“Retrato de Marie-Thérèse Walter”: análise da obra de Pablo Picasso
Obra assenta os pilares do "estilo Picasso", marcado pela dissociação cubista da perspectiva, o subjetivismo e a simbologia infantil
Uma jovem sai das Galerias Lafayette, em Paris. Um homem toca seu braço e lança o convite: é pintor e deseja que ela pose para alguns retratos. O homem é Pablo Picasso e o ano, 1927. A garota se chama Marie-Thérèse Walter, tem 17 anos, cabelos loiros e vive no subúrbio da cidade. Dias depois, passará a frequentar o ateliê do artista e se tornará sua musa e amante. Mais uma delas.
Quando viu Marie-Thérèse pela primeira vez, Picasso estava com 45 anos e era casado com a bailarina Olga Khokhlova. A relação, no entanto, já agonizava e se expressava na forma de criaturas ameaçadoras. Olga, antes retratada com os requintes da pintura clássica, aparecia agora como uma mulher deformada, cruel e sufocante.
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Ainda assim, o romance com Marie-Thérèse tinha ares de secreto e encontrou no castelo de Boisgeloup, a 80 quilômetros de Paris, comprado pelo pintor em 1930, seu melhor cenário. Picasso transformou os aposentos da propriedade num grande ateliê. Ocupou-se de preenchê-lo não apenas com uma série de grandes esculturas e quadros inspirados em sua jovem modelo.
Segundo a biógrafa Antonina Valletin, Picasso declarara que a cabeça tão solidamente construída, com a aresta larga do nariz, o corpo firme e esguio de Marie-Thérèse prestavam-se particularmente bem a uma interpretação escultural. Tudo era tão favorável à volta de Picasso, e tão pronto a afirmar-se, que “o florescimento do seu domínio plástico parece um desabrochar espontâneo”, pontua a biógrafa. Na década de 1930, a produção do pintor é marcada pela recorrência de temas explicitamente eróticos e sensuais. É também quando se assentam e são aperfeiçoados os pilares que caracterizariam o chamado “estilo Picasso”, isto é, a dissociação cubista da perspectiva, a reprodução subjetiva do real e a simbologia infantil. Tais aspectos se notam no Retrato de Marie-Thérèse Walter (1937), às vésperas do aparecimento de uma nova personagem.
“Ela havia tirado as luvas e pegou uma comprida faca de ponta que fincava na mesa, entre os dedos abertos. De tempos em tempos, errava o alvo por milímetros e sua mão cobria-se de sangue”, contou Picasso numa entrevista. Ela era Dora Maar, mulher assídua das rodas de intelectuais surrealistas, que com sua câmera fotográfica registrou a composição de Guernica (1937).
“Decidam no tapa”, foi o que Picasso respondeu quando Marie-Thérèse e Dora se enfrentaram e o intimaram que decidisse com qual delas queria viver. “Eu gostava das duas, por motivos diferentes. De Marie-Thérèse, porque ela era doce e gentil e fazia qualquer coisa que eu pedisse. De Dora, porque era inteligente. Não me interessava tomar uma decisão”, registrou o pintor. Dora Maar assumiu, então, o posto de musa até que a estudante de artes Françoise Gillot arrebatasse novamente os sentidos de Picasso, para depois abandoná-lo. Marie-Thérèse Walter enforcou-se em 1977, aos 68 anos. Outra mulher, Jacqueline Roque, acompanhou os últimos anos de Picasso e, depois da morte do artista, suicidou-se com tiro na têmpora direita.
Retrato de Marie-Thérèse Walter / Pablo Picasso
Técnica: Óleo sobre tela
Tamanho: 100 x 81 cm
Local: Museu Picasso, Paris (França)
Esse texto faz parte do especial “100 Obras Essenciais da Pintura Mundial”, publicado em 2008 pela revista Bravo!
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