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Centenário da Semana de 22 terá programação especial

Marco da cultura paulistana e brasileira terá programação online e presencial de celebração

Por Redação do Guia do Estudante
Atualizado em 20 jul 2021, 14h21 - Publicado em 17 jul 2021, 00h01

A Semana de Arte Moderna vai completar 100 anos em 2022. O evento mudou o cenário cultural do Brasil e ajudou a tornar a capital paulista uma cidade com grande influencia no país no campo da cultura. Essa influência nasce também junto de sua ascensão econômica ao longo do século 20, a decadência da economia carioca e a unificação do país a partir de 1930, o que diminuiu o espaço de alcance da produção cultural regional. 

Para celebrar a data, o governo de São Paulo disponibilizou desde já uma super programação online e presencial. Do início ao fim do ano que vem, haverá uma série de exposições, mostras audiovisuais, temporadas de teatro e de dança sobre o período por toda a cidade. A programação inclui uma mostra do Acervo Modernista da Pinacoteca de São Paulo e passeios pelas casas-museu de personagens importantes do período. Um dos destaques é a Casa Mário de Andrade, aberta ao público em 2018. Haverá ainda cursos e uma série de obras inéditas, em diferentes linguagens, a partir dos marcos do período. 

Conheça um pouco mais dessa história – seu contexto e seu lugar na cultura paulista e brasileira. 

 São Paulo em 1922 

Teatro Municipal de São Paulo, inaugurado em 1911
Teatro Municipal de São Paulo, inaugurado em 1911. (Wikimedia Commons/Divulgação)

Hoje a maior capital da América do Sul, São Paulo começou a urbanizar-se, de fato, apenas no início do século 20. À época, o Rio de Janeiro, capital da República, era a cidade mais influente do país, do ponto de vista cultural. 

O processo de urbanização de São Paulo trouxe à cidade diversos membros das oligarquias paulistas, enriquecidas com o café, que se instalaram em casarões na Avenida Paulista, que reproduziam a estrutura da “casa grande e senzala” da vida rural. Essa arquitetura pode ser observada na Casa das Rosas, importante centro cultural da cidade e um dos dois últimos casarões a sobreviver ao processo de urbanização da capital. 

A cidade crescia vertiginosamente com a instalação de indústrias, obras públicas, vinda de imigrantes da Europa e da Ásia e o surgimento de novas classes sociais “que balançavam o barco das antigas certezas”, como afirma o jornalista Roberto Pompeu de Toledo no livro “A capital da vertigem: uma história de São Paulo de 1900 a 1954”. 

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O ano de 1922 foi um marco na vida da capital, mas isso não significa que a cidade já não tivesse uma elite interessada em cultura – e sua própria produção cultural. Um dos endereços desse “petit comitê” era a residência da aristocrata Olívia Guedes Penteado – tia de Yolanda Penteado, que será personagem importante da história cultural de São Paulo, sobre a qual falaremos adiante. 

Os articuladores

O Grupo dos Cinco do modernismo brasileiro: Anita Malfatti, Mário de Andrade, Menotti del Picchia, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral.
O Grupo dos Cinco do modernismo brasileiro: Anita Malfatti, Mário de Andrade, Menotti del Picchia, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. (Wikimedia Commons/Divulgação)

Em 1917, a pintora Anita Malfatti, que acabara de retornar ao Brasil após um período em Berlim e Nova York, toma contato com Di Cavalcanti. O pintor carioca, à época, vivia em São Paulo e convenceu-a a organizar uma mostra com seus quadros. Suas obras como “A mulher de cabelos verdes” destoavam do academicismo, a linguagem tradicional da pintura brasileira desde a época do Império. E fora bem recebida pelos compradores. Anita, naquela ocasião, vendeu oito quadros. Dias depois, seria massacrada pelo escritor Monteiro Lobato nas páginas do “Estadão”, então o jornal mais influente da capital. 

Foi Di também quem aproximou Anita de Oswald de Andrade – autor do “Manifesto Antropofágico” – e colocou em contato grupos de intelectuais e artistas de São Paulo e do Rio – como o poeta Manuel Bandeira. 

Um pouco antes da exposição de Anita, Oswald já havia conhecido e estreitado relações com Mário de Andrade, então professor de Estética e de História da Música e já cansado dos “versos bem comportados” da poesia da época.  

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A eles, juntaram-se também o poeta Menotti del Picchia e o escultor Victor Brecheret – descoberto “numa sala do ainda inacabado Palácio das Indústrias”, segundo Toledo. A pintora Tarsila do Amaral, à época em Paris, não participou da Semana de 1922, mas se juntaria ao grupo posteriormente, casada com Oswald, e se tornaria mais um de seus símbolos. 

