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Literatura: Classicismo

Literatura: Classicismo
Classicismo (1527 – 1580) – A valorização da cultura greco-latina traz uma nova fase de culto ao racionalismo. O grande nome do período é Camões, autor de poemas líricos e épicos. Na imagem da esquerda há um retrato do escritor, feito por Fernão Gomes. À direita há uma reprodução da capa de “Os Lusíadas”, de 1572. ()

O Classicismo (1527-1580), estética literária do Renascimento, resgata os ideais de beleza da Antiguidade Clássica e valoriza a razão

O Classicismo é a estética literária do Renascimento. Nos textos, estão presentes os mesmos ideais que regiam as demais composições artísticas: o respeito à proporção, a busca de perfeição formal, a retomada da cultura da Antiguidade clássica, a imitação de modelos de composição greco-latinos (conforme os padrões de representação mimética – imitativa e recriadora – da realidade), o desejo de objetividade e a valorização do ser humano.

Em Portugal, a atmosfera científica e racional que impulsionava as grandes navegações se une aos novos ares do Renascimento: quando o poeta Sá de Miranda retorna da Itália, em 1526, traz para a literatura portuguesa as novidades desenvolvidas por Petrarca (como o soneto italiano e o verso decassílabo, de dez sílabas poéticas).

Camões lírico

Luís Vaz de Camões (1525?-1580) é o principal nome do Classicismo português. Sua mais importante obra é o poema épico Os Lusíadas, mas também é extensa sua produção lírica (gênero em que o poeta expõe suas emoções).

Seus poemas revelam o uso das novas formas poéticas – os sonetos (poemas de forma fixa, divididos em duas estrofes de quatro versos e duas estrofes de três versos) compostos na medida nova (com versos decassílabos, de dez sílabas poéticas).

Os temas mais frequentes da lírica camoniana são o sofrimento amoroso e o desconcerto do mundo.

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Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor[1] que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;[2]
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?[3]

Sonetos de Camões, Ateliê Editorial


UNIVERSALIDADE O soneto apresenta as contradições características do sentimento amoroso. Nota-se uma série de afirmações que procuram abarcar os diferentes aspectos da experiência amorosa. O poeta, no período renascentista, transforma-se em um homem capaz de representar os homens de seu entorno e de seu tempo, por meio da abordagem de temas universais.


[1] ANÁFORA: O poeta recorre à anáfora (repetição de uma ou mais palavras no princípio de duas ou mais frases) para estruturar o poema: amor aparece só no primeiro verso, mas ressurge nas repetições do verbo ser. O recurso mostra a impossibilidade de definir o amor sob um único ponto de vista.

[2] PARADOXO: O poema se constrói em torno de elementos opostos presentes na caracterização de uma mesma realidade. Assim, o conflito entre os contrários não é resolvido, e o sentimento amoroso é marcado por uma tensão existencial.

[3] EQUILÍBRIO: Um elemento de equilíbrio está presente: trata-se da estrutura simétrica e regular do poema. A frase interrogativa final procura integrar as oposições não resolvidas. O efeito criado pela aparente falta de lógica nas definições (paradoxo) resulta em harmonia, já que o próprio sofrimento amoroso é complexo e surpreendente.

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A tela Amor Sagrado e Amor Profano, de Ticiano, representa as duas concepções de amor que se opunham no período renascentista: à esquerda há o amor sagrado, representado com pureza, recato e comedimento; e à direita há o amor profano, marcado pela paixão, sensualidade e luxúria. Eros, o deus do amor, brinca na fonte junto às duas imagens complementares. A caracterização dessa duplicidade está ligada a uma visão de mundo que privilegia a universalidade. Em todas as épocas e lugares, a ambiguidade entre amor sensual e amor espiritualizado estaria presente e seria reconhecida pelos diferentes públicos.

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Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria.[1]

É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade.
O amor é bom, não quer o mal,
Não sente inveja ou se envaidece.

