Brasil – A Era JK
A Era JK completa 60 anos
Em 1956, Juscelino Kubitschek iniciava um governo marcado por políticas de incentivo à indústria e forte endividamento.
“Cinquenta anos de progresso em cinco anos de governo.” Foi com este slogan que Juscelino Kubitschek apresentou ao eleitorado o seu Plano de Metas, principal bandeira de sua campanha para a presidência do Brasil, em 1955. Junto com o compromisso de progresso econômico do país, JK fazia outra grande promessa à população: a construção de Brasília, futura capital do país e símbolo do projeto desenvolvimentista do governo.
A indústria e obras como estradas, ferrovias, hidrelétricas e refinarias ganharam impulso no governo JK
A situação política brasileira estava bastante conturbada naquele período. Afinal, o país mal havia se recuperado do trauma provocado pelo suicídio do presidente Getúlio Vargas no ano anterior, em 1954. O vice-presidente que assumiu em seu lugar, João Café Filho, sofria forte pressão. Cercado de opositores, o novo mandatário tentava conciliar os interesses daqueles favoráveis à ditadura, dos conservadores antigetulistas e dos que queriam manter a política de Getúlio.
Diante desse cenário, a eleição presidencial de 1955 foi marcada por tensões políticas desde o início da campanha eleitoral. Com um discurso desenvolvimentista que encontrou forte apelo entre o eleitorado, JK saiu vencedor da disputa presidencial, liderando a coligação PSD-PTB, que tinha como vice o ex-ministro do trabalho de Getúlio, João Goulart – o Jango.
Assim que foram derrotados, os conservadores da União Democrática Nacional (UDN) tentaram impedir a posse dos eleitos: acusavam os novos governantes de terem apoio dos comunistas e tentavam mobilizar a população e os militares antigetulistas. A tentativa de golpe foi impedida por comandantes legalistas liderados pelo ministro da Guerra Henrique Teixeira Lott. Dessa forma, JK pôde receber a faixa presidencial em 1956 e iniciar o seu governo.
O Plano de Metas
Ao assumir a presidência, JK teve que lidar com um progressivo déficit orçamentário, uma balança comercial desfavorável e a crescente desvalorização do preço do café. Para mudar esse cenário, o presidente lançou uma série de medidas de expansão industrial. Apesar de ser chamada de “nacionalismo desenvolvimentista”, essa política era repleta de medidas de desnacionalização, com a abertura do mercado ao capital estrangeiro, atraído pela ampliação dos serviços de infraestrutura.
Para sistematizar seu projeto, o presidente tirou do papel sua principal promessa de campanha: o Plano Nacional de Desenvolvimento, conhecido como Plano de Metas. Inicialmente, o projeto continha 30 metas a serem alcançadas em cinco setores: energia, transporte, indústria de base, alimentação e educação. No entanto, apenas os três primeiros foram priorizados, recebendo 93% dos investimentos públicos e privados.
Dessa forma, o projeto ampliou a produção de máquinas e insumos, que estimularam não só o parque industrial, mas também a mecanização do campo. Obras de base, como hidrelétricas, estradas, ferrovias e refinarias de petróleo também deslancharam durante o governo JK. Da mesma forma, a produção de bens de consumo, como automóveis e eletrodomésticos, ganhou impulso com o Plano de Metas.
O crescimento industrial permitiu a JK fazer concessões salariais aos operários. O desenvolvimentismo proporcionou segurança e conforto à emergente classe média, e a facilidade de crédito ampliou a ação dos industriais. Além do cenário econômico favorável, JK foi hábil o suficiente para manobrar as diversas facções políticas e se aproximar dos militares. Graças a esses fatores, Juscelino obteve uma relativa estabilidade política, a despeito da persistente oposição da UDN.
Uma nova capital
A ideia de estabelecer a capital do Brasil no interior do país nasceu ainda no século XIX, mas só foi colocada em prática em 1957, durante o governo de JK. O propósito da nova capital era integrar melhor todo o território e facilitar o desenvolvimento do interior do país ao atrair a população para a região. Começou, assim, a construção de Brasília, vista como meta síntese do governo. O projeto urbanístico foi assinado por Lúcio Costa e os principais prédios foram projetados por Oscar Niemeyer. Pessoas de todo o país, especialmente do Nordeste, foram contratadas para a construção. Três anos depois, a cidade era inaugurada, sob o custo de cerca de 1 bilhão de dólares.
A proposta de disseminar o desenvolvimento para fora do eixo Sul-Sudeste também passava pelo crescimento da Região Nordeste. Com essa meta, foi criada a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). A ideia era ter um grande órgão de estudos que gerassem planos e que atraíssem recursos para investimentos e incentivos fiscais em empreendimentos da região.
Conta elevada
A euforia do desenvolvimento, contudo, durou pouco. Apesar de trazer benefícios para o Brasil, a política econômica de JK desestruturou a economia no médio e longo prazo. Já na segunda metade de seu governo, Juscelino começou a enfrentar sinais de crise, com greves e manifestações organizadas por estudantes e trabalhadores urbanos e rurais.
O aumento dos gastos públicos com a execução dos programas previstos no Plano de Metas e com a construção de Brasília, a concessão de aumentos salariais, o alargamento das linhas de crédito do Banco do Brasil e o empréstimo de 300 milhões de dólares do Fundo Monetário Internacional (FMI), associados à diminuição de produtos da pauta de exportações brasileiras no mercado internacional, resultaram na disparada da inflação e na expansão do endividamento do setor público.
Nas eleições presidenciais de 1960, com a impossibilidade de reeleição devido à Constituição de 1946, JK apoiou a candidatura do general Henrique Lott pelo PSD. Mas, já sem tanta popularidade, Juscelino foi incapaz de influenciar o resultado das urnas: quem saiu vencedor foi o oposicionista Jânio Quadros, candidato do PTN. Quatro anos depois, o golpe militar de 1964 enterraria de vez os planos de JK de se tornar novamente presidente do Brasil.