão, superando o rio Nilo, com 6.852 quilômetros. A confirmação desses dados, contudo, ainda depende da aceitação de instituições geográficas internacionais. A bacia Amazônica tem mais de 20 mil quilômetros de rios navegáveis. Hidrovias como a do Rio Madeira, que opera de Porto Velho a Itacoatiara, servem de escoadouro para a produção agrícola do Centro-Oeste.
2. Região hidrográfica dos rios Tocantins-Araguaia
Ocupando 921 mil quilômetros quadrados, essa área é definida pela bacia do Rio Tocantins. Ele nasce em Goiás e desemboca na foz do Rio Amazonas. Parte de seu potencial hidrelétrico é aproveitada pela usina de Tucuruí, no Pará. Já o Rio Araguaia nasce em Mato Grosso, na divisa com Goiás, unindo-se ao Rio Tocantins no extremo norte do estado do Tocantins.
3. Região hidrográfica do Rio São Francisco
Possui uma área de 638 mil quilômetros quadrados e seu principal rio é o São Francisco, com cerca de 2,7 mil quilômetros de extensão. O Velho Chico nasce em Minas Gerais e percorre os
estados da Bahia, de Pernambuco, Alagoas e Sergipe até a foz, na divisa entre esses dois últimos estados. É o maior rio totalmente localizado em território brasileiro, sendo essencial para a economia das localidades que percorre – grande parte localizada em região semiárida – , pois permite a atividade agrícola em suas margens e oferece condições para a irrigação artificial de áreas mais distantes. Essa, inclusive, é uma das questões em debate em torno do projeto de transposição das águas do São Francisco.
4. Região hidrográfica do Rio Parnaíba
Segunda principal região hídrica do Nordeste, atrás da região do São Francisco, ocupa uma área de 333 mil quilômetros quadrados, entre os estados do Ceará, Maranhão e Piauí. Ao desaguar no oceano Atlântico, fazendo a divisa do Piauí com o Maranhão, o Rio Parnaíba forma um delta oceânico. A piscicultura é a principal atividade econômica praticada no rio.
5. Região hidrográfica do Rio Paraná
Abrangendo uma das áreas com o maior desenvolvimento econômico do país, a região da bacia do Paraná tem cerca de 880 mil quilômetros quadrados. O Rio Paraná, com quase 3 mil quilômetros de extensão, nasce na junção dos rios Paranaíba e Grande, na divisa entre Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo. Essa bacia apresenta o maior aproveitamento hídrico do Brasil, abrigando hidrelétricas como a de Itaipu. Afluentes do Paraná, como o Tietê e o Paranapanema, também têm grande potencial para gerar energia. A hidrovia Tietê-Paraná é a mais antiga do país.
6. Região hidrográfica do Rio Paraguai
É constituída pela bacia brasileira do Rio Paraguai, abrigando a grande planície do Pantanal Mato-Grossense. Com sua nascente em território brasileiro, na Serra do Araporé, próximo de Cuiabá (MT), o Rio Paraguai ocupa uma região de 363 mil quilômetros quadrados no Brasil, correspondente a cerca de um terço da área total, e inclui também Argentina, Bolívia e Paraguai. Seus rios são muito usados para a navegação e para o consumo animal.
7. Região hidrográfica do Rio Uruguai
Com cerca de 274 mil quilômetros quadrados, é constituída pela parte brasileira da bacia do Uruguai, rio que surge da união dos rios Pelotas e Canoas. Tem grande importância tanto pelo potencial hidrelétrico como pela concentração de atividades agroindustriais na região.
8. Região hidrográfica do Atlântico
Trata-se de um conjunto de várias pequenas e médias bacias costeiras formadas por rios que deságuam no Atlântico, exceto os do Amapá, que fazem parte da região hidrográfica Amazônica. São cinco regiões:
- a) A Atlântico Nordeste Ocidental, de 274 mil quilômetros quadrados, abriga os rios situados entre a foz do Gurupi (divisa Pará-Maranhão) e a do Rio Parnaíba (divisa Maranhão- -Piauí).
- b) A Atlântico Nordeste Oriental, de 286 mil quilômetros quadrados, fica entre a foz do Parnaíba e a do São Francisco, na divisa entre Alagoas e Sergipe.
- c) A Atlântico Leste, com 388 mil quilômetros quadrados, vai da foz do São Francisco ao Rio Mucuri (extremo sul da Bahia).
- d) A Atlântico Sudeste, com 215 mil quilômetros quadrados, vai do Mucuri à área da divisa entre São Paulo e Paraná.
- e) Por fim, a Atlântico Sul abrange as bacias dos rios Itajaí, Capivari e aquelas ligadas ao Rio Guaíba e ao sistema lagunar do Rio Grande do Sul, somando 187 mil quilômetros quadrados de área.
Bacias hidrográficas
Uma bacia hidrográfica ou bacia de drenagem compreende as águas superficiais (lagos, rios e seus afluentes e subafluentes, além do escoamento das águas das chuvas) e também as águas subterrâneas. Em geral, as bacias hidrográficas são exorreicas, ou seja, suas águas escoam para os mares ou oceanos. As bacias endorreicas (aquelas em que as águas escoam para lagos ou pântanos) são menos frequentes, principalmente em se tratando de grandes bacias hidrográficas. Veja na imagem ao lado os seus principais elementos.