O amor é o fogo que arde sem se ver[2]
(…)

Estou acordado e todos dormem.
Todos dormem. Todos dormem.
Agora vejo em parte,
Mas então veremos face a face.

É só o amor, é só o amor
(…)

[1] RETOMADA: A intertextualidade também está presente na retomada de um texto bíblico do apóstolo Paulo acerca do amor.

[2] INTERTEXTUALIDADE: A canção estabelece um diálogo intencional com o soneto camoniano com o objetivo de mostrar que as contradições do amor estão presentes em qualquer época e lugar. Constata-se a ideia de universalidade: Camões não tomou o sentimento amoroso para si, mas para toda a humanidade.

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A RETOMADA DOS VALORES CLÁSSICOS

O Parnasianismo, movimento literário que ocorre na virada do século XIX para o XX, retoma mais uma vez os valores poéticos clássicos e defende uma concepção artística preocupada, sobretudo, com a forma dos textos. Olavo Bilac (1865-1918), o maior nome do movimento no Brasil, compôs o poema abaixo, que revela a busca do artista pela perfeição formal.

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(…)

Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto-relevo
Faz de uma for.[1]

Imito-o. E, pois, nem de Carrara
A pedra frio: O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.[2]

Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.[3]

Antologia Poética, L&PM Editores


METALINGUAGEM Assim como vimos em Literatura Medieval,  aqui novamente ocorre um exemplo da metalinguagem. O poema trata do fazer poético e descreve o processo de composição dos poemas.


[1] OFÍCIO DE POETA: Do mesmo modo com que o ourives trabalha com o ouro, de maneira a criar joias perfeitas, também o poeta opera com a palavra à procura da forma ideal. A inveja que o eu lírico sente  dos artistas que esculpem as pedras o conduz a uma reflexão sobre a escrita poética.

[2] IMITAÇÃO: Tem início um processo de imitação: os artistas clássicos, que não se preocupavam com a originalidade, procuravam seguir os grandes modelos de composição. Também a pena do poeta buscará, de modo meticuloso, as palavras raras e as construções sofisticadas para construir os versos.

[3] PERFEIÇÃO FORMAL: A preocupação excessiva com a forma, em detrimento do conteúdo, faz lembrar a reportagem sobre os jovens que exageram na musculação em busca de um corpo perfeito.

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Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.[1]

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve[2], as saudades.[3]

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.[4]

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.

Sonetos de Camões, Ateliê Editorial


DESCONCERTO DO MUNDO Uma das temáticas da lírica camoniana são as mudanças que ocorrem no mundo. As constantes modificações acontecem em um ritmo impossível de ser acompanhado e conduzem ao sofrimento.


[1] CONTRADIÇÕES: Neste soneto, o poeta constata que o mundo é repleto de contradições. Espantado, percebe que os desejos e temperamentos oscilam com o passar do tempo. Conforme o pensamento do filósofo grego Heráclito, retoma a visão antiga de que nada permanece igual no decorrer da existência.

[2] PRONOMES: Os pronomes indefinidos “algum” e “outra” acentuam os sentimentos de incerteza e distanciamento diante das mudanças do mundo. Já no trecho do Episódios de Inês de Castro, o uso dos pronomes possessivos “sua” e “tua” revela intimidade e proximidade.

[3] ANTÍTESE: Note a figura de linguagem que contrapõe ideias contrárias – formada pelo par de opostos mal e bem. Ela é empregada para reforçar a visão de mundo contraditória do poeta.

[4] MUDANÇAS: Assim como as estações do ano se sucedem (e a neve se converte em verdor), a vida humana também passa por metamorfoses (o canto alegre é convertido em triste choro).

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Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.[1]

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.[2]

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim co’a alma minha se conforma,[3]

Está no pensamento como ideia;
E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.

