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Análise: redação nota 1000 no Enem citou ‘Vidas Secas’ e documento da ONU

Professora de redação analisa caminhos textuais escolhidos pela candidata nota máxima no Enem

Por Luccas Diaz
26 abr 2022, 19h02
Filme "Vidas Secas"
Filme de Nelson Pereira dos Santos, que adaptou o romance de Graciliano Ramos para o cinema (Divulgação/Divulgação)
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No Enem 2021, apenas 22 candidatos conseguiram a nota máxima na prova de redação. Um deles foi a candidata Rafella Frutuoso Barbosa, 23, de Macaé (RJ). Sobre o tema proposto de “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”, a estudante redigiu um texto de quatro parágrafos no gênero dissertação argumentativa.

Como referências, Rafaella traz a Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento feito pela ONU em 1948, e a obra clássica da literatura brasileira Vidas Secas, do autor Graciliano Ramos.

Para analisar os caminhos e escolhas textuais da estudante utilizados em cada parágrafo, o GUIA DO ESTUDANTE convidou Andréa Godoy, professora de redação do colégio Anglo Chácara Santo Antônio, em São Paulo (SP).

Redação Nota 1000 - Rafella Frutuoso
(Rafaella Frutuoso Barbosa/Reprodução)

Introdução

A Declaração Universal dos Direitos Humanos busca garantir a todos os cidadãos pleno acesso aos direitos básicos, como saúde e educação, além de preservar a integridade e dignidade da pessoa humana. Entretanto, tais garantias são negligenciadas quando indivíduos não conseguem obter o registro civil, documento que garante acesso à cidadania no Brasil e previne a invisibilidade social. Dessa forma, a ausência desse documento causa a marginalização do povo e impede a ascensão social das brasileiros. 

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A introdução tem a função de fazer a apresentação do texto para o leitor. Pensando nisso o texto da candidata é bastante eficiente nesse intuito. Isso porque ela inicia o texto contextualizando a partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que foi organizada pela ONU no período do pós-Segundo Guerra Mundial. E apesar de ser um documento muito citado, sua importância só cresce. Principalmente em períodos de grandes conflitos. Vale lembrar que mesmo antes da crise da Ucrânia, o mundo já observava vários embates importantes e de difícil resolução. Além disso, a escolha da carta da ONU abre a discussão para a nossa realidade. Já que a declaração de 1948 é a base dos pilares da nossa constituição de 1988 – documento este que será utilizado no desenvolvimento do texto, o que torna a contextualização bastante produtiva para a discussão. Além, é claro, de já apresentar um bom repertório de outras áreas do conhecimento, algo fundamental para a prova do Enem. Ainda na introdução é importante ressaltar a apresentação do tema e da tese que foi feito com clareza e precisão. O que demonstra que a candidata elaborou um bom projeto de texto. Como tese, ela apresenta que a falta do registro civil causa a marginalização e impede a ascensão social dos brasileiros.

Desenvolvimento 1

Deve-se destacar, primeiramente, que a falta da certidão de nascimento gera a marginalização do corpo social. Nesse sentido, a obra “Vidas Secas”, do autor Graciliano Ramos, retrata a vida de indivíduos que, por não possuírem registro civil, não possuem nomes próprios, não conseguem acesso aos direitos mais básicos, como moradia e alimentação, e são submetidos à situação análoga à escravidão. Desse modo, quando cidadãos não têm acesso a esse documento, são excluídos da sociedade e não conseguem recorrer às autoridades estatais para a defesa de seus direitos, visto que, para isso, necessitam de documentos oficiais. Logo, comprova-se que a ausência desse registro causa a marginalização de indivíduos no Brasil. 

Para trabalhar a marginalização, a candidata escolheu a obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos, que retrata a vida de uma família de retirantes que sofrem um processo de desumanização. Este conceito faz relação direta com a ideia de invisibilidade proposta pelo tema. A partir dessa relação, a candidata parte para a problematização da questão, mostrando como esse processo é responsável pela marginalização dessa população

Desenvolvimento 2

Além disso, a falta dessa certificação civil impede a ascensão social dos brasileiros. Sob essa perspectiva, a Constituição Federal Brasileira garante, em seu 6º artigo, que todo cidadão tem direito de acesso à saúde, à educação, ao trabalho, à moradia, entre outros, objetivando assegurar não só os direitos básicos, como também a possibilidade de ascender socialmente. Contudo, quando uma pessoa não consegue obter esse documento, todas as suas garantias fundamentais são negligenciadas, impedindo que esse cidadão frequente a escola, obtenha registro trabalhista, acesse a universidade e alcance bons salários e alto nível de instrução profissional. Com isso, a ausência da certidão de nascimento impede a ascensão social dos brasileiros.

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No segundo parágrafo argumentativo, ela trata da impossibilidade de ascensão causada pela ausência dos documentos oficiais. Ideia também apresentada já na introdução. Como repertório para introduzir a questão, ela cita aspectos gerais do artigo sexto da Constituição Federal de 1988. É algo que fixa a discussão no campo legal, mostrando que se tratam de direitos já garantidos pela constituição. Isso deixa claro a negligência que existe na concessão de direitos que impedem o pleno exercício da cidadania – impossibilitando, dessa forma, a ascensão social. É importante ressaltar que no final de cada parágrafo, Rafaela termina retomando elementos da tese. Isso faz com que o texto fique bastante coerente e coeso.

Conclusão

Portanto, para mitigar a invisibilidade causada pela inexistência do registro civil e garantir o acesso à cidadania, cabe ao Governo Federal ampliar as formas de obter a certidão de nascimento, por meio da criação de pontos de registro civil em prédios públicos – como escolas e hospitais –, a fim de facilitar e ampliar a obtenção desse documento. Ademais, as Organizações não Governamentais – instituições sem fins lucrativos, que buscam defender uma causa – devem organizar movimentos para cadastro civil, nas quais conduzirão a população até o cartório mais próximo, para que se reduza o número de brasileiros não registrados. Assim, o propósito principal da Declaração Universal dos Direitos Humanos será realidade no Brasil.

Para a proposta de intervenção, a ação escolhida pela candidata é a facilitação da obtenção do registro civil. Como agentes, ela apresenta a necessidade da coordenação do governo federal para a abertura de mais espaços para obtenção do documento. E ainda sinaliza a possibilidade da ação de ONGs que poderiam ajudar na condução dessa população a esses espaços. Para finalizar, ela apresenta a finalidade da ação e retoma a Declaração Universal dos Direitos Humanos encerrando assim o texto. A princípio, a ação escolhida pela candidata pode parecer simples, mas, na verdade, ela é muito pertinente e eficaz dentro do tema e da argumentação feita pela candidata, se tornando excelente.

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