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Quem foi Pagu, ícone modernista e homenageada da Flip 2023

Patrícia Galvão atuou como poeta, escritora, desenhista e ativista comunista - e foi presa 23 vezes. Não à toa, chocou o Brasil no começo do século XX

Por Karolina Monte
Atualizado em 26 set 2023, 16h11 - Publicado em 30 ago 2023, 15h10

Patrícia Rehder Galvão, a Pagu, vai além do que o senso comum pensa dela. Para além de mera esposa de Oswald de Andrade, Pagu também foi escritora, jornalista, poeta, militante política e feminista, o que a levou vinte e três vezes para a prisão – e, de quebra, um dos maiores nomes do movimento modernista no Brasil.

Nascida em 9 de junho de 1910, na cidade de São João da Boa Vista, Pagu mudou-se com os pais para a cidade de São Paulo quando ainda tinha dois anos de idade. Seguindo os passos do pai jornalista, Zazá (seu apelido de infância) conseguiu seu primeiro emprego aos quinze anos, como redatora de críticas ao governo e às injustiças sociais para o Brás Jornal, sob o pseudônimo de Patsy.

+ Tudo sobre a Semana de Arte Moderna de 1922

Pagu também foi um símbolo da irreverência e do afrontamento feminino: fumava e bebia sem pudor, relacionava-se com homens sem se casar com nenhum, era ativa nas lutas sociais da época.

Em 1928, aos 18 anos de idade, completou os estudos na Escola Normal e logo em seguida se juntou ao Movimento Antropofágico, idealizado principalmente pelo casal Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. Ainda no mesmo ano, ganhou seu apelido mais conhecido, “Pagu”. O nome apareceu por causa de um erro do poeta Raul Bopp, que escreveu um poema pensando que o nome da escritora fosse Patrícia Goulart, e inventando, assim, essa abreviação.

Coco de Pagu - Raul Bopp

Pagu tem os olhos moles
uns olhos de fazer doer.
Bate-côco quando passa.
Coração pega a bater.

Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer.

Passa e me puxa com os olhos
provocantissimamente.
Mexe-mexe bamboleia
pra mexer com toda a gente.

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Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer.

Toda a gente fica olhando
o seu corpinho de vai-e-vem
umbilical e molengo
de não-sei-o-que-é-que-tem.

Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer.

Quero porque te quero
Nas formas do bem-querer.
Querzinho de ficar junto
que é bom de fazer doer.

Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer.

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Publicado em diversos jornais e revistas, o poema tornou Pagu famosa nos meios artísticos, políticos e sociais e acabou até virando canção. Produzida pela cantora Laura Sanchez, a música de 1929 também se tornou um sucesso, graças à radiodifusão da época.

Ainda no mesmo ano, Pagu começou a publicar seus desenhos na Revista de Antropofagia, publicação que existiu entre 1928 e 1929, ligada ao movimento modernista.

Vinte e três prisões

No ano de 1929, o escritor Oswald de Andrade anunciou sua separação de Tarsila do Amaral, e logo em seguida apareceu em público com Pagu. A troca chocou a população, mas principalmente a comunidade artística.

+ Quem foi Tarsila do Amaral e qual sua importância para a arte brasileira

Pagu e Oswald tornaram-se, juntos, militantes do partido comunista, o PCB (Partido Comunista do Brasil, na época). A escritora era combativa e destemida: em 1930 participou de um incêndio no bairro do Cambuci, na cidade de São Paulo, em um protesto contra o Governo Provisório de Getúlio Vargas e foi a primeira presa política feminina do Brasil, ao ser detida na cidade de Santos depois de participar de uma greve de estivadores da região. Ao longo de sua vida, Pagu seria presa vinte e três vezes por causa de suas participações em atos políticos.

Em 1935, Pagu foi presa em Paris com documentos falsificados e enviada de volta para o Brasil

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+ Por que o brasileiro tem tanto medo do comunismo?

Pagu e a Literatura

Desde os quinze anos de idade, Pagu já publicava protestos e artigos de opinião e logo cedo também aprendeu a utilizar pseudônimos para suas publicações, a fim de escapar da censura ditatorial da época, .

Em 1933, publicou o livro “Parque Industrial“, sob o pseudônimo de Mara Lobo, um romance proletário que entrou para os radares da censura da época. Pagu também foi responsável por traduzir autores estrangeiros de grande renome, como James Joyce e Octavio Paz. Além disso, escreveu contos policiais sob o pseudônimo de King Shelter.

Em 1940, a artista e ativista política, após retornar de Paris e sair da prisão, rompeu com o PCB e se aliou ao movimento trotskista. Também voltou a atuar como jornalista. No mesmo ano, rompeu definitivamente com Oswald de Andrade, e no ano seguinte se casou com Geraldo Ferraz.

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Em 1950, entrou para a Escola de Arte Dramática, adentrando o universo do teatro. Também tentou entrar para a política, candidatando-se para deputada estadual. Ao longo de todo esse tempo, nunca deixou de publicar contos e romances.

Em 1960, Pagu se mudou novamente para Paris com o marido e os filhos para realizar um tratamento contra um câncer de pulmão – infelizmente, mal-sucedido. Ela morreu no ano de 1962, aos 52 anos, na cidade de Santos.

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Repertório Cultural
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