A última vez que eu havia feito o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi em 2005. Na época, a prova tinha 63 perguntas, não funcionava como processo seletivo – algumas universidades, no máximo, permitiam que ela rendesse alguns pontos como bônus – e a redação não era obrigatória. Encarar as 180 perguntas desse formato atual foi um desafio e tanto. Mas também me ajudou a chegar a algumas conclusões úteis, que compartilho agora com vocês.
1. Pode parecer bobagem, mas um bom planejamento é essencial
Como eu estava fazendo o Enem só como exercício jornalístico, não me preocupei muito com a preparação para os dias de prova. Só agendei o carro que me levaria até o local e programei uma folga para poder descansar na sexta-feira, já que havia trabalhado no feriado. Achei que isso bastaria, mas estava enganada. Olha a minha falta de noção: em vez de ir para a cama cedo na sexta-feira, fiquei até tarde em um café com amigos (pelo menos fui prudente e não tomei nada alcoólico!) e não só fui dormir tarde, mas também não tive tempo de comprar comida para o café da manhã e para beliscar durante a prova.
Resultado: acordei bem mais tarde do que deveria e fiquei andando pelo bairro em busca de um lugar que tivesse algo ao mesmo tempo leve e que me sustentasse até o fim da tarde, já que não teria tempo de almoçar – o carro me buscaria às 11h para que eu pudesse produzir algum material para o Guia do Estudante antes de começar o exame. Seguindo uma dica que já havia publicado antes, tomei um copo enorme de suco de açaí e isso foi uma ótima decisão para me dar energia. Recomendo!
É claro que eu também havia me esquecido de comprar canetas pretas de material transparente, mas uma coisa muito estranha aconteceu: no sábado de manhã, encontrei TRÊS canetas assim na minha mochila, misteriosamente. Até agora não faço ideia de como elas foram parar ali. Mas o importante é que deu tudo certo! Conclusão: não façam como eu e deixem tudo preparadinho para os dias de prova. E durmam cedo!
2. Começar a prova pela matéria que você mais domina funciona mesmo
Minha prova de sábado já começou com Ciências Humanas, e eu achei isso ótimo porque é a área em que vou melhor. Começar por ali fez toda a diferença: pude resolver as questões com rapidez e isso me deu mais tempo e confiança para encarar o caderno de Ciências da Natureza. Saber que já havia resolvido metade da prova rapidinho me deu mais tranquilidade. Imagine se eu tivesse feito o oposto: começando com questões que achasse difíceis e demoradas, poderia me cansar rapidamente e teria mais dificuldade em me concentrar sabendo que ainda teria uma prova inteira pela frente. Quando finalmente chegasse às questões que dominava, correria o risco de estar cansada e insegura e meu desempenho poderia ser prejudicado justamente onde deveria me sair melhor.
3. Desapegar é importante
Na Fuvest 2015 (que eu fiz querendo uma vaga na USP de verdade, e consegui), uma coisa bem besta me atrapalhou: apesar de começar pelas matérias em que me dava melhor, eu perdi um tempão relendo e conferindo tudo e tentando resolver aquelas que eram mais complicadinhas. Quando cheguei às matérias mais difíceis para mim, tinha pouco tempo e foi aquela correria horrorosa. No Enem, segui a dica que um professor deu durante uma transmissão que fizemos no Guia do Estudante: desapegar. Respondeu a questão? Passa para a próxima logo. Não sabe resolver? Pula e volta depois. A gente tem um tempo limitado, e precisa usá-lo de um jeito inteligente. E desapegar é fundamental para isso.
4. O Enem tem umas perguntas meio safadas
Eu tenho formação em Comunicação e minha vivência se baseia toda nisso, então achei que a prova de Linguagens seria moleza. Mas não foi bem assim, não – e professores concordaram que elas não estavam fáceis. Os textos eram densos, e em muitos casos não bastava lê-los para conseguir responder facilmente as questões. Algumas vezes passei os olhos pelas alternativas e concluí que todas elas estavam certas, já que o texto-base mencionava todos aqueles pontos, ou então que todas estavam erradas. Isso porque o segredo estava em algum detalhe da pergunta, que pedia algo específico, ou em alguma palavra que havia passado despercebida nas alternativas.
Para lidar com isso, logo vi que é essencial fazer uso da sua caneta-preta-de-material-transparente. Grife ou circule os termos mais importantes da pergunta e do texto de apoio, e preste atenção à fonte de onde ele foi tirado – algo especialmente útil na prova de Ciências Humanas, pois às vezes o excerto vinha de um livro cujo título já contribuía para explicitar de que tratava a questão.
E vou aproveitar para dar outra dica: deixe para preencher o gabarito no fim. Algumas perguntas tratam de temas parecidos ou complementares, e você pode ter uns momentos de iluminação enquanto resolve outra questão.
5. Provas como o Enem exigem um senso crítico desenvolvido
O Enem cobra conhecimentos específicos de cada matéria, mas eles definitivamente não vêm de decoreba. Fiquei impressionada em ver como a prova cobrava um senso crítico do candidato – as perguntas exigem que você pense e entenda o mundo de uma forma mais ativa em vez de simplesmente acessar dados gravados no seu cérebro. Daí a importância de ler muito, e ler sobre assuntos diversos de várias fontes diferentes. E discutir sobre isso com seus amigos. Não tenha medo de trocar ideia com pessoas que pensem diferente de você. Converse com a intenção de entender seu ponto de vista – e de expor o seu. Isso enriquece nossos conhecimentos e também a nossa linguagem!
Quatro coisas não tão úteis que aprendi fazendo o Enem
(Já fiz esse subtítulo para ninguém reclamar que falei coisa besta, hein)
1. O primeiro dia do Enem não é tão cansativo quanto eu esperava, mas o segundo é bem mais complicado do que eu pensei
Como vocês conseguem responder 45 questões de linguagem, 45 de matemática e ainda escrever uma redação depois de ter respondido outras 90 questões no dia anterior??? #RESPECT
2. Assistir aos atrasados do Enem virou um evento bizarro
No meu local de prova tinha uma galera esperando com cadeirinha de praia e, de dentro da sala, nós podíamos ouvir gritos e cantos como os de torcida de futebol. Achei meio triste (mais para quem estava ali esperando pelos atrasados do que por quem se atrasou).
3. Eu me senti meio boba carregando minha sacolinha com o lanche, mas vi que todo mundo estava carregando uma
Dava para reconhecer quem estava indo fazer o Enem por causa da sacolinha. Achei fofa essa irmandade da sacolinha. Viva a sacolinha.
4. Os memes do #AprendinoEnem são realmente engraçados para quem fez a prova
Parabéns aos envolvidos, você são verdadeiros gênios.