Sonetos de Camões, Ateliê Editorial

[1] AMOR PLATÔNICO: O eu lírico constrói o soneto partindo de uma tese inicial, de origem platônica: quando aquele que ama se identifica totalmente com o ser amado, alcança a completude. A identidade do sujeito poético vai sendo transformada pela observação idealizada da mulher, considerada perfeita e sublime.

[2] IDEALIZAÇÃO: Uma visão espiritualizada do amor é superior aos desejos físicos e carnais. Por meio do amor puro e idealizado, o sujeito é capaz de alcançar a plenitude do mundo das ideias.

[3] PERFEIÇÃO: Note o caráter divino e puro da mulher, com uma perfeição característica do mundo elevado das ideias. O poema reflete a teoria do neoplatonismo amoroso e retrata o processo de purificação da alma por meio do amor.

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A REINVENÇÃO DO SONETO

O poeta brasileiro Vinicius de Moraes (1913-1980), no século XX, recuperou a forma clássica do soneto italiano (com duas estrofes de quatro versos e duas estrofes de três versos) para tratar do sentimento amoroso.

Após a revolução estética promovida pelo Modernismo, a partir de 1922, a retomada de uma forma poética tradicional não contradiz as tentativas de renovação. Abolidas as regras que obrigavam o poeta a compor conforme modelos preestabelecidos, é possível o uso das convenções apenas no momento em que elas são de fato pertinentes.

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De tudo ao meu[2] amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu[2] pensamento[1]

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu[2] canto
E rir meu[2] riso e derramar meu[2] pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.[3]

Antologia Poética. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1960. p. 96.


UNIVERSALIDADE Além da forma (soneto), a presença de Camões na obra de Vinicius também se dá pela temática: a universalização do sentimento amoroso. Mas, ao contrário de Camões, o amor em Vinicius é concreto e efêmero (não mais eterno e espiritualizado)


[1] EFEMERIDADE: Considerando a rápida passagem do tempo e a fugacidade dos momentos felizes, o poeta deseja desfrutar intensamente os prazeres amorosos.

[2] PRONOMES: A subjetividade é reforçada pelo emprego de pronomes pertencentes à primeira pessoa do singular. O poeta utiliza o pronome possessivo meu ao lado de substantivos relacionados ao universo de sua intimidade.

[3] BREVIDADE: Nota-se nos versos de Vinicius a questão da brevidade da vida, tema frequente nos textos do Renascimento.

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Eu gosto tanto de você
Que até prefiro esconder
Deixo assim ficar
Subentendido

Como uma ideia que existe na cabeça
E não tem a menor obrigação de acontecer[1]

(…)


ABSTRAÇÃO Repare no caráter ideal do sentimento amoroso, que se conserva como uma experiência abstrata e não precisa se realizar concretamente.


[1] AMOR PLATÔNICO: O tema do amor idealizado e não correspondido, presente no poema Transforma- Se o Amador na Cousa Amada, permanece vivo nas canções populares atuais. Aqui o eu lírico (aquele que expressa os sentimentos do autor) prefere ocultar o intenso amor que sente.

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Literatura: Classicismo

O anúncio acima, além de mostrar alguns estereótipos relacionados aos universos masculino e feminino, lembra outro a fim de convencer o público a adotar um cachorro: o de que esse animal é o melhor amigo do homem.

A preocupação masculina com o futebol é ressaltada: durante a partida, o cachorro distrai a mulher; o interesse feminino por histórias românticas também é destacado: o cachorro distrai o homem durante a novela.

E a função apelativa da linguagem aparece por meio do uso de um verbo no imperativo: “descubra por que um cão é a melhor companhia para um casal”.

Camões épico

Luís de Camões compôs a epopeia Os Lusíadas, publicada em 1572. Esse poema épico segue os modelos literários da Antiguidade clássica (como a Ilíada e a Odisseia, epopeias gregas atribuídas a Homero, e Eneida, epopeia latina de Virgílio).

A obra, dividida em dez cantos, narra os principais acontecimentos da história de Portugal e os grandes feitos lusitanos, com base no relato da viagem de Vasco da Gama às Índias.

