Sabes, ao menos, de quem és nascido?” A pergunta que o cego vidente Tirésias faz a Édipo, rei de Tebas, é a síntese de Édipo Rei, de Sófocles (496-406 a.C.), um dos fundadores da tragédia grega, ao lado de Ésquilo (525-456 a.C.) e de Eurípedes (480-406 a.C.). A história do homem que, sem saber, mata o pai e casa-se com a mãe teve diversas versões e larga influência sobre a literatura, chegando ao século 20 na esteira da teoria da psicanálise, criada por Sigmund Freud (1856-1939).
A versão de Sófocles contida na trilogia que abrange Antígona, Édipo Rei e Édipo em Colono conforma-se ao gênero da tragédia, descrita na Poética de Aristóteles como “imitação de uma ação de caráter elevado, completa e de certa extensão, em linguagem ornamentada […] não por narrativa, mas mediante atores, e que, suscitando o terror e piedade, tem por efeito a purificação dessas emoções”.
Essa purificação por meio do terror e da piedade, chamada de catarse, é um dos princípios aristotélicos da tragédia, que também deve obedecer a uma unidade de espaço e de tempo (“a tragédia procura caber dentro de um período do sol, ou pouco excedê-lo”, disse o filósofo). O enredo é em geral denunciado no prólogo e baseia-se em algum mito largamente conhecido. Encenadas em geral por uma dupla ou trio de atores, as tragédias clássicas também empregam o coro, que comenta a ação em belas digressões líricas.
Enquanto Ésquilo foi responsável por elevar de um a dois o número de atores e de diminuir o papel do coro, Sófocles introduziu a presença do terceiro ator e do cenário. Ele dá menos relevo às questões religiosas que Ésquilo, tendo sabido moldar “figuras humanas de carne e osso, repletas das paixões mais violentas e dos sentimentos mais ternos, de grandeza heróica e altiva e de autêntica humanidade, tão semelhantes a nós e ao mesmo tempo dotadas de tão alta nobreza”, como observou o filólogo alemão Werner Jaeguer.
Sófocles foi um autor alinhado com o espírito da chamada era de Péricles, tempo da razão, da democracia e das artes e de um novo espírito na educação nacional grega, superando a oposição entre a cultura dos nobres e a vida do povo.
A ação de Édipo Rei tem início com o protagonista já rei de Tebas e casado com Jocasta, a mãe que ele desconhece. Uma praga assola o reino. Segundo o Oráculo de Delfos, ela só será debelada com a expulsão do assassino de Laio, o rei anterior. O soberano empreende uma busca pelo criminoso até que o vidente cego Tirésias revela que o assassino de Laio é o próprio Édipo. O rei não acredita em Tirésias e o acusa de conspiração. Jocasta aconselha-o a não acreditar em profecias, pois o Oráculo já se enganara antes, quando previra que Laio, seu primeiro marido, morreria pelas mãos do próprio filho, quando na realidade ele fora assassinado por bandidos.
Édipo então se recorda de que, durante sua viagem de Corinto a Tebas, na época da morte de Laio, havia matado um ancião e seus servos, que lhe interpelaram no caminho. Essa lembrança, aliada à revelação de um emissário de Corinto de que ele não era filho dos reis daquela cidade, conduz ao horrível reconhecimento. Édipo matara o pai Laio e desposara Jocasta, sua mãe. Jocasta suicida-se. O rei fura os olhos e abandona Tebas.
Com essa temática universal, Édipo Rei atravessou os séculos e alcançou uma nova interpretação quando Freud a empregou em sua teoria sobre a formação do inconsciente, particularmente no que se refere à relação com a mãe. Segundo Otto Maria Carpeaux, a obra “comove profundamente os homens de todos os tempos e de todas as raças porque os crimes de Édipo são uma possibilidade escondida no nosso inconsciente”.
Título: Édipo Rei
Autor: Sófocles
Esse texto faz parte do especial “100 Livros Essenciais da Literatura Mundial”, publicado em 2009 pela revista Bravo!
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