“A sociedade disciplinar de Foucault, feita de hospitais, asilos, presídios, quartéis e fábricas, não é mais a sociedade de hoje. Em seu lugar, há muito tempo, entrou uma outra sociedade, a saber, uma sociedade de academias de fitness, prédios de escritórios, bancos, aeroportos, shopping centers e laboratórios de genética. A sociedade do século XXI não é mais a sociedade disciplinar, mas uma sociedade de desempenho.”
Esse é um trecho do livro “A Sociedade do Cansaço”, do filósofo e sociólogo sul-coreano Byung-Chul Han. Talvez você já tenha ouvido falar da obra em si ou do termo utilizado no título, que se popularizou e conversa com uma série de problemas sociais enfrentados atualmente.
Entenda sobre o que fala o livro e por que, para Chul Han, a sociedade está adoecendo cada vez mais.
Sobre o que fala “A Sociedade do Cansaço”?
Publicado em 2010, esse ensaio tem como ideia central fazer uma reflexão sobre os desafios enfrentados pela sociedade contemporânea principalmente por causa de fatores como o excesso de positividade, a supervalorização da produtividade, a cultura da meritocracia e a hiperconexão por meio da tecnologia e das redes sociais.
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No século 20, o pensador Michel Foucault criou o conceito de sociedade disciplinar para descrever como o controle das pessoas, na época, era feito por meio da repressão, das regras e da proibição. Han defende que esse modo de funcionamento social foi substituído pela sociedade do desempenho. Nesse caso, os indivíduos se submetem às demandas de produtividade de forma voluntária.
A autocobrança por mais resultados, mais entrega, mais trabalho e mais eficiência, faz com que o objetivo de vida das pessoas se torne o sucesso, mesmo que isso coloque o bem-estar individual em xeque.
Sabe aquele discurso motivacional, os livros de autoajuda, os coaches e as palestras sobre “como alcançar tudo o que você deseja”? É como se fossem os sintomas dessa sociedade.
Exaustão
Com toda essa dedicação à produtividade e busca incessante por sucesso, as pessoas se sentem esgotadas e sobrecarregadas na maior parte do tempo. A pressão, interna e externa, de estar sempre performando é constante e, nesse contexto, a exaustão se torna crônica.
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O impacto da tecnologia
Outro tema abordado pelo livro é como a tecnologia, especialmente as redes sociais, têm um impacto na cultura do cansaço. A exposição constante às demandas digitais e a pressão para manter uma presença online geram uma sensação de sobrecarga, esgotamento e vazio.
É preciso estar conectado o tempo todo, há uma cobrança de responder mensagens instantaneamente e não basta se fazer presente em apenas uma plataforma – elas se multiplicam com frequência e é necessário estar atualizado.
Os prejuízos à saúde mental
Quem paga a conta por isso tudo é a saúde mental. Não é de se estranhar que tenha ocorrido uma explosão de casos de doenças como depressão, ansiedade e burnout.
Afinal, em uma sociedade em que o trabalho constante é valorizado não sobra tempo para atividades de lazer e bem-estar. Tudo precisa estar relacionado a um propósito maior de ser cada vez mais bem-sucedido.
Lidando com o ócio
Se o excesso de tarefas é o que adoece a sociedade, qual seria o antídoto? O autor destaca a importância do ócio e do silêncio para curar os indivíduos da cultura do cansaço.
Desconectar-se, descansar e ter tempo para refletir seriam alternativas para a pressão constante de estar – e se mostrar – sempre produtivo.
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