Gramática: Escreva bem evitando erros comuns
Reveja algumas regras para driblar erros mais comuns, como o uso da crase, alguns pronomes, adjetivos compostos, os quatro porques, onde e aonde, quando usar melhor ou mais bem, afim e a fim de, entre outros
Importante: as regras da nova ortografia entraram em vigor este ano e são adotadas na norma-padrão da língua para efeito de escrita e de correção nas provas.
USO DA CRASE
Advinda da fusão de dois “as”, uma preposição e, normalmente, um artigo, a crase causa dúvidas em estudantes, vestibulandos e, até mesmo, em profissionais formados. A crase só ocorre diante de palavras femininas. Assim sendo, uma das regras mais simples para descobrir se ela ocorre ou não em uma frase é substituir o termo seguinte ao a por um equivalente masculino – se o resultado gerar a contração ao antes da palavra substituída, há crase.
Estava ansioso para ir à prova.
Estava ansioso para ir ao vestibular.
Acabou perdendo a prova.
Acabou perdendo o vestibular.
Embora útil, a dica não dá conta de todos os casos. Muitas vezes, há dúvida no uso da crase, também, diante do nome de lugares – cidades, estados, países etc. –, principalmente quando utilizamos o verbo ir. Ir a Manaus ou à Manaus? A Alemanha ou à Alemanha? Nesses casos, o truque é trocar o verbo ir por voltar junto da preposição de – se houver artigo, há crase.
Volto de Manaus.
Vou a Manaus.
Volto da Alemanha.
Vou à Alemanha.
Locuções adverbiais, ou que usam conjunções e preposições com palavras femininas, também apresentam crase. Exemplos desses casos são: à noite, às vezes, à direita, à frente, às escondidas, à moda de, à esquerda de, à volta de, à medida que, à altura de etc.
ESTE OU ESSE
Não raro, encontramos textos que confundem os pronomes demonstrativos este e esse e suas variações (esta, isto, desse, nesse etc.). Afinal, qual é o certo?
Este deve ser utilizado para demonstrar proximidade com o enunciador, enquanto esse serve para os casos em que aquilo a que se refere está afastado do enunciador e mais próximo do receptor.
Este meu coração teme o que passa nessa sua cabeça.
A ideia de proximidade também pode ser utilizada na localização temporal. Este é utilizado para indicar o tempo em que estamos: este ano, este dia, esta hora. Ainda no que se refere ao tempo, usamos esse para o tempo passado e este para o futuro.
Prestei vestibular nessa semana.
Prestarei vestibular nesta semana.
Tal raciocínio também é utilizado para a localização dos elementos indicados no texto. Usamos esse para elementos já citados e este para os que serão anunciados.
Não perco mais meu tempo com baladas, isso faz parte do passado! Só o que desejo é isto: uma boa balada!
LEMBRE-SE: em contraposição a aquele, usamos sempre este para indicar o elemento mais próximo. Eis a maior diferença entre meu trabalho anterior e o atual: este me dá mais tempo livre, aquele me tomava até os fins de semana.
No caso acima, este se refere ao trabalho atual, mais próximo no texto, e aquele, ao trabalho anterior.
O EMPREGO CORRETO DE MELHOR
É de conhecimento geral que, quando fazemos comparações, o uso da forma sintética melhor é obrigatória no lugar de mais bem e mais bom.
Fazer uma graduação é melhor do que parar no Ensino Médio.
Fazer uma graduação é mais bom do que parar no Ensino Médio.
Um profissional formado ganha melhor que um estagiário.
Um profissional formado ganha mais bem que um estagiário.
No entanto, diante de particípio, o uso da forma sintética melhor não é correto, já que o mais não intensifica apenas o advérbio bem, mas toda a expressão formada por bem + particípio. Veja:
Com uma especialização estarei mais bem preparado para o mercado de trabalho.
Com uma especialização estarei melhor preparado para o mercado de trabalho.
POR QUE – POR QUE / POR QUÊ – PORQUÊ
Escreve-se por que separado em pergunta quando se trata da preposição por + pronome interrogativo que, na função de advérbio de interrogação. Veja um exemplo com uma substituição:
Por que motivo eu deveria pagar essa conta?
Por qual razão eu deveria pagar essa conta?
Quando usada no fim da oração, com a mesma função interrogativa, deve ter o pronome acentuado:
Eu devo pagar essa conta por quê?
