Ecologia: Relações harmônicas e desarmônicas
Condôminos, vizinhos e intrusos
Nem tudo na natureza é paz e harmonia. Nos ecossistemas ocorrem as mais diversas relações entre os seres vivos. Algumas dessas relações trazem benefícios mútuos – ou beneficia um dos envolvidos sem prejudicar o outro. Essas são as relações harmônicas. Mas, em outras, um dos envolvidos, pelo menos, sai prejudicado – são as relações desarmônicas.
Relações harmônicas
Colônias são formadas por indivíduos da mesma espécie que se mantêm fisicamente unidos. Indivíduos de uma colônia podem exercer funções iguais ou distintas. Algas, protozoários e corais formam.
Colônias homotípicas, isto é, sem divisão de trabalho. Já na colônia de cnidários conhecida como caravela-portuguesa (Physalia physalis), há quatro tipos de indivíduo com diversos papéis: os que constituem os tentáculos matam e agarram animais, os dos pólipos digerem as presas. Há, ainda, os que inflam a vela e os que se destinam à reprodução.
Sociedades também são reuniões de indivíduos de uma mesma espécie, em que todos se beneficiam da relação. Mas nas sociedades esses indivíduos são fisicamente independentes. As sardinhas se defendem melhor do ataque de barracudas e de outros predadores se nadarem em cardume. Formigas e abelhas constituem sociedades em que a divisão de trabalho é bem definida.
Seres de espécies distintas também colaboram uns com os outros. Chama-se mutualismo ou simbiose a relação em que duas espécies estão tão ligadas uma à outra que têm uma profunda interdependência. Por exemplo, o cupim não é capaz de digerir celulose. Mas alguns protozoários em seu intestino são. A relação beneficia os dois lados: o protozoário encontra alimento em abundância no intestino do inseto e libera parte deles para seu hospedeiro. Isso também acontece no intestino dos bovinos e de outros herbívoros, em que bactérias quebram a celulose ingerida no pasto. Outro exemplo clássico é o líquen: um fungo permite a uma alga viver em terra firme, e ela compensa isso produzindo alimentos por fotossíntese. Nenhuma dessas espécies é capaz de viver sem a espécie parceira.
Existe uma versão menos extrema de associação, em que as espécies não dependem umas das outras para sobreviver, mas ganham benefícios mútuos da relação. É a cooperação. Certos mamíferos, como búfalos e elefantes, permitem que pássaros se alimentem de parasitas em sua pele. Crocodilos-do-nilo deixam a boca aberta para que pássaros-palitos retirem parasitas de seus dentes. Há, ainda, seres vivos que se beneficiam de outros, comendo os restos de seus alimentos, sem lhes fazer mal nem bem – é a relação de comensalismo. É o caso do peixe- -rêmora, que se prende ao tubarão por ventosas e se nutre dos restos que o grande peixe vai deixando pelo caminho.
Animais também podem recorrer a outros organismos para abrigo. Muitos peixes encontram proteção em corais. O peixe-agulha pode se esconder dentro de um pepino-do-mar quando ameaçado. Seres como esses estabelecem uma relação de inquilinismo. Entre os vegetais, o inquilinismo recebe o nome de epifitismo. É o caso das bromélias e orquídeas, que se prendem ao tronco de árvores maiores para receber mais luz, mas não se alimentam à custa de suas hospedeiras.
Relações desarmônicas
A relação desarmônica mais comum é a competição. Acontece quando animais ou vegetais da mesma espécie, ou de outras espécies distintas, disputam os mesmos recursos. Entre indivíduos da mesma espécie, é chamada competição intraespecífca. É o caso de animais territoriais, que expulsam competidores da mesma espécie da área em que se alimentam ou se reproduzem. Entre espécies diferentes, ocorre a competição interespecífca. Duas espécies concorrentes não conseguem ocupar o mesmo nicho ecológico por muito tempo. Uma acaba se mostrando mais eficiente e extinguindo a espécie concorrente. Essa competição é observada mais comumente entre animais de mesmo nicho ecológico. É o caso de macacos e pássaros, que têm modos de vida muito distintos, mas disputam as mesmas frutas num bosque.
A figueira Ficus clusiifolia, comum no Brasil, é uma planta que mata seus concorrentes. Ela cresce enrolando-se sobre o tronco de outra árvore para alcançar mais luz do sol no topo da floresta. Quando se torna grande, acaba por esmagar a adversária com seu tronco. O resultado é que sobra apenas a figueira, uma árvore de até 30 metros de altura, com um interior oco. Não é à toa que um dos nomes populares dessa figueira é mata-pau.
A segunda relação desarmônica mais comum é o predatismo, a caça ativa de outro animal para consumo. Predadores podem ser carnívoros, que se alimentam exclusivamente de animais, ou onívoros, que também comem plantas. A maioria dos onívoros, como os macacos, são predadores ocasionais e oportunistas, mas raposas e ursos são onívoros que também são predadores agressivos e eficientes. Plantas carnívoras, como a Dyonaea, a drosera e a nepentes, são exemplos raros de vegetais predadores. Chama-se canibalismo quando uma espécie é predadora de indivíduos da mesma espécie. Essa relação não é rara entre jacarés e peixes de diversas espécies.
O parasitismo ocorre quando animal e planta se alimentam de outro, causando prejuízos, sem matá-lo, ao menos imediatamente. Além dos exemplos óbvios de animais causadores de doenças, como os vermes intestinais nos humanos, há casos como o cuco, pássaro que põe seus ovos em ninho de outras aves. Assim que sai do ovo, o filhote do cuco atira os ovos concorrentes para fora do ninho e, assim, engana a mãe pássaro, que passa a alimentá-lo como se fosse rebento seu. Uma planta parasita é o cipó-chumbo, cujas raízes sugam a seiva elaborada de outras plantas.
Chama-se amensalismo a relação em que um organismo produz substâncias que matam ou inibem o desenvolvimento de outro. É o caso dos antibióticos, como a penicilina, produzidos por fungos e com ação bactericida. As folhas de eucalipto e de pinheiro que caem no solo liberam uma substância que diminui a incidência de germinação de sementes no local.
Herbívoros podem ter relações harmônicas ou desarmônicas com vegetais. Muitos frutos de angiospermas apresentam adaptações que os tornam apetitosos para alguns animais. Depois, as sementes serão espalhadas nos excrementos do herbívoro. Mas também há herbívoros que consomem raízes, troncos ou plantas inteiras, destruindo os vegetais, numa relação mais parecida com predatismo. As plantas desenvolvem muitas adaptações, como veneno e espinhos, para evitar esses herbívoros nocivos.
De pedaço em pedaço…
…o tubarão enche o estômago. O tubarão-charuto (Isistius brasiliensis), que vive na costa brasileira, faz um tipo de parasitismo muito especial. Ataca animais muito maiores, como atuns e marlins-azuis. Dá uma grande mordida e foge, rápido. A ferida não é grande o suficiente para matar a vítima, mas o petisco arrancado pela bocada é de bom tamanho para aplacar a fome do tubarão.