Ao mesmo tempo que exalta os descobrimentos marítimos, Camões faz uma crítica pessimista à ambição descontrolada dos conquistadores portugueses.

O autor funde elementos épicos e líricos e sintetiza as principais marcas do Renascimento português: o humanismo, o racionalismo e as expedições ultramarinas.

O QUE ISSO TEM A VER COM A HISTÓRIA

Entre os séculos XV e XVI, países europeus, como Portugal, empreendem grandes navegações em busca de riquezas além-mar. A expansão marítima resulta em importante revolução comercial, no enriquecimento das burguesias nacionais e na formação de vastos impérios coloniais. Para saber mais, veja as aulas de História.

Universalidade

Em Os Lusíadas, a tendência à universalidade está ligada à valorização das potencialidades humanas, a qual é concretizada, no caso dos portugueses, pelo grande projeto das navegações. O desbravamento de novas terras e o poderio do império lusitano refletem a grandeza racional e empreendedora do ser humano.

Perfeição formal

O poema também representa a busca estética pela configuração da obra perfeita. A preocupação com a forma é uma característica dos movimentos artísticos de inspiração clássica. Nesse sentido, Os Lusíadas estabelece diálogo com o poema de Olavo Bilac, Profissão de Fé, que exemplifica a obsessão clássica pela exploração das capacidades humanas que podem conduzir à perfeição da obra de arte.

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CANTO III – Episódios de Inês de Castro[1]

(…)
Tu só, tu[2], puro amor, com força crua
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano[3].

Estavas, linda Inês, posta em sossego,
(…)

CANTO IV – Episódio O Velho do Restelo[4]

Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C’uma aura popular, que honra se chama!
(…)

CANTO X[5]

Não mais, Musa, não mais, que a lira tenho
destemperada e a voz enrouquecida,
e não do canto, mas de ver que venho
cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
não no dá a pátria, não, que está metida
no gosto da cobiça e na rudeza
duma austera, apagada e vil tristeza.
(…)

Editora Ática

[1] AMOR PROIBIDO: Um dos episódios mais famosos da história de Portugal, retratado por Camões em Os Lusíadas, é a história de Inês de Castro, amante do príncipe dom Pedro, assassinada por causa do amor proibido e coroada rainha depois de morta.

[2] PRONOME PESSOAL: O episódio de Inês de Castro é repleto de lirismo e possibilita reflexões sobre o sentimento amoroso, ao qual se dirige o sujeito poético. Note o emprego do pronome pessoal tu para invocar o Amor, abordagem que indica proximidade e informalidade em relação a um sentimento familiar aos seres humanos.

[3] CARACTERIZAÇÃO DO AMOR: Ao mesmo tempo que é marcado pela pureza, o amor, com força cruel, submete os corações. A intensidade do sentimento é incontrolável: feroz, áspero e tirano. E muitas vezes conduz a desfechos tristes e sangrentos.

[4] OLHAR CRÍTICO: Portugal aproximava-se do ápice de uma crise cultural e econômica, profetizada pelo Velho do Restelo, que denuncia a ambição desmedida dos conquistadores portugueses. A crítica à nação lusitana está presente em toda a literatura portuguesa – José Saramago, no século XX, em obras como A Jangada de Pedra, dá continuidade à tradição de questionamento da realidade do país. Os versos camonianos refletem, ainda, a visão de que o mundo está sempre em transformação – assim, a vaidade dos lusitanos poderia se converter em crise e fracasso.

[5] PESSIMISMO: A epopeia camoniana não apenas exalta os grandes feitos dos conquistadores portugueses: o sujeito poético expressa à Musa que fará menção a aspectos negativos dos empreendimentos marítimos portugueses. Em tom pessimista, o poema alerta que o sonho de grandeza de Portugal corre o risco de ser prejudicado pela cobiça e pela ambição.