Quando é empregada a conjunção explicativa ou causal porque, equivalente a pois ou já que, a grafa é de uma palavra só:
Porque foi você quem fez o pedido…
Pois foi você quem fez o pedido…
Já que foi você quem fez o pedido…
Finalmente, grafamos porquê, em uma palavra com acento, quando se trata de um substantivo, com sentido de um motivo ou uma razão. Veja exemplos de certo e errado e analise:
Não soubemos porque a estação de trem USP Leste desistiu da certificação ambiental.
Não soubemos por que a estação de trem USP Leste desistiu da certificação ambiental.
A estação de trem USP Leste desistiu da certificação, mas não se sabe o porquê disso.
Não houve a certificação ambiental da estação de trem USP Leste por que?
Não houve a certificação ambiental da estação de trem USP Leste por quê?
A certificação da estação seria importante porque serviria de parâmetro para outras instituições.
ONDE E AONDE
Na norma padrão da língua, o advérbio onde, indicador de lugar, deverá ser acompanhado da preposição a se houver a presença de um verbo que a exija. Na gramática normativa o verbo ir “rege” o emprego da preposição a: Quem vai, vai a algum lugar. Logo: Aonde você vai? Analise outros exemplos:
Aonde você quer chegar?
Onde você quer ir?
O bairro onde moro não recebeu investimentos públicos.
A cidade aonde ocorreram as inundações pediu ajuda.
Outra dica importante: onde, de acordo com a gramática normativa, deve ser empregado somente quando remete a lugares, espaços. É incorreto ser usado em substituição a outro elemento gramatical:
A situação econômica onde estamos tem resultados frágeis (em lugar de na qual).
Vou treinar a dissertação onde sempre cai nas provas (em lugar de que).
Essa foi a redação onde demorei a encontrar a argumentação (em lugar de na qual).
PLURAL DOS ADJETIVOS COMPOSTOS
Os adjetivos compostos vêm, salvo exceções, separados por hífen, e apenas o último elemento sofre modificação para concordar com o substantivo.
Jogadores franco-argentinos.
Reuniões político-partidárias.
Políticas econômico-sociais.
Medidas social-humanitárias.
Exceção: Surdo-mudo flexiona em número e gênero (surdos-mudos, surdas-mudas).
O caso é diferente quando um dos elementos do adjetivo composto é um substantivo. Nesse caso, usa-se o hífen, mas nenhum dos dois elementos varia.
Bandeiras vermelho-cereja.
Uniformes verde-abacate.
Mísseis terra-ar.
Não se confunda quando o elemento composto que você sempre vê como adjetivo muda de função e é usado como substantivo. Exemplo: Os verdes-abacate e os vermelhos-cereja da moda deste ano não são bonitos. Também são aceitos verdes-abacates e vermelhos-cerejas.
AFIM E A FIM DE
A palavra afim veio do latim e indica afinidade, afinado com, mas pode ser tanto um substantivo quanto um adjetivo com pequenas variações de sentido.
Afim substantivo equivale a parentesco, afinidade, amizade, proximidade.
Exs.:
O Itamaraty convidou todos os embaixadores, os diplomatas e afins.
Ela fazia doces para festas de casamento, de aniversário e afins (aqui afins é o terceiro substantivo, indica outras festas).
Afim adjetivo também pode indicar afinidade, proximidade e outros significados quando acompanha um substantivo.
Exs.:
Futebol e futsal são esportes afins (parecidos, irmãos).
Ela fazia doces para festas de casamento, de aniversário e de festas afins (aqui afins adjetiva festas como parecidas).
Economizar é uma preocupação afim às diferentes áreas da empresa (comum).
A fim de (locução)
Equivale a estar com vontade de, precisar de, querer algo, e escreve-se sempre separado.
Exs.:
“A fim de voltar” (título de canção de Tim Maia).
Eles estão a fim um do outro.
Ela estava a fim de viajar.
ACERTE OS PONTOS NA DISSERTAÇÃO
Não adianta apenas saber para que servem os sinais de pontuação, deve-se saber quando utilizá-los. Em determinados tipos de texto, algumas pontuações podem não ser adequadas.
Enquanto em uma narrativa é comum o emprego de interrogações, exclamações e reticências, em uma dissertação esse uso não é recomendado. É até possível que o candidato insira uma pergunta nesse tipo de texto, desde que ela seja respondida na própria redação, mas frases exclamativas e ideias em aberto estão fora de questão.
Também se deve evitar o uso de aspas e parênteses em um texto dissertativo – no caso de textos intercalados, por exemplo, pode-se utilizar vírgulas ou travessão. As aspas devem ser empregadas exclusivamente em casos de citações, desde que pertinentes, e em palavras estrangeiras imprescindíveis ao contexto. Gírias e neologismos também não devem ser usados nos textos vestibulares.