As articulações não se davam apenas no campo cultural, mas também no campo econômico e político. E, para isso, foi providencial o apoio do então governador do Estado, Washington Luís – que viria a ser o último presidente da República Velha, encerrada com a Revolução de 1930. 

A história reservaria à Semana de 1922 um lugar de maior destaque do que ela própria recebeu naqueles quatro dias de fevereiro (13 a 17), com uma programação dividida entre exposições e apresentações. Até hoje não se sabe se as vaias à Oswald de Andrade, ao ler um trecho de seu romance “Os condenados”, foram ou não fruto de armação – pelo sim, pelo não, irritaram Mário de Andrade. O compositor Heitor Villa Lobos – artista pago para apresentar-se – também foi vaiado – por estar de chinelos (em razão de um problema de gota). Mas não se importou – já esperava por isso. 

Fato é que as vaias tiraram da Semana de 1922 o ar de “salão” e ajudaram na sua notoriedade. 

Legado

Um dos nomes mais importantes que participaram da Semana de Arte Moderna foi Mário de Andrade. O poeta é considerado um dos fundadores do modernismo brasileiro - o livro Paulicéia Desvairava, lançado em 1922, exerceu uma enorme influência nos poetas brasileiros.
Um dos nomes mais importantes que participaram da Semana de Arte Moderna foi Mário de Andrade. O poeta é considerado um dos fundadores do modernismo brasileiro – o livro Paulicéia Desvairava, lançado em 1922, exerceu uma enorme influência nos poetas brasileiros. (Wikimedia Commons/Divulgação)
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Não devemos, no entanto, entender a importância histórica de 1922 como restrita àqueles quatro dias. A Semana de 22, na verdade, é o início de um processo de modernização cultural de uma cidade e um Brasil que se urbanizava, industrializava e criava um Estado moderno. Parte de sua preponderância se deve ao fato de São Paulo ter-se tornado o estado mais rico do país. Não podemos ignorar que, à época, havia uma série de outros movimentos e novas linguagens surgindo em vários campos da cultura brasileira – e assim continuaria ao longo de todo o século 20. 

São filhos da Semana de 22, o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), em 1947; o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), em 1948; e a Bienal de São Paulo, inaugurada em 1951 – foi a segunda Bienal de artes do mundo, depois de Veneza. Outros movimentos, como o concretista, também nascem desse processo. Yolanda Penteado, sobre quem falamos no começo do texto, apoiou o empresário Assis Chateaubriand na criação do MASP e foi uma das articuladoras da primeira Bienal. Ela também doou parte de seu acervo pessoal ao Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC USP). 

Esse levante cultural paulista se completaria em 1954, nos festejos do quarto centenário da cidade, que já não ficava nada a dever às capitais com as quais concorria na América do Sul: Rio de Janeiro e Buenos Aires. 

Como cai nos vestibulares

Quado
Tarsila do Amaral não participou da Semana de Arte Moderna de 1922, pois estava estudando na Europa. A artista voltou ao país em abril de 1922, período em que criou o “Grupo dos Cinco”, junto com Mário e Oswald de Andrade, Anita e Menotti del Picchia (1892-1945). Tarsila é autora de Abaporu (aba: homem; poru: que come carne humana, em tupi-guarani) e Operários, dentre tantas outras obras-primas (Wikimedia Commons/Divulgação)

 A Semana de Arte Moderna de 1922 é constantemente relacionada como o marco inicial da primeira geração do modernismo (1922-1930). Nesse período do modernismo, seus expoentes máximos são Mário de Andrade (1893-1945) e Oswald de Andrade (1890-1954). Tida como iconoclasta, a primeira geração do modernismo caracterizou-se pela negação do passado, pelo caráter destrutivo de suas propostas, pelo nacionalismo e pela valorização do cotidiano como matéria prima da Literatura. A redescoberta da realidade brasileira e do coloquialismo também marcam sua produção.

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Fontes consultadas 

 A capital da vertigem: uma história de São Paulo de 1900 a 1954 (Objetiva, 2015), Roberto Pompeu de Toledo 

Metrópole à beira-mar: o Rio moderno dos anos 1920 (Companhia das Letras, 2019), Ruy Castro 

Yolanda (A Girafa, 2004), Antonio Bivar 

Chatô, o rei do Brasil (Companhia das Letras), Fernando Morais 

Entrevista do poeta e crítico Décio Pignatari ao Provocações (TV Cultura), com Antonio Abujamra 

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