Literatura: Classicismo

Neste artigo, o cientista político e escritor português João Pereira Coutinho escreve sobre o inesperado bom desempenho do pré-candidato republicano Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Ele faz referência à personagem Inês de Castro, de Os Lusíadas. Para reforçar seu texto irônico, o autor lança mão de um dito popular português que ganhou fama por sugerir que não adianta reclamar depois dos fatos consumados: “ Agora, Inês é morta”. O provérbio faz alusão à lenda de que depois de morta, Inês de Castro foi coroada rainha por dom Pedro. Encontramos no Brasil provérbio semelhante: “Não adianta chorar o leite derramado”.

Para ir além: O cartunista Fido Nesti imprimou cores fortes e traços marcantes na sua adaptação de Os Lusíadas para HQ, da Editora Peirópolis. Nela, Camões, que também é um personagem, conduz a narrativa. São retratados quatro episódios da grandiosa epopeia: Inês de Castro, Gigante Adamastor, O Velho do Restelo e a Ilha dos Amores. É possível ver as primeiras páginas da publicação no site da editora (use a busca para localizar): www.editorapeiropolis.com.br.

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DESENCANTO E OLHAR NACIONALISTA

Em Viagens na Minha Terra (1846), do autor português Almeida Garrett, uma viagem de Lisboa a Santarém, em 1823, é permeada por digressões, além de contar a história sentimental de Carlos e Joaninha.

A obra trava um diálogo convergente e divergente com o poema épico de Camões, Os Lusíadas. O ufanismo de Camões se opõe ao desencanto de Garrett, mas apresenta total sintonia com a profética fala pessimista de O Velho do Restelo. Ambas as obras, cada uma a seu modo, apresentam um olhar nacionalista.

O autor, com seu humor ácido, também inspira Machado de Assis na criação de Memórias Póstumas de Brás Cubas. O processo de construção metalinguístico de Garrett é uma referência fundamental na prosa machadiana.

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(…)
Desde que entendo, que leio, que admiro Os Lusíadas,
enterneço-me, choro, ensoberbeço-me com
a maior obra de engenho que apareceu no mundo,
desde a Divina Comédia até ao Fausto.

(…)
Mas essas crenças são para os que se fizeram
grandes com elas. A um pobre homem o que lhe
fica para crer? Eu, apesar dos críticos ainda creio
no nosso Camões; sempre cri.
E contudo, desde a idade da inocência em que
tanto me divertiam aquelas batalhas, aquelas
aventuras, aquelas histórias de amores, aquelas
cenas todas, tão naturais, tão bem pintadas – até
esta fatal idade da experiência, idade prosaica
em que as mais belas criações do espírito parecem
macaquices diante das realidades do mundo[1],
e os nobres movimentos do coração quimeras de
entusiastas, até esta idade de saudades do passado
e esperanças no futuro, mas sem gozos no
presente, em que o amor da pátria (também isto
será fantasmagoria?) e o sentimento íntimo do
belo me dão na leitura dos Lusíadas outro deleite
diverso, mas não inferior ao que noutro tempo me
deram – eu senti sempre aquele grande defeito do
nosso grande poema; e nunca pude, por mais que
buscasse, achar-lhe, justificação não digo – nem
sequer desculpa.

Porto: Anagrama, 1984.

[1] GLÓRIA VERSUS DESILUSÃO: Enquanto em Os Lusíadas são contadas as glórias de Portugal, em Viagens na Minha Terra não há armas, barões nem musas, e Garrett mostra a desilusão diante de um país que não é fiel às tradições, ao espiritual, porque sucumbiu ao materialismo e à ambição (representada pela personagem Carlos).

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O Classicismo (1527-1580), estética literária do Renascimento, resgata os ideais de beleza da Antiguidade Clássica e valoriza a razão O Classicismo é a estética literária do Renascimento. Nos textos, estão presentes os mesmos ideais que regiam as demais composições artísticas: o respeito à proporção, a busca de perfeição formal, a retomada da cultura da Antiguidade […]

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