Enfim, a pontuação deve ser utilizada com critério, para que possa auxiliar a compreensão do leitor. Não há lugar para deslizes, brincadeiras nem invencionices nesse aspecto.
USO DE PRONOMES RELATIVOS
Entre os elementos gramaticais mais negligenciados em redações escolares e de vestibulares estão os pronomes relativos. A função dos pronomes relativos é substituir um termo da oração anterior e estabelecer relações entre duas orações dentro de um mesmo período. Veja:
Prefiro fazer dissertações. Eu já conheço a estrutura das dissertações.
Prefiro fazer dissertações, cuja estrutura eu já conheço.
O desvio no uso dos pronomes relativos compromete a coesão textual e prejudica, até mesmo, a coerência dos textos. Um dos pronomes relativos usados equivocadamente na construção dos textos é cujo.
Esta é a prova cuja farei.
Esta é a prova que farei
A redação é a parte da prova cujo tenho mais medo.
A redação é a parte da prova de que tenho mais medo.
O pronome relativo cujo, e suas flexões, tem valor possessivo, ou seja, só pode ser utilizado quando a segunda oração apresentar elementos possuídos pelo termo retomado.
Não confio em instituições cujos cursos não são aprovados pelo MEC.
No exemplo acima, os cursos pertencem às instituições, por isso o uso de cujos está correto. Vale ressaltar que, embora o cujo e suas flexões retomem o termo anterior, eles não concordam com esse termo, mas com os elementos possuídos. Veja:
Procuro um curso cuja licenciatura seja integrada ao bacharelado. (cuja, no feminino, retoma curso e concorda com licenciatura)
Quero uma instituição cujos alunos saiam preparados para o mercado de trabalho. (cujos, no masculino plural, retoma instituição e concorda com alunos)
COLOCAÇÃO PRONOMINAL, PRÓCLISE, ÊNCLISE E MESÓCLISE
A colocação pronominal incorreta é uma das falhas mais recorrentes nas redações. O motivo é simples: no uso oral da língua, costumamos negligenciar a norma-padrão no uso dos pronomes oblíquos átonos – é comum aos falantes da língua portuguesa nascidos no Brasil colocar o pronome antes do verbo, ou seja, privilegiar a próclise quando fala, por exemplo.
Recordando, a colocação pronominal é a posição que os pronomes pessoais oblíquos átonos (me, te, se, o, os, a, as, lhe, lhes, nos e vos) ocupam na frase em relação ao verbo a que se referem.
Os pronomes oblíquos átonos podem assumir três posições na oração em relação ao verbo:
1. Próclise: o pronome vem antes do verbo;
2. Ênclise: o pronome vem depois do verbo;
3. Mesóclise: o pronome vem no meio do verbo.
PRÓCLISE: A próclise é aplicada antes do verbo quando temos:
PALAVRAS COM SENTIDO NEGATIVO:
Não me inscrevi para o vestibular.
Ninguém me auxiliou na escolha da carreira.
ADVÉRBIOS:
Aqui se testam os candidatos.
Naquela sala se fazem as inscrições.
PRONOMES RELATIVOS:
O professor que te auxiliou era competente.
Percebi o que te atrapalhava.
PRONOMES INDEFINIDOS:
Quem nos auxiliou?
Todos nos auxiliaram.
PRONOMES DEMONSTRATIVOS:
Isso lhe atrapalhou.
Aquilo lhe pareceu certo.
PREPOSIÇÃO SEGUIDA DE GERÚNDIO:
Em se tratando do vestibular, estou confiante.
Salvo ficar se lamentando, ele não faz mais nada.
CONJUNÇÃO SUBORDINATIVA:
Fizemos a redação, conforme nos indicaram.
Preenchemos a ficha, como nos pediram.
ÊNCLISE: A ênclise é empregada depois do verbo quando temos:
O VERBO NO IMPERATIVO AFIRMATIVO:
Matricule-se já.
Inscreva-se ali.
O VERBO INICIANDO A ORAÇÃO:
Inspirei-me no professor.
Matriculei-me hoje.
O VERBO NO INFINITIVO:
Procure acalmar-se.
Será preciso empenhar-se.
O VERBO NO GERÚNDIO:
Dedicando-me, irei passar.
Permaneci esforçando-me.
VÍRGULA OU PAUSA ANTES DO VERBO:
Acabando a prova, entreguei-me ao cansaço.
Quando passei, senti-me realizado.
MESÓCLISE: A mesóclise acontece quando o verbo for flexionado no futuro do presente ou no futuro do pretérito:
A prova realizar-se-á nas dependências da faculdade.
Ajudar-te-ei a estudar.